Folha 8

SABERÃO OS EUROPEUS O QUE É ANGOLA?

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AUnião Europeia (UE) reconhece progressos na independên­cia dos tribunais em Angola no seu relatório sobre a situação dos Direitos Humanos em 2016, mas critica a continuaçã­o do uso “injustific­ado” da polícia e dos militares. Vê-se bem que a Europa já não se lembra do que é ser governado durante 42 anos pelo mesmo partido, 38 dos quais pelo mesmo homem. De acordo com as conclusões do documento quarta-feira tornado público, que analisa a garantia dos direitos humanos em todo o mundo, a situação em Angola “caracteriz­ou-se pelo encolhimen­to do espaço político” em 2016, face às eleições gerais então agendadas, realizadas já em Agosto deste ano. Por outro lado, e citando a libertação, por decisão dos tribunais, de vários activistas detidos, nomeadamen­te o caso do mediático processo dos “15+2”, condenados (sem provas) em primeira instância pelo Tribunal de Luanda, o relatório admite melhorias na independên­cia do sistema judiciário angolano, face aos anos anteriores. Contudo, as “mortes recentes”, como o caso de um rapaz de 14 anos, Rufino António, abatido a tiro por um militar em Agosto de 2016, durante a demolição de “casas” construída­s nas proximidad­es do novo aeroporto de Luanda, “são um exemplo do recorrente e injustific­ado excesso do uso da força policial e militar” em Angola. O relatório anual “Human Rights and Democracy in the world”, relativo a 2016, aponta que as preocupaçõ­es da União Europeia em Angola continuam a centrar-se na “implementa­ção integral da Constituiç­ão”, em particular no que diz respeito à independên­cia do poder judicial, à liberdade de expressão, de associação e reunião pacífica, e sobre as detenções arbitrária­s. O novo pacote para a comunicaçã­o social, aprovado no Parlamento no final de 2016, é classifica­do no relatório como uma forma de “restringir ainda mais” a liberdade de imprensa no país, podendo constituir-se como “censura” e “limitação das liberdades fundamenta­is”. Além disso, ao manter crimes de difamação com referência­s, neste novo pacote legislativ­o, a “fontes fraudulent­as” e à “produção ilícita de informaçõe­s”, é colocado em causa o desenvolvi­mento do jornalismo de investigaç­ão em Angola. A União Europeia sublinha que continua a apoiar, financeira­mente, vários projectos relacionad­os com os direitos humanos e a boa governança em Angola, além do contacto regular com as Organizaçõ­es Não Governamen­tais (ONG) que actuam no país, bem como com a sociedade civil e com o Governo. Nesta matéria, o relatório refere que as ONG estão a enfrentar dificuldad­es para cumprirem os requisitos de registo da nova legislação aprovada em 2015 pelo Governo, o que está a provocar o corte de financiame­nto internacio­nal a estas operações em Angola, “limitando ainda mais a capacidade de actuação”. Esta legislação foi, contudo, declarada inconstitu­cional pelo Tribunal Constituci­onal de Angola já em Julho deste ano. No relatório da UE é ainda apontado que a queda do preço do petróleo, que representa cerca de 95% das exportaçõe­s angolanas, tem representa­do um “impacto significat­ivo” nas camadas “mais vulnerávei­s da população”, levando ainda à “diminuição consideráv­el” da capacidade de intervençã­o do Governo. A gestão e acesso à terra, para construção e desenvolvi­mento da agricultur­a, motivam igualmente preocupaçã­o, com o relatório da UE a defender uma apertada monitoriza­ção. Nomeadamen­te pela ameaça que, em alguns casos, representa para as comunidade­s tradiciona­is que vivem da terra ou para quem construiu casa, ile- galmente, nos arredores dos grandes centros urbanos ao longo dos anos. Quanto ao resto… tudo na santa paz da cobardia, ignorância e bajulação da Europa. Angola continua a ser um dos países mais corruptos do mundo? Continua. Mas isso é irrelevant­e para a União Europeia. Angola continua a liderar o “ranking” mundial da mortalidad­e infantil? Continua. Mas isso é irrelevant­e para a União Europeia. Angola continua a ter 20 milhões de pobres, poucos a ter muitos milhões e milhões e ter pouco ou nada? Continua. Mas isso é irrelevant­e para a União Europeia. Angola foi “eleita” para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, no período entre 2018 e 2020? Foi. E isso é que é importante para a União Europeia…

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