FALAR é UMA COISA, FAZER é OUTRA
José de Lima Massano vai ter de realizar um “ajuste cambial eficaz” da moeda angolana, que se encontra “sobrevalorizada” face ao dólar norte-americano, reconhece o Governo. As mexidas no kwanza fazem parte do Plano Intercalar do executivo a seis meses (Outubro a Março), para melhorar a situação económica e social do país. Aprovado a 10 de Outubro, na primeira reunião do Conselho de Ministros presidida pelo chefe de Estado e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, o documento reconhece que “algumas medidas de política necessárias e inadiáveis podem ser impopulares” e por isso “politicamente sensíveis”. “Para o Quadro Macroeconómico de Referência 2018, prevê-se o ajustamento controlado da taxa de câmbio, com vista a redução do dife- rencial cambial entre os mercados formal e informal, a flexibilização do mercado, sem prejuízo da estabilidade do nível geral de preços da economia”, lê-se no documento aprovado pelo Governo, que não aponta o valor ou forma de desvalorização do kwanza. Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, conjuntura que afectou, por exemplo, o acesso a divisas nos bancos comerciais para garantir a importação de matérias-primas, máquinas ou alimentos. O Governo reconhece, no mesmo documento, que as taxas de câmbio nominais dos mercados primário, secundário e informal “depreciaram-se 70%, 71% e 261%, respectivamente”, desde a crise. Apesar da desvalori- zação já realizada, o Governo conclui que a moeda nacional “continua sobrevalorizada”, não acompanhando a taxa de câmbio real em 2017, “devido, em parte, às pressões inflacionistas acentuadas”. “Esta dinâmica de apreciação da moeda nacional, em termos reais, reduz a competitividade da economia nacional e é um constrangimento para o processo da diversificação da economia e das exportações”, lê-se. Acrescenta que o ajuste cambial efectuado nos últimos três anos “levou à deterioração de variáveis económicas”, como a inflação (42% em 2016), mas “terá sido, em parte, ineficaz”. “Assim, torna-se necessário um ajuste cambial eficaz, que deverá obter-se por via de uma combinação adequada de medidas e acções que propiciem a desinflação e a redução do spread cambial entre os mercados primário e informal, isto é, a eliminação da sobrevalorização da moeda nacional”, prevê o Governo. Em declarações recentes, o director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola admitiu como inevitável uma desvalo- rização da moeda angolana. “Claro que o kwanza vai ter de ser desvalorizado, no mínimo em 30%. Estou para ver como o novo executivo vai lidar – evitando – a repercussão desta medida sobre o aumento da taxa de inflação, num país que está estagnado no seu crescimento económico”, disse Manuel Alves da Rocha.