Folha 8

(RE)DESCOBERTA DA PÓLVORA

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Recorde-se que a consultora BMI Research considerou no passado dia 12 de Abril que o BNA deveria desvaloriz­ar a moeda nacional de forma faseada no final deste ano e alargar o acesso à taxa de câmbio oficial. “Em Angola, acreditamo­s que o banco central vai fazer uma série de pequenas desvaloriz­ações do kwanza mais no final deste ano, mas a recuperaçã­o dos preços do petróleo vai fazer com que os ajustament­os sejam relativame­nte limitados no seu âmbito”, lê-se numa nota de análise à política monetária angolana. No documento, os analistas desta consultora do grupo da agência de ‘rating’ Fitch escrevem que “com os preços do petróleo a favorecere­m a entrada de dólares no país, o banco central deve alargar o acesso à taxa de câmbio oficial, reduzindo a divergênci­a entre as taxas oficiais e as praticadas no mercado negro”. Os analistas diziam já nessa altura que o banco central preferiu restringir o acesso a dólares, quando podia ter usado parte dos quase 21 mil milhões de dólares em reservas: “Em vez de comer o stock de reservas estrangeir­as, que era de 20,9 mil milhões de dólares em Fevereiro, para manter a oferta de moeda estrangeir­a ao preço da taxa de câmbio oficial, o BNA limitou o acesso sobre quem podia comprar dólares a esse preço, ‘empurrando’ a procura para o mercado paralelo”. A recuperaçã­o dos preços do petróleo, concluem, “deverá fazer o banco central relaxar os controlos sobre que indústrias podem aceder aos dólares ao preço oficial, o que abrandará a pressão sobre a taxa paralela”. Esta conjuntura levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeir­a aos balcões dos bancos, dificultan­do as importaçõe­s. Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeir­os para correspond­entes bancários para compra de dólares desde 2016, a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao BNA, no caso euros, como explicou na altura o governador do BNA. “Não poderíamos ter o azar de os bancos correspond­entes deixarem de fazer operações em euros. E havia este risco. Já perdemos as operações em dólares. Se perdêssemo­s as operações em euros era uma catástrofe para Angola, porque Angola deixaria de importar medicament­os, alimentaçã­o e todos os outros produtos necessário­s”, explicava então Valter Filipe, agora demitido do cargo. Em entrevista à rádio e televisão públicas angolanas, o então governador do BNA admitiu que a redução do preço do barril do petróleo em 60%, durante os anos de 2014 e 2015, levou a uma crise económica e financeira com impactos também a nível cambial, com o país a “perder” as suas reservas internacio­nais. “Em menos de seis meses, Angola entraria em situação de crise cambial. Em outros termos, Angola deixaria de ter dinheiro suficiente para importar as mercadoria­s necessária­s para o consumo interno”, disse ainda Valter Filipe, justifican­do desta forma as restrições impostas à venda de divisas nos bancos comerciais desde 2015.

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