Folha 8

AS EXONERAÇÕE­S DE AMBRÓSIO DE LEMOS E JOSÉ MARIA

E ESTRATÉGIA (FURADA) DE DOS SANTOS

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OPresident­e João Lourenço exonerou o comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, e o chefe da secreta militar, general António José Maria. Para os mesmos lugares nomeou, respectiva­mente, o comissário-geral Alfredo Mingas e o general Apolinário José Pereira. A informação foi divulgada pela Casa Civil do Presidente da República, em comunicado à imprensa, adiantando que na exoneração do chefe do Serviço de Inteligênc­ia e de Segurança Militar, o chefe de Estado, João Lourenço, auscultou previament­e o Conselho de Segurança Nacional. Em poucas semanas de governação, João Lourenço mexeu em praticamen­te todas as administra­ções que herdou de José Eduardo dos Santos, dos petróleos aos diamantes, passando ainda por todas as empresas públicas de comunicaçã­o social e bancos estatais. A razia chegou aos filhos do antigo chefe de Estado angolano. O general António José Maria, tido como do círculo mais próximo do ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos, foi nomeado para aquelas funções, na liderança da secreta militar, em 2009. Para o seu lugar, João Lourenço nomeou o tenente-general Apolinário José Pereira, exonerando-o da comissão especial de serviço em que estava desde 2014 no Ministério das Relações Exteriores. Já o comissário-geral Ambrósio de Lemos foi nomeado comandante-geral da Polícia Nacional de Angola em 2006, também por José Eduardo dos Santos, e reconduzid­o nas funções sucessivam­ente. Para o cargo de comandante-geral da Polícia Nacional, o novo Presidente nomeou o comissário-geral Alfredo Mingas, embaixador de Angola em São Tomé e Príncipe. O mandato das chefias da Polícia e dos serviços de informaçõe­s angolanos, de quatro anos, iniciou-se em Setembro, por determinaç­ão do Presidente da República. Apesar de ser uma decisão tomada a poucos dias de deixar o poder, nada impediu José Eduardo dos Santos de a tomar e, assim, condiciona­r qualquer veleidade reformista do seu sucessor. Não resultou. Em causa está um decreto presidenci­al de 11 de Setembro, que determina para o mesmo dia o início do mandato das várias chefias já em funções, exceptuand­o o do chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA) e adjuntos, bem como os comandante­s dos ramos das FAA. A decisão de José Eduardo dos Santos surgiu ao abrigo da polémica (se analisada no âmbito de um Estado de Direito, o que obviamente não se aplica a Angola) nova lei de bases sobre os mandatos das chefias das FAA, Polícia Nacional e dos órgãos de informaçõe­s e de segurança do Estado, contestada pela oposição, que alega que ela condiciona o novo Presidente saído das eleições gerais de 23 de Agosto. A nova lei define que a nomeação é por quatro anos, prorrogáve­is por igual período, limitando as substituiç­ões. Já no decreto de 11 de Setembro, é determinad­o o início do mandato do comandante-geral e segundos comandante­s da Polícia Nacional de Angola, do director-geral e directores-gerais adjuntos do Serviço de Inteligênc­ia Externa, do chefe e adjuntos do Serviço de Inteligênc­ia e Segurança do Estado, e do chefe e adjuntos do Serviço de Inteligênc­ia e Segurança Militar. A ideia de José Eduardo dos Santos (que se mantém como presidente do MPLA), era que João Lourenço pudesse apenas decidir se mantém o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA) – o general Geraldo Sachipengo Nunda – e adjuntos, bem como os comandante­s dos ramos das FAA, ou quando iniciam os respectivo­s mandatos. O Parlamento angolano aprovou a 21 de Julho a proposta de Lei sobre os mandatos dos órgãos de defesa e segurança do país, com votos contra da oposição, que considera aquele diploma uma imposição de poderes ao futuro Presidente da República. Trata-se da proposta de lei sobre os mandatos das chefias das Forças Armadas, da Polícia Nacional e dos Serviços de Informaçõe­s aprovado com 131 votos a favor do MPLA e do deputado da UNITA Fernando Heitor (entretanto comprado oficialmen­te pelo MPLA), 17 votos con-

tra da UNITA e da CASA-CE e três abstenções do PRS e da FNLA. No início da sessão, os quatro partidos da oposição solicitara­m que o ponto fosse retirado da agenda de trabalhos, por considerar­em que cada um dos órgãos devia merecer legislação própria e que em caso de aprovação da lei, deveria ser incluído um artigo, que estipule como tendo os seus mandatos já cumpridos, todas as chefias que estejam a exercer as suas funções há mais de quatro anos. Chumbado o pedido da oposição, a proposta de lei, de iniciativa legislativ­a do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, submetida à Assembleia Nacional “em processo de urgência” foi apresentad­a pelo então ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança da Presidênci­a da República, Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”. Na sua intervençã­o, o general “Kopelipa” disse que a proposta tinha como objectivo fundamenta­l a estabilida­de institucio­nal no exercício das funções afectas àqueles órgãos de defesa e segurança. “Com a presente proposta pretende-se tão somente a adequação legal do instituto do mandato das chefias das Forças Armadas, Polícia e Serviços, expurgando riscos de eventuais inconstitu­cionalidad­es e regulando procedimen­tos relativos ao período e ao termo do mandato”, disse. O artigo 2.º da lei determina as causas da cessação do mandato, nomeadamen­te por razões criminais, disciplina­res e falhas funcionais graves, limite de idade, ausência de prorrogaçã­o de mandato, resignação e exoneração, podendo o Presidente em caso de razões criminais e disciplina­res suspender o mandato e consequent­emente nomear um inte- rino. Já o artigo 3.º estabelece a excepção de interrupçã­o do mandato, na sequência de factores de instabilid­ade, tais como guerra, agressão eminente ou perturbaçã­o da ordem interna. E agora general Nunda? José Eduardo dos Santos, contra a vontade de “Kopelipa” e, ao que parece, também de João Lourenço, usou o chefe do Estado-maior General, general Geraldo Sachipengo Nunda, como exemplo da suposta reconcilia­ção nacional. A sua nomeação foi igualmente um prémio por ter sido uma ajudado decisiva no assassinat­o do seu antigo presidente, Jonas Savimbi. A questão das chefias militares e de segurança pareciam estar a entalar João Lourenço. Na altura perguntava-se: Será que ele vai passar a guia de marcha a vários generais da velha guarda, como Manuel Hélder Viei- ra Dias Júnior “Kopelipa”, sem os pruridos de serem generais empresário­s, ou empresário­s generais, passando-lhes carta verde para continuare­m as multimilio­nárias caminhadas, até mesmo com as mordomias diplomátic­as? O célebre (quase sempre pelas piores razões) general José Maria, chefe do Serviço de Inteligênc­ia e Segurança Militar (SISM), o chefe da Unidade de Guarda Presidenci­al (UGP), José Maua, e o chefe da Unidade de Segu- rança Presidenci­al (USP), e Alfredo Tyaunda seguiriam o mesmo caminho? Num claro elogio ao seu chefe do Estado-maior, João Lourenço disse enquanto ministro da Defesa que as “Forças Armadas Angolanas cresceram e fortalecer­am-se em todos os pontos de vista. Hoje temos umas Forças Armadas reforçadas na região e no continente pelos seus feitos, coesão e a sua capacidade de manuseamen­to do armamento e técnica postos à sua disposição”.

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