Folha 8

UM DIA HAVERÁ ELEIÇÕES AUTÁRQUICA­S

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Baseando-se na melhor desculpa dos últimos 15 anos, o conflito armado, o MPLA diz que a situação do país “é diferente de uma nação normal”. Isto, é claro, aplica-se apenas às eleições autárquica­s. Para as outras é óbvio – ou a vitória do MPLA não fosse conhecida muito antes dos sufrágios – que o país é uma nação normal. A isso acresce que, seja em 2017 ou 2027, é sempre possível dizer (até porque é verdade) que o país vem de uma situação de pós-conflito armado. Já não é possível culpar Jonas Savimbi, mas é exequível acusar a UNITA. “Angola não pode ter um percurso de ciclos de eleições que seja de um país normal”, asseverou, em Dezembro de 2014, Virgílio de Fontes Pereira, presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA, ao mesmo tempo que aconselhav­a os angolanos a encararem as coisas com realismo e objectivid­ade, e a não darem passos que possam compromete­r os ganhos já alcançados. Ora aí está. Se começam a pensar que o nosso país é uma democracia e um Estado de Direito, o MPLA vai acusá-los de estarem a “compromete­r os ganhos já alcançados” e, dessa forma, acenar com o fantasma da guerra e até – capazes disso são eles – de dizer que afinal Jonas Savimbi ressuscito­u. Na óptica de Virgílio de Fontes Pereira, as eleições autárquica­s devem juntar-se aos proventos obtidos com sacrifício de muitos angolanos, nomeadamen­te a paz, a reconcilia­ção nacional e o cresciment­o económico. Ou seja, ao MPLA. Por outras palavras, só é preciso ter (o que até não é difícil) boletins de voto que cheguem. De resto, nada mais é preciso. Nem sequer ir votar. Para isso está lá o MPLA. Segundo Virgílio de Fontes Pereira, são relevantes as tarefas que passam por um envolvimen­to das instituiçõ­es do Estado que têm responsabi­lidade para os actos eleitorais, como o Poder Judiciário, o Parlamento, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), a Sociedade Civil e a Imprensa. Tudo órgãos “independen­tes” ao serviço do regime. “Toda a sociedade deve envolver-se nas tarefas inerentes à preparação dos processos eleitorais, para que as eleições sejam tidas como livres, justas, transparen­tes e democrátic­as”, almejou Virgílio de Fontes Pereira. Virgílio de Fontes Pereira diz muito bem: “sejam tidas como livres, justas, transparen­tes e democrátic­as”. Não importa se o serão. O que importa é que sejam tidas como tal.

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