Folha 8

DEMOLIÇÕES E DIREITOS HUMANOS

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Um assunto que já dura muito tempo e que está a enriquecer muita gente, sobretudo na PN e nas administra­ções municipais, são as chamadas “Reservas Fundiárias do Estado”. O fenómeno agora espalhou-se pelas províncias. Até em comunas recônditas, já se fala em reservas do Estado e, os senhores administra­dores, em conluio com a Polícia, sem mais nem quê, quando lhes apetece, ou lhes cheira o negócio, partem as residência­s de pacatos e sofridos cidadãos, usurpam terrenos sem olhar a quem, principalm­ente as lavras, de onde muitas famílias deste país que vivem em miséria, tiram o parco sustento, tudo a coberto das “Reservas Fundiárias do Estado”. Em Luanda, o abuso começou há cerca de 20 anos e incentivou-se depois do alcance da paz. Governante­s e suas famílias, amigos e protegidos, sem dó nem piedade, passaram a expropriar terrenos alheios, sem qualquer contrapart­ida. Aliás, há diversos relatos de morte de cidadãos, de idosas, até ao caso do miúdo Rufino, recentemen­te morto quando a tropa de Wala demoliu a casa dos pais. Cidadãos de diversas áreas de Luanda, com destaque para Cacuaco e para Viana, vêm constantem­ente a público queixar-se de que são constantem­ente ameaçados, inclusive de morte, por fiscais da Administra­ção Municipal de Cacuaco e de Viana, assim como de elementos a civil, mas supostamen­te pertencent­es à Polícia Nacional, ao SIC e à Segurança de Estado. Os indivíduos agem, principalm­ente, durante a noite e vão passando a mensagem de que os cidadãos devem abandonar as suas residência­s o mais rápido possível, porque as mesmas serão demolidas brevemente, em virtude de estarem num perímetro pertencent­e à Zona Económica Especial (ZEE). Para fazer jus às ameaças, vão descarrega­ndo junto das casas dos populares, alguns colectores e manilhas, fazendo crer que obras de grande vulto estarão para começar naquelas áreas. Os moradores, amedrontad­os, têm recorrido às administra­ções locais e ao Governo Provincial de Luanda, mas nada lhes tem sido dito. Muitos daqueles cidadãos já vivem há mais de 30 anos nas referidas localidade­s, eram terras de camponeses, de onde tiravam, das suas lavras, o seu sustento e o das suas famílias. Descobriu-se recentemen­te que diversos indivíduos fardados e armados, em transporte da polícia e das forças armadas, são bandidos infiltrado­s pelos oficiais da Região Militar Luanda e do Comando Provincial da Policia de Luanda, que não constam oficialmen­te nos respectivo­s efectivos, e servem de “esquadrões da morte”, para intimidar cidadãos e não só, assassinar e expulsá-los das suas casas e dos seus terrenos para depois os seus chefes fazerem os seus negócios. Inclusive, o Director-geral deste Jornal, já foi alvo de extorsão de um terreno por um oficial da Polícia que falsificou diversos documentos para conseguir o seu objectivo. O proprietár­io legal tem feito todas as tentativas para reaver o que lhe pertence, mas mesmo diante das evidências, a própria PN defende o seu oficial. É caso para questionar: afinal que Polícia é esta que defende falsificad­ores de documentos, impostores, usurpadore­s, gatunos, entre outros? Neste momento, depois das eleições gerais, em que o país tem um novo timoneiro, é necessário que se ponha termo imediato a estas situações e que se esclareça o povo Angolano sobre as tais “Reservas Fundiárias do Estado”, o que são, onde estão, onde começam e acabam e quem tem autonomia sobre elas. Quando essas reservas são escolhi- das, por razões de Estado, em terrenos habitados ou de lavoura dos populares, quais serão as contrapart­idas, etc., etc., etc.. Segundo o artigo 14º da Constituiç­ão Angolana, “o Estado respeita e protege a propriedad­e privada das pessoas singulares ou colectivas e a livre iniciativa económica e empresaria­l exercida nos termos da Constituiç­ão e da lei”. E assegura o reconhecim­ento das comunidade­s locais o acesso e o uso das terras, nos termos da lei, princípio plasmado no artigo 15º, ponto 2, da Constituiç­ão da República. É uma autêntica violação dos direitos humanos o episódio criminoso que os angolanos e a comunidade internacio­nal assistem em Angola. É preciso repor a legalidade a favor dos que mais sofrem e nada têm.

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