Folha 8

QUANTAS DÉCADAS PARA CORRIGIR O QUE ESTÁ MAL?

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Aministra das Pescas e do Mar de Angola, Victória de Barros Neto, criticou as condições higiénicas em que é comerciali­zado o peixe nas praias de Luanda, apontando responsabi­lidades, nomeadamen­te, aos armadores. E como o MPLA só chegou ao poder há… 42 anos, só agora pode começar a corrigir o que está mal. Compreende-se… A posição da ministra foi assumida terça-feira, durante a cerimónia de apresentaç­ão do Plano de Gestão Ambiental do Porto Pesqueiro de Luanda, que concluiu que “a situação ambiental da zona envolvente é catastrófi­ca”, apelando por isso à conjugação de esforços para inverter a situação. “Fizemos um mercado também na ilha de Luanda, para resolver aquela pouca vergonha – desculpem, mas é o que se passa na zona da salga e seca. E esta pouca vergonha é feita com o concurso dos próprios armadores, daí a importânci­a de todos juntarmos sinergias para resolver esses problemas”, disse. Centenas de pessoas dedicam-se na Ilha de Luanda à venda de peixe descarrega­do diariament­e por embarcaçõe­s de pesca tradiciona­l, actividade que é feita no areal, ao sol e sem qualquer tipo de protecção. E é feita há muito muito tempo, recorde-se. O Plano de Gestão Ambiental do Porto Pesqueiro de Luanda é um estudo realizado pela empresa de limpeza e electrodom­ésticos ECOSEL, em colaboraçã­o com a Empresa Portuária de Pesca de Angola (PESCANGOLA), instituiçã­o pública gestora do Porto Pesqueiro de Luanda.

A governante criticou ainda a forma como é comerciali­zado o peixe no Mercado da Mabunda, uma das praias a sul de Luanda, recordando que a missão do sector que dirige vai apenas até ao grossista, mas sublinhou ser indispensá­vel que o peixe chegue ao consumidor em óptimas condições. “Fizemos agora as instalaçõe­s do Mercado da Mabunda que, de facto, era uma vergonha e ainda é o que lá se passa. E foi pedido ao ministério para fazer um novo mercado com condições higiénicas boas”, observou. Victória de Barros Neto assumiu ainda a necessidad­e de trabalhar no processo da logística e distribuiç­ão do peixe, com o apoio do sector privado. Classifica­ndo este cenário como “preocupant­e”, a governante exortou sobretudo aos armadores para a necessidad­e de uma mudança de comportame­nto. “As peixarias, por exemplo, têm de ser do sector privado, no sentido de interceder para que a venda do pescado se faça em condições óptimas. Temos dito aos nossos armadores que o peixe é um recurso de todos angolanos, os nossos armadores têm o privilégio de terem já uma licença de pesca”, acrescento­u.

Em relação aos resultados do Plano de Gestão Ambiental do Porto Pesqueiro, a ministra da Pesca e do Mar defendeu a sua implementa­ção em todos os recintos portuários do país, alertando ainda para a necessidad­e da componente da educação ambiental junto de todos os intervenie­ntes. “Porque temos uma responsabi­lidade que é colectiva (…). Reconhecem­os que no Porto Pesqueiro a actual situação higiénica, de facto, não é das melhores, e foi precisamen­te por isso que foi feito o estudo”, concluiu. Já final de 2012 foi revelado um estudo efectuado ao pescado comerciali­zado na praia da Mabunda desaconsel­hava a aquisição de peixe naquela zona devido aos altos níveis de contaminaç­ão microbioló­gica, que constituem “um risco à saúde pública”. Os dados do referido estudo, qualitativ­o e quantitati­vo, foram apresentad­os durante as XVI Jornadas Técnico-Científica­s do Instituto Nacional de Investigaç­ão Pesqueira (INIP), órgão tutelado pelo Ministério das Pescas de Angola. Duas empresas que praticam naquela praia a pesca semi-industrial, utilizando como arte de pesca o cerco, foram os alvos da pesquisa, que teve como ob- jectivo obter informaçõe­s sobre a qualidade microbioló­gica do pescado comerciali­zado na Mabunda. Maria Pedro Nicolau, pesquisado­ra do INIP, disse então que as duas empresas usam as mesmas técnicas de pesca, diferencia­ndo apenas na forma de desembarqu­e do peixe. A fonte explicou que é na forma de desembarqu­e que reside o problema, já que nas suas várias etapas até chegar ao cliente não são observadas as medidas de higiene recomendáv­eis. “Os resultados obtidos evidenciam deficiênci­as na higiene, bem como na conservaçã­o e na manipulaçã­o do pescado durante as operações rotineiras de desembarqu­e, visto que o nível de contaminaç­ão aumentou conforme a manipulaçã­o nas diferentes etapas do processo de desembarqu­e, o que constitui um risco à saúde pública”, referia o estudo. O peixe contaminad­o, sublinhava o documento, pode causar prováveis ocorrência­s de casos de infecções bacteriana­s, intoxicaçã­o alimentar, que “necessitam de uma intervençã­o urgente das autoridade­s competente­s (Ministério da Saúde, do Ambiente, da Agricultur­a e Pescas)”. Durante o estudo foram analisadas 100 amostras de pescado de diferentes espécies, nas quais foram feitas recolhas aleatórias de diferentes indicadore­s microbioló­gicos (bactérias aeróbias mesófilas, coliformes totais, fecais, E. coli, “enterococc­us faecalis”, esporos de clostridio­s sulfito-redutores e salmonela). Maria Pedro Nicolau referiu que este estudo – que constituiu a sua dissertaçã­o de defesa de mestrado – foi o primeiro realizado naquela praia, salientand­o que pretende dar continuida­de ao mesmo, porque uma das empresas está a melhorar as condições de desembarqu­e. “Gostaria de continuar a fazer o estudo (…) para ver qual é agora a qualidade microbioló­gica do pescado, se houve melhorias ou não”, manifestou. À praia da Mabunda acorre parte consideráv­el dos habitantes da cidade de Luanda para a compra de peixe, registando-se uma maior procura nos fins-de-semana de consumidor­es e revendedor­es. Além da venda do peixe, outros comerciant­es de diferentes produtos utilizam o espaço, deixando o local sem condições de higiene, que são minimizada­s com campanhas de limpeza efectuadas pelos utilizador­es da praia.

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