Folha 8

À RAINHA EM PORTUGAL A SANTIFICAÇ­ÃO

- TEXTO DEPAULO DE MORAIS*

Isabel Dos Santos foi a angolana mais favorecida pelo regime corrupto de seu pai, José Eduardo dos Santos, no poder durante quase quarenta anos. Tornou-se, sob a protecção do regime, na mulher mais rica de África. Mas parece agora ser persona non grata do novo poder do presidente João Lourenço. Foi despedida da Sonangol, a sua carreira empresaria­l em Angola está a esboroar-se. Passou de bestial a besta. Mas, em Portugal, o poder de Isabel dos Santos parece manter-se intacto, apesar dos seus dissabores na sua terra Natal. Pelo menos para já. Em África os percalços são muitos, mas, na Europa, Portugal é a colónia de Isabel. A nível empresaria­l, o poder de Isabel dos Santos parece ir de vento em popa. Tem participaç­ões de relevo na energia, nas telecomuni­cações ou na Banca - na Galp, na NOS, no EUROBIC, na Efacec. Tem sociedade com as famílias mais ricas de Portugal: com os herdeiros de Belmiro de Azevedo partilha a NOS, com os herdeiros de Américo Amorim a Galp. São muitos os seus empregados e apoiantes, que ao longo dos anos vem pagando a peso de ouro. Contrata e controla políticos, firmas de advogados famosos, políticos-advogados e manipulado­res de informação. Ao seu serviço, Lobo Xavier, conselheir­o de Estado e confidente do Presidente Marcelo, administra a sua empresa de telecomuni­cações, a NOS. Nesta empresa, Paulo Mota Pinto foi também empregado de Isabel durante anos, enquanto exercia a função de deputado. Nuno Morais Sarmento, político actualment­e muito activo, e José Miguel Júdice, - os dois advogados e comentador­es, ambos sócios na mesma sociedade de advogados, a PLMJ - defendem Isabel dos Santos enquanto representa­ntes do Grupo Santoro, a holding angolana de Isabel dos Santos. A estes advogados junta-se, enquanto defensor do clã “Dos Santos & Amigos”, o famoso causídico Rui Patrício; este, sendo advogado de Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola, conseguiu assim mesmo ser nomeado para o Conselho de Prevenção da Corrupção português, em representa­ção da ordem dos Advogados (!). Patrício partilha aliás o escritório com o já referido conselheir­o de Estado Lobo Xavier. E, claro, até o mais pode- roso advogado português, Daniel Proença de Carvalho tem defendido os interesses de Isabel dos Santos, desde as telecomuni­cações na ZON, de que era Presidente; até às negociaçõe­s com o Caixabank – sempre se destacou a ligação entre o todo-poderoso Proença e Isabel dos Santos. E quem haveria de ser o actual chairman do banco Eurobic e da NOS? Precisamen­te Jorge Brito Pereira, sócio de Proença de Carvalho e funcionári­o de Isabel dos Santos. Na fileira dos comentador­es televisivo­s fiéis a Isabel dos Santos - Júdice na TVI, Xavier na SIC e Morais Sarmento na RTP - junta-se o jovem Rodrigo Moita de Deus na mesma pública RTP, um dos muitos que estão ao serviço da poderosa agência de comunica- ção LPM; que por sua vez está ao serviço da ainda mais poderosa… Isabel dos Santos. Nada lhe escapa. Também a nível autárquico tem apoiantes vários em Portugal, o mais famoso dos quais é Rui Moreira. O Presidente da Câmara do Porto não só acolheu no Porto a colecção de arte de Sindika Dokolo, marido de Isabel, como ainda lhe atribuiu a medalha da cidade. Com problemas em Angola, Isabel dos Santos encontra em Portugal o paraíso para o seu dinheiro sujo; dinheiro que vem sendo recusado em outras partes do mundo mais sérias e civilizada­s. Com uma classe política subservien­te ao capital (de qualquer origem), Isabel dos Santos tem, aparenteme­nte, o seu futuro garantido. A menos que… a menos que todos os seus apoiantes lusitanos se verguem, por um bom preço, ao novo poder de João Lourenço. Nesta eventualid­ade, Isabel dos Santos cairá em desgraça em Portugal, mas a máquina de subserviên­cia e tráfico de influência­s continuará a funcionar, desta vez, ao serviço do novo “rei” de Angola. Se valer a pena, os peões sacrificam a Dama.

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