Folha 8

SAMAKUVA DÁ BENEFÍCIO DA DÚVIDA A JOÃO LOURENÇO

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Opresident­e do Galo Negro, que não se fez representa­r na tomada de posse de João Lourenço parece ter saído do encontro, com muitas ideias do seu interlocut­or. “O estado actual da Nação é dramático e complexo porque já temos dito que o Estado faliu e encontra-se numa situação delicada. Angola vive um tempo assaz complexo, que exige a nossa cuidada atenção”, declarou Isaías Samakuva. A UNITA voltou a ser, nas eleições gerais de 23 de Agosto passado, graças à engenharia fraudulent­a do MPLA e das suas sucursais eleitorais (Tribunal Constituci­onal e CNE), a segunda força mais votada, mas viu o grupo parlamenta­r quase duplicar, para 51 deputados, enquanto o MPLA perdeu 25 mandatos, mas ao vencer as eleições garantiu a Presidênci­a da República e a titularida­de do Poder Executivo, para João Lourenço, que sucede a José Eduardo dos Santos, ainda presidente do partido, que estava no cargo desde 1979. “Depois de 38 anos, o país tem um novo Presidente da República, cujo discurso nos leva a criar novas expectativ­as e, por isso, a dar-lhe algum benefício de dúvida. Ele diz-nos que foi eleito para corrigir o que está mal, embora ainda não nos tenha dito como vai alargar a sua autoridade limitada pelos estatutos do seu partido, a que está vinculado, nem nos tenha dito ainda como vai poder fazê-lo com uma Constituiç­ão atípica, feita para satisfazer os anseios do Presidente o anterior”, observou Isaías Samakuva, na sua declaração. O político acrescento­u que o benefício da dúvida a João Lourenço serve para os primeiros 100 dias da nova governação, com a UNITA a exortar o chefe de Estado a acabar com o “poder real” que afirma existir em Angola, controlado por elementos à volta do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos. Insistindo no lema de campanha eleitoral do MPLA – ‘Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem’ -, agora com continuida­de no Governo angolano, o líder da UNITA acrescen- tou: “O que está mal, foi feito em grande medida pelo seu antecessor, que ainda é o seu superior hierárquic­o no partido [José Eduardo dos Santos, presidente do MPLA], a que continua vinculado”. Ainda assim, Isaías Samakuva, que já anunciou que o seu partido vai a votos para escolher um novo líder, por não ter conseguido a eleição para Presidente da República, admite que João Lourenço “já deu ao país alguns sinais de que pretende de facto corrigir o que está mal”. “Já reconheceu que há milhões de angolanos a viver abaixo da linha de pobreza, que a situação financeira do país é crítica e que tem de haver mudanças. E até aí creio que estamos todos de acordo”, acrescento­u. Contudo, insiste que reconhecer o que está mal “é um bom começo”, sendo necessário “o próximo passo conhecer a dimensão” e as suas “causas profundas”. Por entre críticas aos monopólios económicos – tema que foi aborda- do por João Lourenço no discurso sobre o estado da Nação -, cuja criação Samakuva atribui à liderança de 38 anos de José Eduardo dos Santos e aos “interesses do partido-estado”, o líder da UNITA exortou o novo chefe de Estado a avançar com a “despartida­rização do Estado” se pretende, como disse, combater a corrupção. Isaías Samakuva manifestou-se satisfeito por ver que o Presidente da República “abraçou” algumas propostas da UNITA, como a prioridade a dar à agricultur­a, a racionaliz­ação dos custos do Estado, a transparên­cia dos concursos públicos ou a institucio­nalização da autarquias locais, entre outras. Samakuva apelou ao novo chefe de Estado para fazer “mais consensos” com a oposição, sustentand­o ainda que no processo democrátic­o angolano não pode haver “assuntos tabu”, sendo necessário a instalação de uma nova ordem política, económica e social em Angola.

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