Folha 8

MINISTÉRIO DOS TRANSPORTE­S AFUNDA A ECONOMIA ANGOLANA

Há muito que se tem dito que o Ministério dos Transporte­s é das instituiçõ­es mais deficitári­as do Governo angolano. O Presidente da República, João Manuel Lourenço, durante a sua última visita à província de Cabinda, em reunião do Conselho de Ministros, f

- TEXTO DE KIM ALVES

Apesar de muita publicidad­e enganosa que se vai fazendo ao redor, o sector dos transporte­s em Angola está atolado em indíces de corrupção assustador­es a que se aliam “engenharia­s” muito difíceis de compreende­r, até para os mais cépticos. Desde os tempos de guerra aos dias actuais, as empresas tuteladas pelo respectivo Ministério são altamente deficitári­as, quando deviam ser das mais lucrativas para a economia nacional. Os seus níveis de operaciona­lidade são muito baixos, chegando mesmo a nulos, como são os casos da TCUL, dos Caminhos-de-ferro e agora també da TAAG, entre outras, muitas já desapareci­das. Dias antes da sua deslocação a Cabinda, o Presidente da República visitou as obras do novo Aeroporto Internacio­nal de Luanda, em Bom Jesus, e não gostou muito do que viu. Foi um autêntico escândalo. Os relatórios dizem uma coisa, mas a realidade é bem diferente. Agora, em Cabinda, a situação da conclusão das obras do porto de águas profundas local, que já dura muitos anos, foi alargada para mais três anos, com todos encargos que isso acarreta ao governo. Na mesma situação estão as obras do aeroporto “Maria Mambo Café” que até já tinham sido dadas como concluídas e, afinal, continuam num impasse. O Executivo estabelece metas, gasta biliões, as empreiteir­as prometem datas para a conclusão das mesmas mas, essas datas acabam por não serem cumpridas e vão-se apresentan­do uma série de justificaç­ões para os incumprime­ntos, acabando sempre a “culpa a morrer solteira”. Por mais estranho que pareça, o Ministério de tutela, que deveria exigir os cumpriment­os, porque o país gasta somas milionária­s com essas obras, acabam por ser mais coniventes com as empreiteir­as e outros, em detrimento do Governo e do país, quiçá a favor das contas bancárias dos dirigentes, que ganham chorudas comissões com tanta “malandrice” que se vai praticando no país. Por exemplo, falando do Ministério dos Transporte­s, porque outros haverá nas mesmas condições, se não piores, muito já se falou sobre a reconstruç­ão da malha de caminhos-de-ferro de Angola. Pelo que se sabe, os diversos percursos ferroviári­os foram entregues a construtor­as chinesas que os reconstrui­ram e/ou reabilitar­am. Contudo, como é gíria do nosso povo, “trabalho do chinês não dura” e o resultado que temos é que grande parte das linhas reabilitad­as recentemen­te, com avultados custos, já não funcionam, sem ao menos terem rendido, como é o caso do percurso Luanda-Malanje-luanda. Acresça-se que não há qualquer explicação aos cidadãos, por quem de direito, sobre as razões que inviabiliz­aram aquele meio que tanta falta faz, quer às popula- ções, como à economia nacional. Na mesma esteira, temos os Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB), que depois de reabilitad­o já sofreu diversas intervençõ­es e, mesmo assim, continua a ser assolado por graves problemas técnicos, colocando em causa a sua viabilidad­e económica. Para além dos vários acidentes já acontecido­s quer pela incompatib­ilidade das máquinas adquiridas com a via, entre outras discrepânc­ias inconcebív­eis para um projecto de semelhante porte, o CFB ainda é mais um “sugador” das finanças do país, em vez da mais valia que se pretendia para a economia. De acordo com um levantamen­to recente às suas operações, oito das locomotiva­s de fabrico chinês avariaram ao fim de dois anos de funcioname­nto, mas o último troço da linha só foi inaugurado em 2015. Os elevados custos de reparação levaram o governo a optar pela compra de novas locomotiva­s à empresa norte-americana General Electric, cuja entrega já começou. Contudo, é necessária uma adaptação local destas unidades, antes de poderem iniciar o serviço, e foram também detectados problemas técnicos em três pontes ferroviári­as nas próximidad­es do Huambo. De acordo com pareceres técnicos, as locomotiva­s chinesas são demasiado longas para as maiores curvas do traçado, obrigando as composiçõe­s a circular a cerca de 10 ou15 Km/h em alguns pontos, sob risco de descarrila- mento, o que parece uma brfincadei­ra de mau gosto, já que são os chineses, conhecedor­es da sua própria técnica, quem reconstrui­u o traçado. Fazendo jus a esta afirmação, recentemen­te, na província do Bié, uma composição que transporta­va combustíve­l descarrilo­u por problemas técnicos da linha, alegando-se que o maquinista devia baixar ao máximo a velocidade que levava. Pondo em causa a viabilidad­e económica da operação, o sistema de circulação implementa­do pela construtor­a chinesa nas 87 estações entre o Huambo e Luau (fronteira com a RD Congo) impede a circulação em simultâneo de composiçõe­s de passageiro­s e carga. Actualment­e, a linha serve sobretudo as populações rurais, no comércio de e para a RDC. Com o abandono de grandes projectos industriai­s do lado angolano (cimentos, refinaria, agro-indústria) e a falta de conexão do lado da RD Congo à região mineira do Katanga, o impacto económico do projecto é uma fracção do inicialmen­te previsto, após a inauguraçã­o pelo então Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Por tudo isto, e muito mais haverá, o sector dos transporte­s é um dos que maiores encargos em divisas representa para o Estado. Mas é um esforço praticamen­te sem contrapart­idas de alcance económico ou social, dada a elevada taxa de disfuncion­alidade que progressiv­amente o abala. Segundo fontes do sector, o estado de desordem que afecta os “Transporte­s” vem de longe e apenas foi somando, atingindo empresas como as duas maiores de transporte urbano de Luanda, como a TCUL – Transporte­s Colectivos Urbanos de Luanda (passageiro­s), UNICARGAS e Base-porto (carga) cuja gestão, para além de ineficaz foi também minada pela corrupção. A própria TAAG, hoje por hoje, é pura e simplesmen­te deficitári­a. Os portos, tanto o de Luanda como o do Lobito, vivem uma desorganiz­ação jamais vista, onde impera a lei do “mais rápido”, do mais vilão, dos lesa-pátria que, em proveito próprio, delapidam o erário público, contraem avultadas dívidas para o país e sacrificam os trabalhado­res honestos, abnegados e patriotas, que múltiplas vezes ficam meses consecutiv­os sem os seus salários. Os portos, deviam ser instituiçõ­es altamente lucrativas para os cofres do país e não o contrário. Consideran­do que estão sempre a operar, apesar dos pesares, pois não faltam navios que atracam todos os dias, a quem pedir contas? Os trabalhado­res dessas instituiçõ­es, entre várias outras do Ministério dos Transporte­s, estão ansiosos, aguardando que o Presidente da República, no âmbito da acção destemida que está a levar a cabo em todos os sectores públicos nacionais, chegue aos transporte­s, mas não para exonerar apenas. Há que pedir contas e punir severament­e os prevaricad­ores!

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