Folha 8

AS ESCOLHAS PARA A PGR

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Entretanto, o general Hélder Fernando Pitta Grós é o novo procurador-geral da República de Angola, nomeado para o cargo pelo Presidente Da República, João Lourenço, anunciou fonte da Presidênci­a. Hélder Pitta Grós era até agora vice-procurador-geral da República para a esfera Militar e procurador Militar das Forças Armadas Angolanas (FAA) e substitui no cargo o também general João Maria de Sousa, que atingiu o limite do mandato no início deste mês. O Presidente João Lourenço nomeou ainda Luís de Assunção Pedro da Mota Liz, que se mantém no cargo de vice-procurador-geral da República, e Adão Adriano António, para os cargos de vice-procurador-geral da República para a esfera Militar e Procurador Militar das FAA. Em 2015, Hélder Pitta Grós foi um dos poucos elementos do regime a comentar publicamen­te a escolha da também angolana Francisca Van Dunem para ministra da Justiça de Portugal. “Numa sociedade como a de Portugal não seria fácil, não foi fácil de certeza absoluta, que uma mulher negra chegasse a fazer parte de um Governo”, afirmou. “Também foi quebrar um bocado esse tabu que havia em Portugal: mulher negra não”, disse ainda o então vice-procurador-geral da República de Angola. No início deste mês o Conselho Superior da Magistratu­ra do Ministério Público propôs ao Presidente da República, João Lourenço, a promoção de três actuais procurador­es adjuntos para sucederem a João Maria de Sousa na liderança da Procurador­ia-Geral da República. A informação constava de uma deliberaçã­o daquele conselho, propondo Hélder Fernando Pitta Grós, Luís Mota Liz e Pascoal Joaquim, para aquelas funções. O procurador Pascoal Joaquim foi, no entanto descartado, pese a sua experiênci­a e competênci­a pelo facto de ser de Cabinda e estar ligado ao processo em que o ex-chefe da Casa de Segurança da Presidênci­a da República, general Hélder Kopelipa, o transferiu compulsiva e sob coacção, para Luanda, na companhia dos juízes Pitra e Morais acusados de apoiarem a FLEC e o padre Kongo, a quem havia sido dada ordem de prisão arbitrária, mas negada por um juiz, tal como a resistênci­a a extinção da associação cívica Mpalabanda. Face a esse comportame­nto, contrário as teses do regime, foram então deportados para Luanda, onde a sua ascensão tem sido difícil e quase negada. Recorde-se que o general João Maria de Sousa é licenciado em Direito pela Universida­de Militar de Moscovo, tem 66 anos de idade, foi nomeado a 3 de Dezembro de 2007 e empossado procurador-geral da República de Angola pelo então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, dois dias depois. Enquanto presidente do Conselho Superior da Magistratu­ra do Ministério Público, João Maria de Sousa convocou a 24 de Novembro uma reunião plenária daquele órgão, para desencadea­r o processo que levará o chefe de Estado a empossar o próximo procurador-geral da República. “Foram 10 anos de festa da corrupção em Angola, de incompetên­cia, inépcia e gosto de acobertame­nto dessas práticas. É um procurador que zelou pela corrupção”, afirmou, em declaraçõe­s recentes à Lusa, o activista Rafael Marques, autor de mais de 15 participaç­ões à PGR, desde 2007, com suspeitas de corrupção envolvendo o regime angolano. “Nenhuma delas avançou, a não ser aquela em que acusei o procurador de ser corrupto. Mantenho essa acusação e estou à espera de ser pronunciad­o e de ver o procurador em tribunal”, disse ainda. Para Rafael Marques, ao próximo procurador exi- ge-se “respeito pela lei e pelo cargo”, porque, afirmou, nos últimos 10 anos “não houve Justiça em Angola”. “Com este procurador cometeram-se as maiores injustiças neste país. Mesmo no tempo do marxismo-leninismo não era assim tão arbitrário. O general João Maria de Sousa foi um extraordin­ário promotor público da violação dos direitos humanos. Não vai deixar saudades”, criticou. João Maria de Sousa cumpre 40 anos ao serviço do Ministério Público angolano, nos foros Militar e Comum, e será agora jubilado. O estatuto orgânico da Procurador­ia-geral da República de Angola define que o procurador – e vice-procurador­es – “é nomeado e exonerado” pelo Presidente da República, “sob proposta do Conselho Superior da Magistratu­ra do Ministério Público”. O Presidente João Lourenço, no cargo desde 26 de Setembro, admitiu recentemen­te a necessidad­e de “moralizaçã­o” da sociedade, com um “combate sério” a práticas que “lesam o interesse público” para garantir que a impunidade “tenha os dias contados”. “No quadro da necessidad­e de moralizaçã­o da nossa sociedade, importa que levemos a cabo um combate sério contra certas práticas, levadas a cabo, quer por gestores, quer por funcionári­os públicos. Praticas que, em princípio, lesam o interesse público, o interesse do Estado, o interesse dos cidadãos que recorrem aos serviços públicos”, apontou João Lourenço.

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