RESQUÍCIOS DO ESTALINISMO AMEAÇAM ANGOLA I
No reino do Ngola, o rei José Eduardo dos Santos, JES, escolheu o seu sucessor, depois de lhe ter posto uma máscara de candidato a deputado num processo eleitoral ganho de antemão por vias travessas, um método de comprovada eficiência já utilizado nas duas anteriores eleições de 2008 e 2012. Sua Excelência falou e, só disse, «Retiro-me. O número um da lista de candidatos do MPLA, o meu sucessor, será João Lourenço”. E as cabeças e tudo quanto de eréctil tem o homo sapiens murchou. Nenhum camarada contestou, todos, sem se dar ao luxo de pensar, disseram «Amém». Assim catapultado por Sua Excelência e pelo Mpla/estado, João Lourenço (JLO), mostrou-se digno da missão que lhe foi confiada, percorreu o país todo durante 8 meses, desde Dezembro do ano passado (2016) até vésperas da campanha oficial (23.08), presidiu e apresentou o programa de governação do MPLA em todas as capitais de província e não se esqueceu de acrescentar à propaganda eleitoral do seu partido um florilégio de realizações feitas desde 2002. Todas essas obras, apresentadas como vitórias de sua Excelência e do MPLA, umas aparatosas outras insignificantes, foram alvo, na sua esmagadora maioria, diga-se a verdade, da rapacidade de agentes do partido no poder e “amigos”, que “chuparam” em alegre e total impunidade comissões de vinte, trinta por cento, por vezes muito mais em termos percentuais, sobre o preço pago pelo Estado, comissões essas que, em boa parte, estão na origem do aparecimento em Angola de milhares de milionários e de meia dúzia de bilionários ao longo dos últimos 15 anos que se seguiram ao calar das armas (cerca de 5 mil a juntar aos pouco mais de mil que havia no país em 2002). Vai de si que, por pura e pertinente estratégia eleitoral, nem com reticências e pontos de interrogação o candidato do MPLA aludiu às estradas esburacadas até aos seus fundamentos, aos hospitais a ameaçar ruir meses depois de terem sido construídos e sem médicos, sem enfermeiros e sem material gastável, às escolas e universidades sem professores competentes, aos grandiosos falhanços no que toca à distribuição de electricidade, água e saneamento básico. Dos dados lançados deste modo pelo candidato do MPLA, uma ideia-mestre invadiu a mente de muitos angolanos mais esclarecidos, «JLO foi levado a acatar “ordens superiores” e a tomar os seus desejos por realidade». Só que, tempo que passa limpa as ideias, e do que restou dos discursos publi-partidários de JLO, ao gosto de Sua Excelência, apareceu, ó surpresa!, um “Jocker” a anunciar uma nova “geração da utopia.