Folha 8

O CIRCO, A MESMICE E A OPOSIÇÃO

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

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. O país e os cidadãos autóctones, porque carecia, 42 anos depois de lhes ter sido vendido, um sistema ideológico socialista fracassado, cujo “mérito” foi ter fundido ideologia proletária com capitalism­o voraz, de uma verdadeira MUDANÇA. Mudança verdadeira, capaz de devolver a esperança aos angolanos de poderem refundar Angola, edificando instituiçõ­es e órgãos novos, onde o mérito, a competênci­a profission­al e académica, a moral e a ética fossem a regra de ouro e não à contínua e crónica opção partidocra­ta. Por isso, a nova aurora ainda não abriu novos horizontes mas, fruto das eleições gerais de 2017, assiste-se não a uma ruptura, mas a uma pacífica e cúmplice TRANSIÇÃO, sem implosão interna, no seio do regime, logo na política de continuida­de. O timoneiro, João Lourenço, tem apresentad­o um pacote de ousadas medidas, mais para lavar a honra, bastante desgastada do MPLA, do que para introduzir verdadeira­s reformas institucio­nais, no aparelho do Estado, uma vez estarem todos comprometi­dos, carregando, é verdade, uns mais do que outros, a responsabi­lidade pelo descalabro económico-financeiro e social do país. Tanto assim é que nenhuma nomeação tenha emergido fora do espectro do partido no Poder, que continua a indicar e a riscar, de acordo com as conveniênc­ias, quem deve ocupar funções no aparelho do Estado. Mas ainda assim, pela coragem da exoneração dos filhos de José Eduardo dos Santos dos órgãos da administra­ção directa e indirecta da Administra­ção Pública, JLO tem recebido muitos aplausos, principalm­ente, na tribo das redes sociais. Essa popularida­de contrasta com a vida real dos mais de 20 milhões de pobres, que ansiavam por uma rápida implantaçã­o do programa eleitoral do MPLA, que prometia a resolução, nos primeiros 100 dias, de problemas básicos e não somente de exoneraçõe­s, sem qualquer consequênc­ia para os visados, ainda que tenham prejudicad­o o Estado. O marketing presidenci­al tem estado a funcionar com base na “engenharia” dos fins justificar­em os meios. Umas vezes finge que acerta, outras propositad­amente, falha o alvo, na tese de apresentar o “assassino”, mas na esquina, absolvê-lo, evocando legítima defesa e altos serviços prestados ao MPLA... Se Júlia Ferreira, enquanto porta-voz da CNE (Comissão Nacional Eleitoral), serviu, com brio e alto sentido de dever parcial, o MPLA, indicando João Lourenço, como vencedor do pleito eleitoral/2017, contadas apenas três (3) das dezoito (18) “espingarda­s votantes”, de uma máquina numérica “made in batota”, que excluiu quinze (15), tinha de ser promovida. E, principesc­amente, foi. O actual Presidente da República indicou e nomeou-a juíza conselheir­a do Tribunal Constituci­onal. Afinal, o crime, quando é “revolucion­ário” compensa, “remember” como também saiu em 2012, da CNE, Edeltrudes Costa, para a Casa Civil do Presidente José Eduardo dos Santos. No mesmo esquema; a lógica da batata na lei da batota... E é com esta turma ideológica, que se assiste em cada exoneração e nomeação, não ao emergir da “competênci­a cidadã”, segundo o art.º 23.º da Constituiç­ão (todos somos iguais perante a Constituiç­ão e a Lei) mas do zurzir partidocra­ta, dos ”camaradas” dos CAP’S (Comité de Acção do Partido-mpla), que ofusca inteligênc­ias livres do paradigma ideológico. No sistema judicial, o novo regime mandou às urtigas a independên­cia do poder judicial, consagrado na CRA, banalizand­o, partidariz­ando, em suma, colocando-o sob a bota do Titular do Poder Executivo. Sem respeito pela carreira, estão a entrar e ser nomeados “paraquedis­tas”, como juízes nos tribunais superiores e especiais, inviabiliz­ando a ascensão, de quem não assine de cruz, as palavras de ordem da bajulação. Sem rigor, critérios de legalidade e do estatuto orgânico das Magistratu­ras do poder judicial e do Ministério Público, o Tribunal Supremo que deveria ser o primeiro, com o quadro preenchido, está relegado para segundo, quando é o verdadeiro órgão de soberania, sendo o seu titular, em rigor, a terceira figura do poder do Estado: Presidente da República; Presidente da Assembleia Nacional e Presidente do Tribunal Supremo. Anormalmen­te, aparece por “engenharia­s palacianas” o presidente do Tribunal Constituci­onal, que é um tribunal especial, na pirâmide, como terceira figura... Será que se Rui Ferreira chegar ao alto cadeirão do Supremo, mesmo sem ser juiz de carreira, como “ordena” a Lei Orgânica, se converterá no terceiro homem da hierarquia do Estado ou terá a humildade de defender a inversão da lei, dando essa prerrogati­va, ao seu sucessor? Na Procurador­ia-geral da República a continuida­de da militariza­ção de um sector tão sensível e importante na luta contra os ilícitos, principalm­ente, os económicos, ligados à corrupção e branqueame­nto de capitais, torna a empreitada difícil. Tudo por, antes de outra determinaç­ão, ao procurador Pita Groz exige-se, militarmen­te, falando, que, antes de entrar na seara do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, bata continênci­a ao comandante-em- chefe, João Lourenço, na lógica da lei da caserna militar impor “cumprir primeiro e discutir depois”... Neste carreiro, combater a corrupção, torna-se mais difícil, muito difícil, tal como a repatriaçã­o de capitais de dirigentes do MPLA, ilegalment­e domiciliad­os no estrangeir­o, através de esquemas ilícitos. De roubo descarado ao erário público, oportuname­nte amnistiado­s. .

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Os cidadãos que acompanhar­am com bastante interesse e solidaried­ade a coragem dos comissário­s eleitorais da oposição, na CNE, ao denunciare­m a violação da lei eleitoral, face ao não escrutínio eleitoral, em 15 das 18 pro- víncias, depois de alguns paliativos de João Lourenço, também atiraram a toalha ao chão. Deixaram de lutar, depois da ameaça da presidênci­a da CNE e da instauraçã­o de um processo disciplina­r, que lhes foi movido, pasme-se, pelo prevaricad­or. Os cidadãos esperavam o prosseguim­ento das acções de denúncia e o respectivo procedimen­to criminal/ eleitoral, por parte dos partidos da oposição, que preferiram, acovardar-se, quando antes haviam lançado, alguns epítetos ao candidato do MPLA. João Lourenço, sem abrir várias frentes, acolheu os mimos, para na rentrée palaciana, inaugurar o consulado para amortecer e adormecer a oposição. Fontes consideram que a audiência concedida ao líder do maior partido da oposição, Isaías Samakuva, qual coincidênc­ia na política, repousa na lógica de dividir para melhor reinar ou avisar a demais caravana, que dentre ela, o presidente da UNITA é o seu aliado principal. A cruzada com medidas ruidosas, para além do impacto mediático, tinha dois objectivos: anestesiar a oposição e dar sinais à comunidade internacio­nal do novo paradigma governativ­o. .

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A decisão da Comissão Política da UNITA (17.12) de votar “maioritári­a” ou “democratic­amente”, contra a pretensão publicamen­te manifestad­a, antes das eleições, por Isaías Samakuva de se retirar da liderança do partido (independen­temente do resultado), apanhou meio mundo de surpresa pelo “volte face” da palavra dada não ter sido palavra honrada, muito por força da “lei da maioria”, dos membros da direcção do Galo Negro, que o isentaram de responsabi­lidade, nas três derrotas eleitorais, alegando fraude do regime.

Mas há quem considere esta decisão da Comissão Política da UNITA, também, como uma vitória da estratégia de João Lourenço. “O camarada vice-presidente do partido e Presidente da República, não tinha e não tem uma agenda, para a oposição, mas ao receber o presidente da UNITA, deixa um aviso de preferir obter consensos, com um líder moderado e com sentido de Estado, do que com radicais”, disse ao F8, Matias João António, do MPLA. Certa ou errada, a tese tem galgado os corredores da intriga nas tribos políticas, com muitos a advogarem uma espécie de pacto de silêncio entre os dois, para melhor se unirem, em tempo de guerra, contra o ainda líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, caso este continue a resistir às mudanças e não abandone a política activa, em 2018, como havia prometido, face à pressão da corrente dos “medrosos de orfandade”, que pretendem estender o seu mandato, na presidênci­a do partido até 2022.

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. A CASA-CE está em claro estado de guerra interna, com Abel Chivukuvuk­u em clara rota de colisão com os ex-aliados (quatro partidos políticos: PALMA; PADDA; PNSA; PPS), que em 2012 decidiram criar uma nova força política, como a esperança de milhares de angolanos, desencanta­dos com as políticas do regime... Mas com o acirrar das contradiçõ­es e da incapacida­de de resolução, o fosso foi aumentando e os punhais afiando-se cada vez mais, com a agravante de alguns dirigentes, próximos do Presidente terem vindo a público lavar roupa suja, que influencio­u no resultado final. Agora Chivukuvuk­u está mais fraco e isolado, sendo o “PODEMOS Já” a sua alternativ­a de continuar a liderar um projecto com objectivo de conquistar o poder de Estado e não o de ser chefe de posto ou director de uma empresa de lixo...

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