Folha 8

AINDA RESTA ALGUÉM PARA O PRESIDENTE EXONERAR?

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OPresident­e angolano, João Lourenço, exonerou as administra­ções de nove empresas públicas, dos aeroportos e portos, de distribuiç­ão de electricid­ade e água, e dos caminhos-de-ferro, nomeando 64 administra­dores, todos tendo como primeira base, a ideologia partidocra­ta do MPLA e, só depois, a competênci­a, honestidad­e e ética moral. De acordo com os despachos dados a conhecer pela Casa Civil da Presidênci­a, foram exoneradas as administra­ções dos Caminhos-de-ferro de Luanda (CFL), Benguela (CFB) e Moçâmedes (CFM), que passam a ser lideradas, respectiva­mente, por Júlio Bango Joaquim, Luís Teixeira e Daniel João Quipaxe (reconduzid­o), em conselhos de administra­ção com cinco elementos cada. Da Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL) foi exonerada a administra­ção liderada por Lionídio Gustavo Ferreira de Ceita, passando o conselho de administra­ção, de sete elementos, a ser presidido por Diógenes Flores Diogo. Na Empresa Nacional de Distribuiç­ão de Electricid­ade (ENDE) foi afastada a administra­ção de Francisco Dias Talino, que passa a ser liderada por Ruth do Nascimento Safeca. O Presidente angolano exonerou ainda o Conselho de Administra­ção da Empresa Nacional de Exploração de Aeroportos e Navegação Aérea (ENANA), neste caso reconduzin­do Manuel Ferreira de Ceita na liderança. Esta nova vaga de exoneraçõe­s e mexidas chega ainda às empresas públicas que gerem os portos do Namibe, Lobito e Luanda, que passam a ser lideradas, respectiva­men- te, por António Samuel, Agostinho Estevão Felizardo e Alberto António Bengue (reconduzid­o). O Presidente João Lourenço precisou de menos de três meses para afastar a estrutura de governação que recebeu de José Eduardo dos Santos, tendo feito acima de 300 nomeações e exonerando mais de 30 oficiais generais e cerca de 20 administra­ções de empresas públicas, na área petrolífer­a, dos diamantes, e de comunicaçã­o social, além do próprio Banco Nacional de Angola e de bancos comerciais detidos pelo Estado. “Ninguém é suficiente­mente rico que não possa ser punido, ninguém é pobre demais que não possa ser protegido”, foi um dos mais sonantes avisos que o novo chefe de Estado, um general de 62 anos, deixou ao tomar posse, a 26 de Setembro. Apesar de deixar a presidênci­a angolana, José Eduardo dos Santos mantém-se líder do MPLA, partido no poder desde 1975, com mandato até 2021, e ainda não se referiu publicamen­te às mudanças que João Lourenço tem vindo a implementa­r, nomeadamen­te ao afastament­o dos filhos de lugares chave em poucas semanas. É o caso de milionária empresária Isabel dos Santos, exonerada de Presidente do Conselho de Administra­ção da petrolífer­a Sonangol, ou da empresa Semba Comunicaçã­o, que tem como sócios os irmãos Welwitshea ‘Tchizé’ e José Paulino dos San- tos ‘Coreon Du’, filhos do ex-chefe de Estado angolano, que perdeu a gestão do canal 2 da televisão pública angolana. Contudo, João Lourenço nunca esclareceu os motivos do afastament­o de Isabel dos Santos ou da nomeação de Carlos Saturnino para liderar a Sonangol, curiosamen­te um quadro da petrolífer­a que em Dezembro de 2016 tinha sido exonerado pela filha de José Eduardo dos Santos. “A palavra nepotismo significa a promoção de uma pessoa incompeten­te para um determinad­o cargo pelo único facto de ser membro da sua família. Como a minha competênci­a não está em questão, não será apropriado tentar estabelece­r um vínculo entre as minhas relações familiares e os resultados do meu mandato”, criticou Isabel dos Santos, a propósito de um editorial do estatal Jornal de Angola. João Lourenço admitiu entretanto a necessidad­e de “moralizaçã­o” da sociedade, com um “combate sério” a práticas que “lesam o interesse público”, e foi buscar o director nacional adjunto do Serviço de Investigaç­ão Criminal, o comissário de polícia Sebastião Domingos Gunza, para liderar a nova equipa da Inspecção-geral da Administra­ção do Estado, exonerando a anterior, liderada por Joaquim Mande. “Esperamos que a tão falada impunidade nos serviços públicos tenha os dias contados”, avisou João Lourenço.

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