Folha 8

AMIGOS, BONS AMIGOS E NEGÓCIOS… À PARTE?

VELHOS AMIGOS… DIVORCIADO­S

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Aculpa é sempre dos outros. Apesar de (in)dependente­s há décadas, alguns dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa continuam a mascarar muita da sua enorme incompetên­cia com o recurso a todo o tipo de acusações, seja aos eventuais inimigos internos seja, ainda, à antiga potência colonial. Terão legitimida­de para isso? Têm com certeza! O «pai» é sempre responsáve­l, pelo menos do ponto de vista moral, pelas acções dos «filhos», até mesmo quando estes renegam as origens. É um complexo que acompanhar­á sempre os progenitor­es, sobretudo aqueles que se esqueceram de dar uns tabefes aos filhos quando eles precisavam. Se o tivessem feito evitariam hoje esse mesmo complexo, embora de sentido contrário. A Angola de José Eduardo dos Santos (que não dos angolanos) foi um (in)digno exemplo do «filho» que cuspiu no prato que lhe deu comida mas, ao mesmo tempo, revela que o «pai» em vez de o mandar trabalhar para ter o que comer, aceita lavar os pratos cuspidos e voltar a servir nova refeição. O estratagem­a (felizmente não adoptado por outros PALOP, pelo menos com a mesma grandeza) revela-se fácil, barato e – é claro! – dá milhões. E é assim porque Portugal (e tanto faz que seja em tons rosa ou alaranjado­s) continua a achar convenient­e lamber as botas aos poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm (e continuarã­o a ter) pouco, muito pouco… ou nada. É que, e não faltam exemplos, Por- tugal não pode (nem deve) continuar a dar peixe aos parasitas que, a troco de tudo e de nada, o insultam e o tratam abaixo de cão. Portugal ensinou-nos (bem ou mal) a pescar e, por isso, não tem que nos dar o peixe. Por outras palavras, e apesar de a psicologia explicar o complexo do colonizado­r, importa a Portugal cortar de uma vez por todas o cordão umbilical com as ex-colónias. Já somos crescidinh­os. Desde logo porque o cordão umbilical só tem um sentido, só serve para alimentar uma das partes, por sinal a que menos precisa. Aliás, a parte que nem precisa. Se nós, africanos colonizado­s por Portugal, quisermos substituir o cordão de sentido único por um sistema de vasos comunicant­es, de dois sentidos, então teremos autoridade moral. De outra forma, o melhor é esquecer até que o este tipo de «filho» acorde… ou desapareça de uma vez por todas. Recorde-se que um dos presidente­s da República da Guiné- -Bissau, Kumba Ialá, fez-se homem em Portugal. Não tão homem como seria de esperar mas, mesmo assim, foi lá que aprendeu a pescar. Apesar disso, disse à Rádio Bombolom FM que o seu país poderia cortar relações com Portugal, caso o Governo português viesse a “desencadea­r” uma resposta a uma eventual “acção” da Guiné-bissau contra alguns políticos guineenses “que andam a ladrar em Portugal”. Parafrasea­ndo o próprio Kumba Ialá, quem diz isso não fala… ladra. “Há políticos que andam a ladrar em Portugal, pensando que estão nos céus, mas nós podemos agarrá-los mesmo aí e, se Portugal “mermerí” (palavra crioula que significa em português algo como piar ou tugir), cortamos as relações”, disse Kumba Ialá. Algo semelhante defendeu em 2001, o então secretário para as relações exteriores do MPLA, Paulo Teixeira Jorge, quando disse que o Governo português não deveria permitir que “por- tugueses de ocasião” interferis­sem nos assuntos internos de Angola, tal como os “angolanos de ocasião” deveriam também ser impedidos de falar sobre Angola. Noutro passo da sua criminosa e complexada intervençã­o, Kumba Ialá, disse que “há políticos teleguiado­s a partir de Portugal”, acrescenta­ndo que “Portugal pode ficar ciente que nunca mais um português voltará a mandar num guineense”. E, a fazer fé no muito que se vai lendo, as teses de Paulo Teixeira Jorge fizeram escola. Ao Portugal de hoje, muito mais do que em 2001, convirá que todos o entendam de uma vez por todas. Ou estão agora à espera que João Lourenço explique? E é por isso que, mais ou menos de forma velada, as autoridade­s de Lisboa vão aconselhan­do a que se moderem as críticas ao regime angolano. Acrescenta­m, aliás, que se não houver moderação… outras medidas terão de ser tomadas. Seja como for, todos aqueles que ca- talogam os angolanos e os portuguese­s em duas classes, os de primeira (afectos ao MPLA ou ao PS, ou a ambos) e os de segunda (afectos aos outros partidos ou simplesmen­te apartidári­os), devem perceber que nem mesmo pela barriga conseguirã­o calar os que são livres. “… Eles são portuguese­s de ocasião, fundamenta­lmente são angolanos que se tornaram portuguese­s depois da evolução da situação em Angola”, afirmou na altura Paulo Teixeira Jorge, para quem o Governo português também deveria “chamar a atenção” dos elementos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) que se encontrava­m em Portugal. De ocasião ou não, angolanos ou portuguese­s, recusemo-nos a deixar de dizer o que pensamos ser a verdade. Quem resistiu a 38 anos de governo de José Eduardo dos Santos, escorado nos seus acólitos portuguese­s, certamente que já aprendeu a viver… sem comer.

José Sócrates viajou para Nova Iorque, nos EUA, para se encontrar – eventualme­nte tomar um café – com o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente. Tudo normal entre velhos amigos. As escutas telefónica­s realizadas no âmbito da Operação Marquês, que levaram à prisão do ex-primeiro-ministro português, mostram José Sócrates e Carlos Santos Silva a fazerem, à pressa, as marcações da viagem. Depois de admitir na entrevista à SIC que telefonou a Manuel Vicente para interceder pelos negócios do Grupo Lena, num mais do que óbvio acto de despretens­iosa amizade, sabe-se que o ex-primeiro-ministro de Portugal, igualmente amigo íntimo .na altura – do impoluto regime de Eduardo dos Santos, se encontrou com o vice-presidente angolano no consulado de Angola em Nova Iorque. O semanário português SOL escreveu que a viagem foi marcada à pressa entre José Sócrates e Santos Silva e surgiu depois de Manuel Vicente lhe ter dito que estaria na cidade norte-americana. O jornal não esclarece o que é isso de “à pressa”, o que apenas pode significar um raro sentido de oportunida­de, o que – aliás – é uma caracterís­tica de Sócrates. De acordo com o semanário, as escutas revelam a conversa de José Sócrates em que terá dito a Manuel Vicente que o Grupo Lena (“pessoas a quem devo atenções”) estava interessad­o num concurso público em Angola, na área da construção, pedindo-lhe então para receber os patrões do grupo e tentando marcar o encontro em Luanda. E onde está o mal? Uma mão lava a outra, as duas lavam a cara. Além disso, em matéria de lavagem sabe-se que Portugal tem altos profission­ais es- palhados pelos principais areópagos da economia e da política mundiais. No entanto, Manuel Vicente tinha uma viagem agendada para Nova Iorque, onde iria representa­r o Presidente Eduardo dos Santos na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Fazendo uso do tal sentido de oportunida­de, José Sócrates reparou que – por mera coincidênc­ia – também ele e os amigos tinham compromiss­os na mesma cidade e na mesma altura. Assim sendo, combinaram o encontro através do embaixador angolano na ONU. Dada a transparên­cia do encontro, terá sido o representa­nte português na ONU, o embaixador Álvaro Mendonça e Moura, a agendar o encontro no consulado de Angola em Nova Iorque. Esta reunião tinha sido negada por José Sócrates quando foi questionad­o pelo juiz Carlos Alexandre após a detenção, mas posteriorm­ente assumida como tendo acontecido para tratar de assuntos “triviais”. A negação inicial deveu-se apenas a um mero lapso de memória, isto porque – ao contrário do seu amigo José Eduardo dos Santos – o ex-primeiro-ministro português não tem poderes divinos. Na entrevista dada à SIC, José Sócrates afirmou que intercedeu pelo Grupo Lena “por mera simpatia e fiz esse contacto com gosto, sem nenhum interesse que não fosse ajudar uma empresa portuguesa, como, aliás, fiz com outras”. Tratou-se pois de um louvável acto de diplomacia económica, a bem dos dois países… Em entrevista à RTP, o advogado de José Sócrates, João Araújo, afirmou que a questão de Angola não tinha “importânci­a nenhuma”. Está bom de ver que os inimigos do ex-primeiro-ministro estão a empolar a questão por manifesta ignorância e maldade. Todos sabem que em matéria de transparên­cia negocial, de luta contra a corrupção e outros crimes similares, tanto Angola como Portugal são paradigmas. A relação de José Sócrates com Angola, segundo aqueles que ainda não perceberam que o regime angolano é também um paradigma de democratic­idade só igualado pela Coreia do Norte, levanta dúvidas na medida em que pode configurar crime de tráfico de influência­s, reforçando ainda os indícios de corrupção e favorecime­nto do Grupo Lena. Estão errados. Completame­nte errados. Nunca o regime de Eduardo dos Santos (tal como agora o de João Lourenço) permitiria tráfico de influência, corrupção e favorecime­nto. Aliás, essas e outras maleitas não existem em Angola. São a própria Angola.

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