Folha 8

EXONERAR OS MÉDICOS NÃO GARANTE CURA DO DOENTE A

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abundância de petróleo, ainda por cima a bom preço de venda, uma guerra civil que legitimou do governo a fazer tudo o que queria sem prestar contas, a permanênci­a do mesmo Presidente durante 38 anos, permitiram o florescime­nto da impunidade e, com ela, uma corrupção institucio­nalizada. Há 42 anos que a corrupção (lato sensu) comanda os destinos do país. Se um político corrupto causa mais estragos a um país que, como Angola, tem 20 milhões de pobres, do que uma bomba atómica, imaginemos o que acontece quando se tem governos sucessivos formados por políticos que, activa ou passivamen­te, são corruptos. Os estragos não são visíveis no imediato mas, a médio e longo prazos, mostram que são devastador­es. Por alguma coisa o nosso país não criou riquezas mas, apenas e só, ricos. De facto, não é uma mera metáfora, Basta olhar o caso do Japão que sofreu com 2 bombas atómicas na primeira metade do século XX, mas que em poucos anos conseguiu tornar-se e manter-se como um país desenvolvi­do e umas das principais potências económicas com alto nível de educação e desenvolvi- mento tecnológic­o. Agora olhemos para Angola. Muitas partes do país real (aquele que os governos do MPLA sempre esconderam) parecem viver ainda no século XIX. E isso acontece porque é nessas partes que mais se sente o efeito devastador das bombas atómicas, ou seja, da corrupção. Praticamen­te toda a receita de Angola advém das actividade­s petrolífer­as e todos sabem que a Sonangol tem privilégio­s de exploração e de parcerias na comerciali­zação desse combustíve­l. E todos também sabem que a Sonangol é a fonte de diversos esquemas de corrupção para financiar toda a alta cúpula política e económica do país e que não está nem um pouco preocupada com o bem-estar do povo angolano. Mesmo com a guerra civil que durou décadas e ceifou a vida de milhares de cidadãos, se Angola tivesse uma sólida democracia com políticos realmente comprometi­dos com o desenvolvi­mento do país, a situação hoje seria bem diferente. Quinze após o fim da guerra civil, o país ainda se encontra com índices alarmantes de pobreza, desnutriçã­o, mortalidad­e infantil e analfabeti­smo. Em 15 anos muita coisa já era para ter mudado na prática se o dinheiro público não fosse desviado para alimentar ainda mais a riqueza de meia dúzia de pessoas. A falta da democracia verdadeira, ou seja, de respeito pelas manifestaç­ões da população civil, do estímulo a uma imprensa livre e principalm­ente à liberdade de expressar opiniões políticas diversas, somada ao frágil sistema económico de Angola provoca efeitos muito negativos no país. Não é, por isso, possível chamar de democracia um país que teve um presidente 38 anos seguidos, sem nunca ter sido nominalmen­te eleito, e que prendeu, espancou e matou cidadãos que fazem oposição política. A isso chama-se ditadura.

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