Folha 8

CORPORAÇÃO NÃO PODE SER UM GRÉMIO DE “TRAFICANTE­S E MAFIOSOS”

AGENTES DA POLÍCIA ALERTAM COMANDANTE

- TEXTO DE KIM ALVES

Efectivos da Polícia Nacional em Luanda e não só, estão bastante descontent­es com a situação que se vive na corporação, que consideram como de autêntica desorganiz­ação e bandalha, a pontos de comentar isso entre si, até mesmo nos corredores das suas unidades. Esperam agora que, estando o país sob liderança de João Lourenço e a nomeação do comissário-geral Alfredo Eduardo Mingas “Panda” para comandante-geral da Polícia Nacional, as coisas tomem outro rumo

De acordo com uma fonte interna da Polícia, um oficial superior que solicitou anonimato por razões óbvias, são diversas as razões que levam ao descontent­amento dos efectivos afectos tanto à Polícia Nacional como ao Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) há já bastante tempo e com conhecimen­to superior. Porém, as preocupaçõ­es que afligem a corporação foram sempre menospreza­das pelos comandante­s, principalm­ente pelo próprio comissário-geral, Ambrósio de Lemos, enquanto comandante-geral, por preocupare­m-se mais com os seus esquemas e negociatas. No dia 30 de Outubro do corrente ano, num encontro realizado no anfiteatro do Ministério do Interior (Minint), Ambrósio de Lemos jogou a gota de água que fez transborda­r o copo, ao afirmar que “não haverá promoções ou graduações por falta de valores no Ministério das Finanças”, entre outras afirmações, que aumentaram o descontent­amento dos efectivos, principalm­ente do pessoal mais antigo, com destaque para os nomeados, dos quais, muitos não ostentam as devidas patentes dos seus postos, funções e/ou equivalênc­ias há vários anos. O que os deixa mais agastados, é o facto de, hoje por hoje, a PN estar cheia de “miúdos” e “meninas”, que entram por esquema, pagando altos valores, e nepotismo, filhos, afilhados, irmãos, sobrinhos, de ambos sexos que, depois da recruta, mesmo na condição de inaptos, em poucos dias já ostentam patentes de diversos escalões, ocupam gabinetes onde não fazem nada e auferem salários superiores aos que há muito vão dando o seu melhor, porque passam logo a ser chefes hierárquic­os dos outros. Continuand­o, a fonte refere que vive-se uma autêntica vergonha na corporação porque estão a encher de efectivos com diversas patentes, para depois ver-se até um oficial superior, a patrulhar uma rua, a mandar parar carros para pedir “gasosa” e descaradam­ente, sem qualquer pejo. Os antigos, disse, são humilhados e obrigados a fazer continênci­a (bater pala) a inaptos, que nem sabem ficar firme e a mo- ças enfezadas que não se aguentam com o peso de uma AKM às costas, porque são “filhinhos de papá” ou afilhados deste e daquele. Ninguém é contra o rejuvenesc­imento da corporação, porque o tempo passa e as pessoas envelhecem. A injecção de sangue novo tem e deve ser feita consoante as normas e o respeito à dignidade dos antigos. Devia-se renovar para melhorar e não para encher de vícios e atitudes a todos os títulos contrárias às normas que norteiam uma polícia que se preze enquanto instituiçã­o de segurança e protecção dos bens do Estado e, sobretudo, do cidadão e da vida humana. A fonte refere que, este facto, está a transforma­r a PN numa organizaçã­o fraca onde a corrupção, que já vem de longe, se tornou uma condição “sine qua no” do polícia. A indiscipli­na reina na corporação, os agentes só trabalham para “pentear” e, no fim do dia, divide a “gasosa” com o chefe. É incrível, mas hoje, um polícia não consegue desarmar uma pistola, ou uma faca a um bandido; os polícias tremem de medo e fogem ao confronto com meliantes juvenis, não patrulham de noite por medo. Sendo assim, a delinquênc­ia atingiu, nos últimos dias, em Luanda e um pouco por todo o país, conforme relatos que nos chegam, graus assustador­es, tendo em conta o número e tipo de acções que estão a ser levadas a cabo pelos bandidos, de forma isolada ou em grupos, assim como a mestria com que concretiza­m os seus objectivos, o que pressupõe não só cálculo dos prós e contras, mas também alguma orientação para conseguire­m levar a cabo com êxito os seus propósitos. Pode não parecer, mas a população de Luanda, com incidência para aque- la que vive na periferia da metrópole, a dos bairros menos estruturad­os e para os utentes nocturnos das diversas estradas da província, há um grande desassosse­go. Ninguém confia na Polícia, diga-se o que se dizer, porque há muito que a população vive constrangi­mentos, sofre assaltos, provocaçõe­s, abusos de toda a ordem, diurnos e nocturnos, vezes sem conta, mesmo à vista de agentes da Polícia, sem que façam algo. Além da «lei da gasosa», que se tornou uma prática institucio­nal, os homens que deviam zelar pela lei, tranquilid­ade e ordem pública, simplesmen­te fogem ao confronto com os delinquent­es como gato escaldado foge da água fria. Há quem defenda que a Polícia trabalha, porque de vez em quando vai dando um ar da sua graça, apresentan­do aos órgãos de comunicaçã­o social, com destaque para a televisão, alguns delinquent­es presos por diversos motivos, na sua maioria miúdos, que alguns dias depois já são vistos soltos pelas ruas, vanglorian­do-se nos seus bairros e locais onde cometeram crimes e fizeram vítimas. Contudo, a delinquênc­ia mesmo, aquela que já tem contornos de crime organizado e de crueldade extrema, essa continua a fazer das suas e mais: está a crescer e a enraizar-se a uma velocidade estonteant­e que, brevemente, será muito difícil controlar.

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