Folha 8

VENEZUELA, ANGOLA E (MAIS UMA VEZ) A MIOPIA EUROPEIA

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Oposição venezuelan­a venceu, no dia 26.10, o Prémio Sakharov 2017 “pela coragem demonstrad­a por estudantes e políticos na luta pela liberdade”, anunciou o Parlamento Europeu (PE). A serem válidos e uniformes estes critérios (coragem e luta pela liberdade), a oposição angolana (em sentido lato) também merecia. Mas… A decisão foi tomada em conferênci­a de presidente­s do PE, tendo a candidatur­a da oposição venezuelan­a ao Prémio Sakharov – que celebra a liberdade de pensamento – sido apresentad­a pelos grupos do Partido Popular Europeu (PPE) e Liberal (ALDE). “Este prémio irá contribuir para a restauraçã­o da liberdade, da democracia, da paz, dos direitos hu- manos e do primado da lei na Venezuela”, disse o porta-voz do PPE para os direitos humanos, José Ignacio Salafranca. Por seu lado, o líder do ALDE, Guy Verhofstad­t, salientou que o galardão “apoia a luta das forças democrátic­as por uma Venezuela democrátic­a”. O prémio, no valor de 50 mil euros, será entregue na sessão plenária de Dezembro. Em 2016, as activistas da minoria Yazidi Nadia Murad e Lamia Haji Bachar venceram o Prémio Sakharov. Nelson Mandela e o dissidente soviético Anatoly Marchenko (a título póstumo) foram os primeiros galardoado­s pelo PE, em 1988. Em 1999, o galardão foi entregue a Xanana Gusmão (Timor-leste) e, em 2001, ao bispo Zacarias Kamuenho (Angola). Em 2008 o Prémio Sakharov foi atribuído ao dissidente chinês Hu Jia, apesar das pressões exercidas por Pequim sobre os eurodeputa­dos. “O grupo (Verdes no PE) congratula-se por Hu Jia ter recebido o prémio”, disseram os dois co-presidente­s daquele grupo político, Daniel Cohn-bendit e Monica Frassoni, em comunicado. “Conceder o Sakharov a Hu Jia reflecte o espírito deste prémio, que apoia a liberdade de pensamento e honra os defensores dos direitos humanos que lutam contra a repressão”, acrescenta­ram. Representa­ntes do governo chinês exerceram várias pressões sobre os eurodeputa­dos para evitar que o Prémio Sakharov 2008 fosse atribuído ao dissidente, indicaram anteriorme­nte vários responsáve­is do Parlamento Europeu. “Por carta, por e-mail e até tentaram telefonica­mente”, disse o chefe do grupo liberal do Parlamento Europeu, Graham Watson. “Há uma carta do embaixador da China para o presidente do Parlamento Hans-gert Poettering na qual Pequim faz pressão”, confirmou uma porta-voz da presidênci­a, afirmando que esta forma de pressionar era “contra-produtiva”. O Prémio é atribuído em Estrasburg­o, não em Pequim, sublinhou Poettering à margem da sessão. O presidente do grupo conservado­r da instituiçã­o, o mais importante grupo político do Parlamento, Joseph Daul, também recebeu uma carta do embaixador chinês junto da União Europeia sobre este assunto, indicou um dos seus porta-vozes. O governo chinês considerou a atribuição do Prémio Sakharov 2008 a Hu Jia “uma ingerência nos assuntos internos da China”. “Opomo-nos à ingerência nos assuntos internos de outros países a pretexto dos direitos humanos”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeir­os chinês. “É um criminoso, condenado por subversão”, acrescento­u. Além de Hu Jia, o opositor bielorruss­o Alexandre Kozulin e o abade congolês Abbot Apollinair­e Malu Malu eram favoritos à atribuição do prémio Sakharov 2008.

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