BANCA MOSTRA BOM PODER DE RESISTÊNCIA
Os bancos angolanos registaram um crescimento de 55% no resultado líquido total em 2016, de 174 mil milhões de kwanzas (887 milhões de euros), mas o crédito vencido atingiu os 2.000 milhões de euros. O indicador do rácio do crédito vencido, equivalente a 398 mil milhões de kwanzas (2.000 milhões de euros, à taxa de câmbio actual), consta da 12ª edição da publicação Banca em Análise, apresentada no dia 19.10 em Luanda, no qual a consultora internacional Deloitte analisa os resultados dos relatórios e contas apresentados publicamente por mais de duas dezenas de bancos que operam em Angola. O crédito líquido a clientes aumentou 12% face a 2015, chegando, no conjunto dos bancos analisados, aos 3,062 biliões de kwanzas (15,6 mil milhões de euros), valor que segundo a Deloitte já incorpora o efeito da valorização dos créditos concedidos em moeda estrangeira ao câmbio oficial. Além disso, o estudo – que não levou em conta os dados do Banco Económico, que resultou da resolução do Banco Espírito Santo Angola (BESA) – demonstra que o reconhecimento de perdas para o crédito dos bancos aumentou cerca de 0,4%. Apesar de rácio do crédito vencido na banca angolana continuar nos 13% (sobre o crédito total concedido) tal como a análise feita em 2015, o valor absoluto cresceu em 2016, tendo em conta o aumento do total de crédito concedido. Em 2015, a banca angolana, se- gundo a 11ª edição do estudo da Deloitte, tinha 355,6 mil milhões de kwanzas (1,8 mil milhões de euros, à taxa de câmbio actual) em crédito vencido. “Há países com índices mais elevados, mas este número fala por si. É de facto um pouco elevado”, admitiu José Barata, líder do sector financeiro da Deloitte em Angola. O desafio, apontou, passa por uma gestão da banca angolana que “tem de ser feita de forma integrada”, com uma “preocupação contínua” na qualidade da carteira de crédito. Em 2016, o volume de activos agregado das instituições financeiras angolanas incluídas na análise da Deloitte fixou-se nos 8,702 biliões de kwanzas (44,3 mil milhões de euros), mantendo-se o estatal Banco de Poupança e Crédito (BPC), em processo de sa- neamento face ao elevado volume de crédito malparado, na liderança, com um activo total de 1,691 biliões de kwanzas (8,6 mil milhões de euros). Juntamente com o BPC, o Banco Angolano de Investimentos (BAI), o Banco Fomento Angola (BFA), o Banco Internacional de Crédito (BIC) e o Banco Millennium Atlântico formam o grupo das cinco principais instituições financeiras angolanas, representando 73% do total do activo dos bancos analisados pela Deloitte, que no conjunto cresceu 23% face ao ano anterior. Num cenário de crise económica e financeira que se mantém, devido à quebra nas receitas petrolíferas desde finais de 2014, Duarte Galhardas, presidente da Deloitte em Angola, aponta que o sector bancário angolano voltou a de- monstrar, no último ano, “um elevado grau de resiliência”. “Conseguiu alcançar um desempenho positivo, sendo de destacar o reforço dos fundos próprios dos bancos, que registaram um aumento de cerca de 26% face a 2015”, salientou. A apresentação deste estudo contou com a presença do economista português e antigo ministro das Finanças de Portugal Jorge Braga de Macedo. De acordo com a 12ª edição do estudo Banca em Análise, o peso dos depósitos em moeda nacional manteve a sua tendência de crescimento em 2016, em detrimento da moeda estrangeira, passando a representar 67% dos depósitos totais, que somaram 7,043 biliões de kwanzas (35,8 mil milhões de euros), um crescimento de 16% face a 2015.