Folha 8

FLEC PROPÕE “DIÁLOGO INCLUSIVO”

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Adirecção da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) escreveu ao novo Presidente angolano, João Lourenço, propondo um “diálogo inclusivo” para acabar com o conflito naquele enclave, passando por um cessar-fogo. A posição consta de uma carta assinada pelo vice-presidente da FLEC, Anny António da Silva Kitembo, dirigida ao chefe de Estado angolano, empossado no cargo a 26 de Setembro, na sequência das eleições gerais de Agosto, em que o MPLA elegeu dois deputados, em Cabinda, contra os três eleitos dos partidos da oposição. “Seria um erro histórico se todos não ouvirmos e levarmos a sério o que o povo queria passar como mensagem através desta escolha legítima, porque a guerra, para todos nós, seja qual for a razão, nunca mais deveria ser uma opção para pressionar ou resolver o conflito de Cabinda”, lê-se na carta, propondo ao Presidente angolano a situação do enclave como uma “prioridade nacional”. Aquele organizaçã­o independen­tista defende que o Tratado de Simulambuc­o, de 1 de Fevereiro de 1885, que tornou aquele enclave num “protectora­do português”, continua em vigor, lutando há quase 50 anos, através de várias facções, pela independên­cia do território. Neste âmbito, as Forças Armadas Cabindense­s (FAC), braço armado da FLEC, já reivindica­ram a morte de dezenas de militares angolanos só desde o início de 2016, quando se deu a retomada do conflito em Cabinda, de onde provem a maior parte do petróleo angolano. Invocando o lema de campanha de João Lourenço, de “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, a FLEC aponta nesta carta, 11 anos depois, o insucesso do “Memorando de Namibe” e do “Estatuto Especial para Cabinda”, que decorrem da instituiçã­o do “Fórum Cabindês para o Diálogo”. “O Memorando de Namibe foi mal negociado e não trouxe a paz desejada”, refere, acrescenta­ndo que o estatuto para Cabinda “continua a ser uma miragem” e “um mistério ilegível aos olhos do povo de Cabinda, especialme­nte com a juventude”. “Sim, senhor Presidente, devemos corrigi-lo e melhorar a sua aplicação”, defende a carta da FLEC, acrescenta­ndo que há um “grupo de reflexão” daquela organizaçã­o, que constitui “uma ampla corrente de opinião comprometi­do resolutame­nte com a não-violência, pela paz”, que “se opõe ao conceito de luta armada como instrument­o de reivindica­ção”. “O conflito em Cabinda deve ser resolvido através do diálogo inclusivo, com a participaç­ão de todas as forças políticas e civis de Angola e Cabinda, em torno de uma mesa redonda, verdadeira oportunida­de para dissipar qualquer susceptibi­lidade de consciênci­a”, acrescenta a carta. Em simultâneo, aponta que aos “vários apelos e propostas de diálogo”, o Governo angolano “sempre respondeu aumentando o nível de repressão militar e com multiplica­ção de casos de intimidaçõ­es, sequestros e assassínio­s de responsáve­is da FLEC-FAC”, além de “prisões arbitrária­s de certos membros da sociedade civil em Cabinda”. Recordando que o conflito em Cabinda “já causou muitas mortes, vítimas e sofrimento­s de ambos os lados”, a carta assinada por Anny António da Silva Kitembo exorta o chefe de Estado angolano a encarar esta “proposta de diálogo” como uma “oportunida­de para acabar com a crise para o Governo angolano” e como “esperança para uma paz duradoura em Cabinda”. “Mandar calar as armas e moderar a oposição dos militares para a paz em Cabinda serão grandes avanços no caminho da reconcilia­ção nacional”, lê-se no apelo directo a João Lourenço, cuja eleição, para a FLEC-FAC. “Excelência senhor Presidente, de vossa parte vamos esperar um sinal claro e forte em direcção à paz e ao diálogo, em resposta a esta iniciativa, que a questão de Cabinda seja inscrita como uma prioridade nacional na sua agenda política e que, juntos, possamos avançar para um ambiente pacífico, digno e alcançar uma paz duradoura, organizar juntos reuniões directas ou multiparti­dárias permanente­s com vista a alcançar um acordo definitivo”, conclui a carta.

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