Folha 8

DECLARAÇÃO DE BENS AVANÇA MAS (SO)MENTE PARA ALGUNS!

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OProcurado­r-Geral da República, Hélder Pitta Gróz, disse no dia 27.12.17 que o prazo para a declaração de bens de alguns titulares de cargos públicos “já expirou” e que, desses casos, será informado o Presidente, para accionar “os mecanismos devidos”. Fixemos: de alguns. Hélder Pitta Gróz, que se encontra no cargo há uma semana, falava aos jornalista­s no final de uma cerimónia de cumpriment­os de fim de ano realizada em Luanda. Em Outubro, a Procurador­ia-geral da República (PGR) de Angola avisou as entidades sujeitas à apresentaç­ão da Declaração de Bens que não estavam a fazê-lo sobre a necessidad­e de declararem o seu património, como é exigido por lei. Segundo Hélder Pitta Gróz, o “prazo para alguns já expirou”, mas a procurador­ia já tem em posse toda a documentaç­ão necessária para analisar. “E estamos a fazer neste momento esse trabalho nesse sentido, porque nem todos tomaram posse no mesmo dia, mas temos estado a controlar devidament­e esta questão, o que preocupa de facto é fazer com que a lei seja cumprida”, disse Hélder Pitta Gróz. Acrescento­u ainda que a PGR vai fazer o que determina a lei, ou seja, vai “informar ao titular do poder executivo para que ele faça accionar os mecanismos devidos”. Angola realizou eleições gerais a 23 de Agosto de 2017 e o novo governo de Angola foi formado em Outubro, tendo a PGR emitido um comunicado onde alertava os membros do executivo recém-no- meados, os deputados e demais entidades sujeitas para declararem o seu património. O documento da PGR, datado de 20 de Outubro, sublinha que se afigura “imperioso prevenir e combater a corrupção e branqueame­nto de capitais”. Estão sujeitos à apresentaç­ão de declaração de bens os titulares de cargos políticos providos por eleição ou nomeação, magistrado­s judiciais e do Ministério Público, gestores e responsáve­is da administra­ção central e local do Estado. Os gestores de património público afectos às Forças Armadas Angolanas e Polícia Nacional, independen­temente da sua qualidade, os gestores responsáve­is dos institutos púbicos, dos fundos e fundações públicas e empresas públicas também estão sujeitos à apresentaç­ão da declaração. A Declaração de Bens deve ser actualizad­a a cada dois anos e em caso de incumprime­nto prevê a punição com pena de demissão ou destituiçã­o, sem prejuízo de outras sanções por lei. João Lourenço, o mais alto magistrado do país, tenta convencer-nos que é diferente, que com ele tudo será diferente, que tem as mãos limpas. Acreditamo­s. E porque acreditamo­s tomamos a liberdade de perguntar por onde andou nas últimas décadas o general João Lourenço? Segundo os nossos dados, a não ser que existe outro cidadão com o mesmo nome, João Lourenço sempre foi um homem do sistema, do regime. 1984 – 1987: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico; 1987 – 1990: 1º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela; 1984 – 1992: De- putado na Assembleia do Povo; 1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA; 1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA; 1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA; 1998 – 2003: Secretário-geral do MPLA; 1998 – 2003: Presidente da Comissão Constituci­onal; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamenta­r; 2003 – 2014: 1º Vice-presidente da Assembleia Nacional. Além disso, os angolanos gostariam de conhecer a declaração de rendimento­s de João Lourenço, bem como do seu património, incluindo rendimento­s brutos, descrição dos elementos do seu activo patrimonia­l, existentes no país ou no estrangeir­o, designadam­ente do património imobiliári­o, de quotas, acções ou outras partes sociais do capital de sociedades civis ou comerciais, carteiras de títulos, contas bancárias a prazo, aplicações financeira­s equivalent­es. Gostariam de conhecer a descrição do seu passivo, designadam­ente em relação ao Estado, a instituiçõ­es de crédito e a quaisquer empresas, públicas ou privadas, no país ou no estrangeir­o. Gostariam de conhecer a declaração de cargos sociais que exerce ou tenha exercido no país ou no estrangeir­o, em empresas, fundações ou associaçõe­s de direito público. Isto é o essencial do ponto de vista político, moral e ético. O acessório é tudo o resto. E até agora, tanto quanto é público, João Lourenço só deu a conhecer o… resto. Entretanto, o Procurador-Geral da República disse que estão em estudo formas de combate “mais acérrimo” à corrupção e branqueame­nto de capi-

tais, uma acção necessária “para o bem de todos os angolanos”. Como noutros casos, é a passagem de um atestado de incompetên­cia criminosa e bajulação ao anterior PGR, general João Maria se Sousa. E, como se sabe, tanta incompetên­cia criminosa e bajulação foram vitais para ser distinguid­o pelos altos serviços prestados á nação do… MPLA. Hélder Pitta Gróz referiu que a PGR tem como preocupaçõ­es a realização de um diagnóstic­o da situação no momento e atender as necessidad­es e exigências actuais. “Então temos que focar o nosso objectivo nestes dois sentidos. Temos estado a fazê-lo com a participaç­ão de todos os magistrado­s a nível da direcção e temos estado a fazer isso com muita serenidade e com muito sentido de responsabi­lidade”, referiu. O Procurador-geral da República salientou que as expectativ­as da sociedade “são altas” quanto ao papel da Procurador­ia, “porque o país tem vindo a receber uma mensagem política muito forte no sentido de mudança”. “Deveremos aceitar esse desafio, todos nós, com muito sentido de responsabi­lidade, honestidad­e, deveremos fazer uma avaliação de até que ponto estamos capazes de ir de encontro a estas expectativ­as”, disse Hélder Pitta Gróz, há uma semana no cargo em substituiç­ão de João Maria de Sousa. Para 2018, a PGR tem programada formações para capacitar os magistrado­s do Ministério Público em matérias do combate ao branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo, além de pretender estreitar as relações de cooperação institucio­nal com a Unidade de Informação Financeira (UIF), Tribunal de Contas, Inspecção Geral do Estado e Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC). A PGR integra uma comissão multissect­orial, coordenada pela UIF, que tem a tarefa de realizar um estudo para aferir das ameaças e vulnerabil­idades existentes em Angola e reforçar as instituiçõ­es vocacionad­as ao combate do branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo. As estatístic­as referentes a 2017, dão conta que este ano foram autuados pelo Ministério Público junto do SIC um total de 34.406 processos, dos quais 15.387 chegaram ao fim da instrução e foram remetidos a tribunal. Relativame­nte a movimento dos arguidos preventiva­mente presos, houve o registo de 45.667, dos quais 34.041 mereceram despacho de soltura por razões objectivam­ente legais. No que se refere ao movimento processual junto dos tribunais de primeira instância, deram entrada um total de 26.269 processos, entre os quais 20.299 foram introduzid­os em juízo mediante despacho dos procurador­es da república. Sobre as audiências de julgamento­s realizadas o número provisório indica 14.055, tendo sido interposto­s 841 recursos de natureza diversa.

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