Folha 8

BANCO KWANZA INVEST: O BANCO DE FACHADA E O FUNDO SOBERANO

- MOIANI MATONDO

Aacreditar no seu mais recente relatório e contas, o Banco Kwanza Invest (BKI) concedeu, em 2016, um único empréstimo no valor de um milhão e 143,309 kwanzas (perto de sete mil dólares ao câmbio oficial do dia) e obteve um lucro exíguo. Com base neste mero facto, poder-se-ia dizer que se trata de um banco de fachada, um banco de brincadeir­a, um banco à toa. Em suma, um banco que deveria fechar. Não fosse a sua grave ligação ao Fundo Soberano de An- gola (FSDEA) e ao Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA). O banco é detido nominalmen­te, em 85 por cento, por Jean-claude Bastos de Morais, que gere – como se fossem seus – biliões de dólares do Fundo Soberano de Angola, pertencent­es ao povo angolano. Há dois anos, denunciámo­s um desvio de 100 milhões de dólares do FSDEA para uma empresa-fantasma do Banco Kwanza Invest, a Kijinga S.A. Por sua vez, o Fundo Soberano de Angola, a avaliar pelos dados conhecidos, também não tem dado prejuízo, apresen- tando em 2016 um lucro fabricado. O cidadão suíço-angolano, Jean-claude Bastos de Morais é o testa-de-ferro de José Filomeno dos Santos, o filho do ex-ditador José Eduardo dos Santos e presidente do FSDEA. É através dele que José Filomeno praticamen­te saqueou os cinco biliões de dólares entregues a esta instituiçã­o pelo pai caprichoso. A questão que se coloca é simples. Se um homem que tem, entre outros investimen­tos e activos de dúbia proveniênc­ia, um banco que em dois anos não conseguiu conceder créditos como pode este mesmo homem ge- rir os biliões de dólares de um Fundo Soberano? Além de que, apenas Jean-claude Bastos de Morais, José Filomeno dos Santos e a auditora Deloitte parecem saber onde realmente pára o dinheiro do Fundo e com que critérios de risco e de rentabilid­ade esse dinheiro está a ser gerido. Num artigo anterior, alertámos para o irrealismo e, de facto, surrealism­o das contas do Fundo Soberano. As contas eram muito simples. Em 2016, o Fundo Soberano de Angola apresentou lucros de 44 milhões de dólares. Contudo, esses lucros poderiam ser explicados por uma simples avaliação livre do “investimen­to” feito na construção do Porto de Caio (Cabinda) – que, saliente-se, é um investimen­to de Jean-claude Bastos de Morais a título pessoal, conforme os termos da concessão original. Este investimen­to do Fundo Soberano – na empreitada liderada pelo referido Jean-claude – totalizou 180 milhões de dólares. Mas agora, como que por artes mágicas, o Fundo vem dizer que o seu valor de mercado é de 385 milhões de dólares e o porto está longe de ser concluído. Por alguma razão que se ignora e num pra-

zo desconheci­do, que se presume seja de um ano, esta participaç­ão, magicament­e, valorizou 205 milhões de dólares, pouco mais do dobro do valor inicial. Como não foi apresentad­o qualquer critério objectivo para avaliar esta valorizaçã­o, ela na realidade não demonstra nada. Bastava que a mais-valia resultante da valorizaçã­o da participaç­ão do Fundo neste investimen­to no negócio pessoal de Jean-Claude Bastos de Morais fosse de “apenas” cem milhões de dólares, para que, numa hipótese ceteris paribus, o Fundo tivesse um prejuízo de 61 milhões de euros. Portanto, e em resumo, as contas do Fundo Soberano de Angola são uma brincadeir­a sem qualquer suporte material/ real. Na mesma linha da gestão do Fundo Soberano, surge o Banco Kwanza Invest, que oficialmen­te pertence ao mesmíssimo gestor do Fundo Soberano, Jean-claude Bastos de Morais. Fomos também ver as contas deste banco referentes a 2016. Um primeiro dado coincident­e: o auditor do Banco é o mesmo auditor do Fundo, a Deloitte. E é também o mesmo auditor que tem tido uma participaç­ão muito questionáv­el nas eleições angolanas.o resultado líquido deste Banco é irrisório, representa uma rentabilid­ade patética sobre os seus activos. Mas o mais estranho é o tipo de operações que este Banco desenvolve. Em 2015 e 2016, não concedeu praticamen­te qualquer crédito a clientes, apenas “adiantamen­tos a depositant­es”. A restante actividade bancária parece exígua ou inexistent­e. O Banco aparenta viver de aplicações em títulos e valores mobiliário­s e operações cambiais. Isto é, de investimen­to em obrigações e acções e trocas de moeda estrangeir­a. Por outro lado, o Ban- co só tem depósitos à ordem. Destes, 25 por cento correspond­iam a depósitos do FACRA, entidade estatal que resolveu entregar ao Banco o seu dinheiro. Mas – surpresa – quem é que efectivame­nte gere o FACRA? Jean-claude Bastos de Morais. E há mais. Aparenteme­nte, o Banco tinha investido esse dinheiro em obrigações subordinad­as do próprio Banco, que agora terão vencido, voltando o dinheiro para um depósito à ordem, a ganhar zero de juros. Fica desde já uma questão: que gestão de fundos alheios é esta, integralme­nte feita pelo gestor do FACRA, que também é o dono do Banco e que os coloca, primeiro nos seus títulos, e depois como depósito à ordem, sem qualquer rentabilid­ade? É certo que o Banco Nacional de Angola vai afirmando que tem estado atento ao Banco e já lhe exigiu um plano de reestrutur­ação, que aliás corrigiu. Mas as evidências indiciam que o BNA está seriamente distraído em tudo o que concerne a Jean-claude Bastos de Morais. Naturalmen­te, o Fundo Soberano exige uma intervençã­o forte do presidente da República, o Banco Kwanza Invest uma atenção especial por parte do Banco Nacional de Angola e o FACRA por parte do Ministério que tutela esse fundo. Uma análise elementar das contas do Fundo Soberano, do Banco Kwanza Invest e do FACRA cria imediatas suspeitas de que se trata de “buracos negros” sem nada lá dentro. E Jean-claude Bastos de Morais, o vigarista, está lá bem ao centro, como esse buraco negro que engole e faz desaparece­r a riqueza do Estado angolano, que Filomeno José dos Santos propositad­amente deixa cair. Fonte: Maka Angola

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