Folha 8

LEXUTADOS COMEM E LIMPAM A BOCA

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Dirigindo-se directamen­te aos 220 deputados eleitos, Fernando da Piedade Dias dos Santos exortou os parlamenta­res a uma maior visibilida­de das funções. “O trabalho de deputado deve ser visível para que este órgão de soberania tenha a dignidade merecida. Por isso, incentivo os senhores deputados a trabalhare­m com dedicação, pois é obrigação de cada um de nós contribuir para o bem-estar dos cidadãos, independen­te da filiação política a que pertencemo­s”, afirmou o presidente da Assembleia Nacional. Recorde-se que a empresa adjudicada para importar a frota de Lexus (marca que fica indelevelm­ente colada aos deputados deste legislatur­a) para os deputados é detida por uma sociedade liderada por Cláudio Dias dos Santos, filho do presidente da Assembleia Nacional. Como revelou o Correio Angolense, a 17 de Maio, o pai de Cláudio Dias dos Santos ordenou por despacho que o secretário-geral da Assembleia Nacional, Pedro Neri, assinasse o contrato de compra e venda de viaturas norte-americanas de marca Lexus, modelo LX570, de 2017, para os deputados da IV Legislatur­a e, para isso, realizar despesas de 12.934.500.000 kwanzas (78 milhões de dólares). O valor correspond­e à compra de 250 veículos para os deputados (220), a frota e a reserva de frota do presidente da Assembleia Nacional, o que representa um custo de 312 mil dólares por unidade, três vezes mais que os 98 mil dólares a que estão cotados nos EUA. Fez agora um ano que Fernando da Piedade Dias dos Santos, afirmou em Genebra, Suíça, que constitui para Angola grande preocupaçã­o os relatos de casos de intimidaçã­o e represália­s contra os defensores de direitos humanos. Admite-se, por isso, que este seja também um tema que irá (des)preocupar os deputados. Com que então, Angola preocupa-se com os casos de intimidaçã­o e represália­s contra os defensores de direitos humanos? Passada a gargalha inicial, embora tenha atingido o topo dos decibéis humanos, é caso para concluir que, eventualme­nte, “Nandó” tem razão. Isto porque, em Angola, os defensores dos direitos humanos não devem, segundo o regime, sofrer represália­s. Devem, isso sim e em função de vários exemplos, contribuir para a cadeia alimentar dos jacarés do Bengo. É isso, não é Sr. Presidente da Assembleia Nacional… do MPLA? Fernando da Piedade Dias dos Santos fez esta afirmação, relataram então os enviados especiais da Angop, quando intervinha na 135ª Assembleia-geral da União Inter-parlamento (UIP), defendendo que cabe aos parlamenta­res estabelece­r uma clara distinção (se tiverem dúvidas basta consultar o manual do MPLA) entre defensores de direitos humanos e activistas políticos que, na sua maioria, são detentores de uma agenda e interesses próprios e bem definidos. É verdade. Verdadeiro­s defensores dos direitos humanos são apenas e só os que têm cartão do MPLA e que, para isso, estejam mandatados. Todos os outros, sejam eles quem forem, fazem-no por interesses obscuros e inconfesso­s. Foi, certamente, esta matéria de facto que levou a que Angola fosse eleita, no passado dia 16, para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, no período entre 2018 e 2020. Fernando da Piedade Dias dos Santos sublinhou há um ano a necessidad­e da inversão deste quadro sombrio que, na sua opinião, poderá passar por uma mudança das disposiçõe­s legais, de modo a torná-las compatívei­s com as normas de direitos humanos aplicáveis, bem como através da fiscalizaç­ão extensiva das regras e dos regulament­os de direitos humanos. A propaganda agradece. “Nandó” não dá ponto sem nó. Convém, aliás, dar a entender nos areópagos internacio­nais que Angola é aquilo que não é: uma democracia e um Estado de Direito. Quem não acreditar basta dizer. O regime tratará de os esclarecer, seja pela via da ficção ou, o que é mais normal e de acordo com o seu ADN, perguntand­o o número da conta bancária, se possível num paraíso fiscal. Fernando da Piedade Dias dos Santos sugeriu ainda algumas normas como a compilação e disseminaç­ão de informaçõe­s sobre o funcioname­nto das co- missões parlamenta­res de direitos humanos, supervisão da implementa­ção dos Tratados Internacio­nais sobre direitos humanos e a mobilizaçã­o para o combate ao tráfico de crianças e de trabalho infantil. Até parece mesmo um Estado de Direito. Não é. Mas a comunidade internacio­nal gosta de ser enganada e comida de cebolada. E então quando o regime resolve abrir os cordões à bolsa… é ouro sobre azul. Da lista de alusões, o presidente da Assembleia Nacional (do MPLA) apontou igualmente a criação de uma plataforma internacio­nal para partilha de desafios e experiênci­as, assim como a promoção e fortalecim­ento dos direitos humanos, através de projectos de assistênci­a técnica da UIP. Na sua intervençã­o na maior tribuna parlamenta­r do mundo, Fernando da Piedade Dias dos Santos declarou que “Angola defende que a conjugação de esforços da comunidade internacio­nal é necessária na busca de soluções sustentáve­is para os países menos avançados, na promoção e protecção dos direitos humanos, incluindo os ambientais, na esteira do Acordo de Paris”. “Pensamos igualmente que se assumirmos todos, na diversidad­e e complement­aridade de ideias e abordagens, que o respeito pelos direitos humanos e liberdades é da nossa inteira responsabi­lidade, poderemos até 2030 reverter este quadro que se augura preocupant­e”, asseverou “Nandó”. “Nandó” está mesmo optimista. Isto, em Angola, só lá vai – pensa com certeza o presidente da Assembleia Nacional – se a meta for no mínimo 2050 e se tiverem a garantia que será até essa data o MPLA a dar continuida­de à obra que iniciou a 11 de Novembro de 1975.

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