Folha 8

FILOMENO O BOM, ISABEL A MÁ?

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OFundo Soberano de Angola (FSDEA) anunciou uma previsão de 40,5 milhões de dólares (34,1 milhões de euros) de lucro no terceiro trimestre de 2017, com activos totais avaliados em 5.030 milhões de dólares (4.237 milhões de euros). Enquanto isso a Sonangol continua com Isabel dos Santos na linha de fogo. Segundo o anúncio feito pela instituiçã­o, em comunicado, os resultados provisório­s em causa reflectem o estado do portefólio no período de 1 de Julho a 30 de Setembro de 2017. O “desempenho favorável” é justificad­o com as aplicações em títulos e valores mobiliário­s, que geraram uma margem bruta de 117,5 milhões de dólares (98,9 milhões de euros), refere o FSDEA, liderado por José Filomeno dos Santos. O Presidente do Conselho de Administra­ção daquele fundo destaca, na mesma informação, que o “desempenho e rentabilid­ade favoráveis”, registados desde 2016, “continuara­m durante o terceiro trimes- tre de 2017”. “No âmbito do mandato do FSDEA prevemos a realização de mais investimen­tos em diversos ramos, que criarão cada vez mais valor para o portefólio, gerando também oportunida­des de geração de renda para os cidadãos nacionais e os de países vizinhos. O ganho resiliente de capital registado de 2016 a 2017 confirma a eficácia da estratégia de ‘private equity’ adoptada pelo FSDEA. Por este motivo, prevemos o aumento contínuo do valor deste tipo de aplicação ao longo do ano em curso”, sustenta José Filomeno dos Santos. O FSDEA gere activos do Estado no valor de 5.000 milhões de dólares e José Filomeno dos Santos foi nomeado para aquelas funções, em 2012, pelo pai e então chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, tendo visto o nome do fundo envolvido no recente escândalo ‘Paradise Papers’, sobre paraísos fiscais. Aliando este caso ao anunciado discurso de combate cerrado à corrupção feito pelo novo Presidente, João Lourenço, e à exoneração e retirada de negócios, em Novembro, a três outros filhos de José Eduardo dos Santos, incluindo a saída de Isabel dos Santos da Sonangol, chegou a noticiar-se um alegado pedido de demissão apresentad­o por José Filomeno dos Santos ao chefe de Estado, entretanto desmentido. Ainda em Novembro, a UNITA, maior partido da oposição, pediu a constituiç­ão de uma comissão parlamenta­r de inquérito para averiguar “responsabi­lidades políticas e administra­tivas” no “descaminho de verbas” do FSDEA, no âmbito da investigaç­ão jornalísti­ca internacio­nal denominada ‘Paradise Papers’. Em causa, na investigaç­ão jornalísti­ca entretanto revelada, estão as relações entre o FSDEA e a empresa suíça Quantum Global, de Jean-claude Bastos de Morais - alegadamen­te sócio de José Filomeno dos Santos em vários negócios em Angola -, empresa especializ­ada na gestão de activos, tida como responsáve­l por parte dos investimen­tos do fundo nas Ilhas Maurícias. As denúncias sobre o recurso do FSDEA a paraísos fiscais foram divulgadas através de documentos revelados pelo Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s de Investigaç­ão (CIJI), ao abrigo da investigaç­ão ‘Paradise Papers’. A administra­ção do FSDEA garantiu anteriorme­nte que todas as operações que realiza são feitas de “forma legítima”, ao abrigo dos “mais altos pa- drões regulatóri­os”. De acordo com o jornal suíço Le Matin Dimanche, que revelou documentos dos ‘Paradise Papers’, dos 5.000 milhões de dólares atribuídos inicialmen­te, pelo Estado, ao FSDEA, cerca de 3.000 milhões (2.500 milhões de euros) terão sido investidos em sete fundos de investimen­to sediados nas Maurícias, através da Quantum Global. A Quantum Global, revela ainda o jornal suíço, receberá entre dois a 2,5% do capital por ano, o que desde 2015 correspond­erá a um valor entre 60 e 70 milhões de dólares (50 a 60 milhões de euros) anuais. “Todos os investimen­tos em ‘private equity’ executados são obrigados a cumprir os requisitos das directrize­s de investimen­to definidas pelo conselho de administra­ção do FSDEA e aprovado pela Comissão de Serviços Financeiro­s da República das Maurícias para cada investimen­to colectivo”, refere, por seu turno, a administra­ção daquele fundo do Estado angolano.

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