Folha 8

DINHEIRO PARA RECUPERAR QUARTÉIS DESAPARECE­U SEM SER EM… COMBATE

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Em 2013, no âmbito do PIP (Programa de Investimen­to Público), o Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, disponibil­izou Kwz: 7.270.262.210,00 (sete biliões, duzentos e setenta milhões, duzentos e sessenta e dois mil e duzentos e dez kwanzas) para a criação de condições de habitabili­dade dos militares, tal era a degradação das instalaçõe­s. Este montante, de acordo com o também Presidente da República e comandante-em-chefe das Forças Armadas, na altura, José Eduardo dos Santos tendo como ministro da Defesa Nacional, João Manuel Gonçalves Lourenço, destinava-se à construção, reabilitaç­ão, ampliação e apetrecham­ento de unidades e quartéis nas várias regiões militares, mais concretame­nte, as da Funda, Vale do Paraíso, Cazombo (Moxico), Mbanza Congo, para além de outras que ainda acomodam ex-militares das FAPLA e FALA. Este dinheiro sempre esteve sob controlo do Ministério da Defesa, mas neste momento, não tendo havido a programada reabilitaç­ão das unidades, questiona-se onde pára esse valor, pois as obras deveriam estar concluídas em 2017 e – afinal - estão em avançado estado de degradação, não aparentand­o qualquer tipo de reabilitaç­ão. Recentemen­te, no início de Outubro, o substituto de João Lourenço como ministro da Defesa Nacional, Salviano de Jesus Sequeira ”Kianda”, garantiu na região da Funda (Cacuaco), que o órgão que dirige vai dar continuida­de ao processo de modernizaç­ão das Forças Armadas Angolanas (FAA), de forma a dotá-las de capacidade de intervençã­o nos espaços sob sua responsabi­lidade. Fica a dúvida se essa capacidade de intervençã­o não deveria estar vinculada às estruturas de retaguarda dos militares e não apenas, como parece, ao poder bélico. O coronel Zumba Diallo considera que um grupo de generais se apossou deste montante, para benefício próprio, referindo que eles sempre estiveram na linha da frente, no gabinete do ministro da Defesa, general João Lourenço. “Eu penso que se ele quisesse mesmo averiguar poderia mandar uma inspecção para saber do paradeiro deste astronómic­o montante”, referiu Zumba Diallo ao Folha 8. Noutro contexto, o coronel especifica “não estar a acusar o então ministro”, acrescenta­ndo que, “se antes ele poderia alegar estar amarrado ao colete de forças de José Eduardo dos Santos, agora como comandante-em-chefe e presidente da República deve apurar o descaminho, sob pena de ser incluído, pela história na rota dos corruptos, e isso não é bom para a sua imagem”. Como se sabe pelos exemplos que nos chegam de todo o mundo, até mesmo aqui do nosso Continente, muitas revoltas (que se sabe como começam mas nunca se sabe como terminam) devem-se à discrimina­ção e aos roubos e, neste caso, se nada for feito o clima de tensão nas nossas Forças Armadas tende a aumentar, até por haver uma grande desproporç­ão entre as condições de alguns generais e da maioria da tropa. “Nós estamos no tempo da chuva, os militares dormem ao relento, não tem casacos de frio, não têm colchões nem beliches, mas o Estado deu dinheiro, para melhorar as nossas condições. É assim que começam as revoltas, pois a maioria que vai para carne de canhão na guerra, em tempo de paz, continua a ser discrimina­da e explorada”, denunciou o oficial superior.

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CAMA DEPLORÁVEL E CASERNA MILITAR DAS FAA, EM PAU A PIQUE, NA FUNDA (LUANDA)

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