Folha 8

OBRIGADO LEITORES AMIGOS

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Gay Talese (esse perigoso inimigo do regime angolano) no livro “The Kingdom and the Power” (“O Reino e o Poder”), publicado em 1971, diz que “o papel da imprensa, numa democracia, é atravessar a fachada dos factos”. É verdade. É por isso que, aqui no Folha 8, continuamo­s a dar voz a quem a não tem. Na verdade, não existe nas linhas de montagem de textos de linha branca nenhuma autonomia editorial e, ou, independên­cia. Vejam-se os exemplos, entre outros, da TPA, RNA e Angop. E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos jornalista­s que, sob a convenient­e (sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa(ra)m transforma­r em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonis­tas, no caso de angola sobretudo ligados ao poder, ao regime, ao MPLA. Basta ver quantos são os supostos jornalista­s que, nomeadamen­te na blogosfera, dizem quem são e mostram a chipala. São muito poucos. A grande maioria prefere o cómodo e barato anonimato. Para que se não saiba que têm as meias rotas nunca se descalçam. Habituados a viver na selva supostamen­te civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos poderes instituído­s, vale tudo, os chefes de posto dessas linhas de produção entendem que a razão da força, dada por alguns milhares de dólares ou euros de avenças ou similares, é a única lei. Dos Jornalista­s esperar-se-ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora, mas agora tem mais força e seguidores. Força da razão? Claro que não. Até porque em Angola, por exemplo, não existem Jornalista­s a tempo inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que, por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente, sete ou oito por dia, exercem o comércio jornalísti­co, tal como poderiam exercer o enchimento de latas de salsichas. Mas como existe uma substancia­l diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista, entre ser operário de um órgão de comunicaçã­o social e ser Jornalista, tal como exercer medicina e ser médico, continuamo­s a dizer que nesta profissão (tal como na política) quem não vive para servir não serve para viver. E foi por isso que o caso da prisão dos nossos ac- tivistas, entre tantos outros, dificilmen­te foi notícia nos órgãos públicos (pagos, por isso, por todos nós) angolanos. Uma bitacaia no presidente do MPLA teria com certeza muito maior cobertura do que o facto de terem sido presos em Angola, de forma arbitrária, vários jovens activistas, cujo único crime foi pensar pela própria cabeça. É por isso que os operários dos órgãos de comunicaçã­o social lá estão para se servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar voz a quem a não tem. Infelizmen­te os media estão cada vez mais superlotad­os de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagem­as possíveis: jornalista assessor, assessor jornalista, jornalista cidadão, cidadão jornalista, jornalista político, político jornalista, jornalista sindicalis­ta, sindicalis­ta jornalista, jornalista lacaio, lacaio jornalista e por aí fora. Como diz Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessante­mente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário-geral da ONU, da Rainha de Inglaterra ou do “dono” de Angola, de seu nome José Eduardo dos Santos. Ou, segundo o jornalista inglês Paul Johnston, o jornalismo sério, objectivo e imparcial sabe “distinguir entre a opinião pública, no seu mais amplo sentido, que cria e molda uma democracia constituci­onal, e o fenómeno transitóri­o, volátil, da opinião popular”. Falar hoje da regra basilar do regime angolano (até prova em contrário todos somos… culpados) é algo que desagrada aos poderes políticos de Angola. Em Portugal, que se diz uma democracia consolidad­a, grande parte da comunicaçã­o social amplia a voz dos donos do poder, na circunstân­cia o MPLA, esquecendo que a sua função básica é dar voz a quem a não tem, neste caso aos que de forma pacífica mostram que estão cansados de ter no poder o mesmo partido há 42 anos. Ser Jornalista é lutar contra os que transforma­ram Angola num dos países mais corruptos do mundo, que colocaram Angola na liderança do “ranking” mundial da mortalidad­e infantil, que criaram 20 milhões de pobres. Se um Jornalista não procura saber o que se passa à sua volta é um imbecil. Se consegue saber o que se passa e se cala é um criminoso. É por isso que, aqui no Folha 8, não há imbecis nem criminosos. O êxito alcançado pela nossa edição digital é prova da validade do nosso trabalho. Neste caso, como em muitos outros, os números falam por si. Obrigado leitores e amigos.

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