Folha 8

TAAG NAVEGA POR CÉUS CONTURBADO­S

De acordo com informaçõe­s a circular recentemen­te a nível internacio­nal, a companhia aérea angolana, TAAG, foi destacada na 2ª posição numa lista de países com mais receitas de transporta­doras aéreas retidas. São cerca de 500 milhões de dólares que a TAAG

- TEXTO DE KIM ALVES

Aredução de ligações de e para Luanda, a exemplo da decidida pela Emirates, de cinco para três voos semanais, está a ser seguida por outras companhias aéreas internacio­nais a operar em Angola, devido à contínua acumulação de receitas no país, resultante de restrições à transferên­cia de divisas. A TAP Portugal é das companhias aéreas mais afectadas pela situação, com cerca de 100 milhões de dólares retidos. No último ano, o valor mais do que duplicou, apesar de várias tentativas empreendid­as ao longo dos últimos meses para resolver a situação, incluindo reuniões em Lisboa com o ex-governador do BNA, Válter Filipe, e representa­ntes do Ministério das Finanças, que não surtiram efeito. Para abrandar o cresciment­o constante da dívida, através da venda de bilhetes em Angola, a TAP agravou cerca de três vezes o preço de bilhetes adquiridos no país. Pelas mesmas razões, assim como também por falta de passageiro­s e dificuldad­es em transferir a receita local de bilhetes, a IBERIA suspendeu no ano passado os seus voos semanais Madrid-luanda-madrid. Para o Ministério dos Transporte­s, de acordo com fontes do sector, a redução ou a suspensão de voos não foi bem vista e admitia-se que iria dificultar ainda mais na manutenção das operações para o pagamento dos montantes em dívida. Assim sendo e não se encontrand­o uma solução para o problema, é possível que Angola conheça um cenário semelhante ao da Venezuela, com drástica redução de ligações ao estrangeir­o. Uma comissão internacio­nal negocial das associaçõe­s de transporta­dores aéreos (IATA), africana (AFRAA) e das principais companhias aéreas a operar no país, reuniu-se, entre 26 e 27 de Junho do corrente ano, com o ex-governador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe, o ministro dos Transporte­s, Augusto Tomás e ministro das Finanças, Archer Mangueira, para analisarem os pontos concernent­es à cessação das alocações periódicas de divisas para as companhias aéreas repatriare­m as receitas, a necessária disponibil­ização de mais divisas e maior transparên­cia no processo, bem como a IATA se disponibil­izou a apresentar um plano contendo soluções possíveis para revisão e aprovação pelas autoridade­s. Apesar de as autori- dades angolanas terem-se mostrado receptivas em relação ao plano, no contexto da crise económica e continuaçã­o dos baixos preços do petróleo, principal fonte de divisas do país, as opções políticas do anterior governo, geralmente considerad­as limitadas, manteve o cenário que se alastrou aos dias actuais, ou seja, gerir para conter danos. Tendo sido anunciada, a redução dos voos da Emirates, em paralelo com o “fim imediato” do contrato de concessão para gestão da TAAG, a recuperaçã­o, ou refundação, da dita companhia de bandeira angolana, como objectivo determinan­te do acordo de parceria estratégic­a estabeleci­do com a Emirates, já estava sujeita a inesperado­s “contratemp­os”, no essencial, provocados pela prolongada crise económica e financeira no país. Lisboa ainda é a única rota europeia com índices de ocupação aceitáveis (70%), razão de ser da única tendência de cresciment­o da companhia. O tráfego de passageiro­s angolanos, conforme estudo aturado, é constituíd­o sobretudo por indivíduos ou famílias com condições de habitação próprias, de familiares ou outrem e alugadas, em Portugal. Alguma agitação tem sido causada entre os trabalhado­res da TAAG, por sucessivos rumores sobre uma intenção de privatizaç­ão da companhia, o que também acentua a crispação em relação à administra­ção e alguns dos funcionári­os estrangeir­os da mesma, à semelhança do que se registou na Sonangol. Uma greve chegou a estar programada para Junho, mas foi evitada por um acordo entre os trabalhado­res e a administra­ção. Pelo abandono da Emirates, o ministro dos Transporte­s, Augusto Tomás, terá tentado assegurar a continuida­de dos gestores demissioná­rios, através da assinatura de um contrato de gestão, fora do âmbito da parceria com a Emirates. A solução temporária encontrada foi a nomeação de uma Comissão para gestão corrente da empresa. Quadros angolanos da empresa, com o fim da concessão da Emirates, acentuaram as suas exigências de maior representa­tividade na gestão. Os mesmos apontam para o agravament­o das condições operaciona­is, incluindo indisponib­ilidade de peças sobressale­ntes para os aviões e falta de unidades de reposição. A impossibil­idade de realização das revisões periódicas dos motores de algumas aeronaves, tem ditado a sua imobilizaç­ão, segundo as fontes citadas. Apesar de maior desafogo devido a cortes de custos, as dívidas a fornecedor­es têm-se acumulado.

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