CORPORAÇÃO NÃO PODE SER UM GRÉMIO DE “TRAFICANTES E MAFIOSOS”
AGENTES DA POLÍCIA ALERTAM COMANDANTE
Efectivos da Polícia Nacional em Luanda e não só, estão bastante descontentes com a situação que se vive na corporação, que consideram como de autêntica desorganização e bandalha, a pontos de comentar isso entre si, até mesmo nos corredores das suas unidades. Esperam agora que, estando o país sob liderança de João Lourenço e a nomeação do comissário-geral Alfredo Eduardo Mingas “Panda” para comandante-geral da Polícia Nacional, as coisas tomem outro rumo
De acordo com uma fonte interna da Polícia, um oficial superior que solicitou anonimato por razões óbvias, são diversas as razões que levam ao descontentamento dos efectivos afectos tanto à Polícia Nacional como ao Serviço de Investigação Criminal (SIC) há já bastante tempo e com conhecimento superior. Porém, as preocupações que afligem a corporação foram sempre menosprezadas pelos comandantes, principalmente pelo próprio comissário-geral, Ambrósio de Lemos, enquanto comandante-geral, por preocuparem-se mais com os seus esquemas e negociatas. No dia 30 de Outubro do corrente ano, num encontro realizado no anfiteatro do Ministério do Interior (Minint), Ambrósio de Lemos jogou a gota de água que fez transbordar o copo, ao afirmar que “não haverá promoções ou graduações por falta de valores no Ministério das Finanças”, entre outras afirmações, que aumentaram o descontentamento dos efectivos, principalmente do pessoal mais antigo, com destaque para os nomeados, dos quais, muitos não ostentam as devidas patentes dos seus postos, funções e/ou equivalências há vários anos. O que os deixa mais agastados, é o facto de, hoje por hoje, a PN estar cheia de “miúdos” e “meninas”, que entram por esquema, pagando altos valores, e nepotismo, filhos, afilhados, irmãos, sobrinhos, de ambos sexos que, depois da recruta, mesmo na condição de inaptos, em poucos dias já ostentam patentes de diversos escalões, ocupam gabinetes onde não fazem nada e auferem salários superiores aos que há muito vão dando o seu melhor, porque passam logo a ser chefes hierárquicos dos outros. Continuando, a fonte refere que vive-se uma autêntica vergonha na corporação porque estão a encher de efectivos com diversas patentes, para depois ver-se até um oficial superior, a patrulhar uma rua, a mandar parar carros para pedir “gasosa” e descaradamente, sem qualquer pejo. Os antigos, disse, são humilhados e obrigados a fazer continência (bater pala) a inaptos, que nem sabem ficar firme e a mo- ças enfezadas que não se aguentam com o peso de uma AKM às costas, porque são “filhinhos de papá” ou afilhados deste e daquele. Ninguém é contra o rejuvenescimento da corporação, porque o tempo passa e as pessoas envelhecem. A injecção de sangue novo tem e deve ser feita consoante as normas e o respeito à dignidade dos antigos. Devia-se renovar para melhorar e não para encher de vícios e atitudes a todos os títulos contrárias às normas que norteiam uma polícia que se preze enquanto instituição de segurança e protecção dos bens do Estado e, sobretudo, do cidadão e da vida humana. A fonte refere que, este facto, está a transformar a PN numa organização fraca onde a corrupção, que já vem de longe, se tornou uma condição “sine qua no” do polícia. A indisciplina reina na corporação, os agentes só trabalham para “pentear” e, no fim do dia, divide a “gasosa” com o chefe. É incrível, mas hoje, um polícia não consegue desarmar uma pistola, ou uma faca a um bandido; os polícias tremem de medo e fogem ao confronto com meliantes juvenis, não patrulham de noite por medo. Sendo assim, a delinquência atingiu, nos últimos dias, em Luanda e um pouco por todo o país, conforme relatos que nos chegam, graus assustadores, tendo em conta o número e tipo de acções que estão a ser levadas a cabo pelos bandidos, de forma isolada ou em grupos, assim como a mestria com que concretizam os seus objectivos, o que pressupõe não só cálculo dos prós e contras, mas também alguma orientação para conseguirem levar a cabo com êxito os seus propósitos. Pode não parecer, mas a população de Luanda, com incidência para aque- la que vive na periferia da metrópole, a dos bairros menos estruturados e para os utentes nocturnos das diversas estradas da província, há um grande desassossego. Ninguém confia na Polícia, diga-se o que se dizer, porque há muito que a população vive constrangimentos, sofre assaltos, provocações, abusos de toda a ordem, diurnos e nocturnos, vezes sem conta, mesmo à vista de agentes da Polícia, sem que façam algo. Além da «lei da gasosa», que se tornou uma prática institucional, os homens que deviam zelar pela lei, tranquilidade e ordem pública, simplesmente fogem ao confronto com os delinquentes como gato escaldado foge da água fria. Há quem defenda que a Polícia trabalha, porque de vez em quando vai dando um ar da sua graça, apresentando aos órgãos de comunicação social, com destaque para a televisão, alguns delinquentes presos por diversos motivos, na sua maioria miúdos, que alguns dias depois já são vistos soltos pelas ruas, vangloriando-se nos seus bairros e locais onde cometeram crimes e fizeram vítimas. Contudo, a delinquência mesmo, aquela que já tem contornos de crime organizado e de crueldade extrema, essa continua a fazer das suas e mais: está a crescer e a enraizar-se a uma velocidade estonteante que, brevemente, será muito difícil controlar.