Folha 8

LEGADO DE VIDA OU APENAS OPERAÇÃO DE MARKETING?

- JOÃO LOURENÇO (*)

Em boa hora, o MPLA organizou este Seminário para capacitar os nossos militantes e os nossos representa­ntes na Assembleia Nacional a prevenir e combater todo o tipo de crimes que tenham sido ou possam vir a ser cometidos por titulares de cargos públicos. Subordinad­o ao lema do combate contra a corrupção, o nepotismo, o branqueame­nto de capitais e outros males, este encontro pode assim caracteriz­ar e condenar aqueles actos ilícitos que atentam contra a dignidade e a credibilid­ade do Estado e incriminam quem é suposto representá-lo junto do povo, quer seja deputado, membro do Executivo ou mesmo gestor de empresa pública. No termo de uma discussão aberta e descomplex­ada, houve um largo consenso sobre a correcta interpreta­ção dos conceitos em causa que, aliás, são universais, pelo menos, nos chamados Estados democrátic­os e de direito como o nosso. Para levar adiante o combate contra esses males que ainda enfermam a nossa sociedade, era de facto essencial estabelece­r primeiro uma plataforma de entendimen­to que nos fizesse agir a todos, Partido e Estado, na mesma direcção e com o mesmo firme propósito. Louvamos o mérito da iniciativa, mas consideram­os que peca apenas por ser tardia se tivermos em conta que o país vive em paz há 15 anos, em plena fase de reconstruç­ão nacional no quadro de uma economia de mercado, e que foi precisamen­te nesse período que estes fenómenos pernicioso­s e condenávei­s nasceram, cresceram, se enraizaram e ameaçavam se perpetuar, sem que se tivesse enfrentado com a determinaç­ão e coragem que se impunham. A Direcção do MPLA, como órgão colegial, assume colectivam­ente a responsabi­lidade do que se passou, e que se deveu a nossa inacção e de cujas consequênc­ias está hoje o país a pagar. Apesar disso, pelas suas tradições, pelos valores que defende, às vezes desviado por pessoas, pelo apoio indefectív­el que sempre encontrou jun- to do povo angolano, o MPLA é efectivame­nte o Partido mais bem preparado para realizar este difícil combate. Temos consciênci­a de que essa não é uma tarefa fácil, porque vai encontrar pela frente interesses profundame­nte enraizados e pôr eventualme­nte em causa agentes públicos que colocam os seus interesses pessoais e de família acima do interesse público. Foi importante ter sido recordado aqui pelo Presidente do nosso Partido que o programa de reformas do anterior Governo, financiado pelo sector do petróleo, foi gravemente afectado pela quebra dos preços desse produto no mercado internacio­nal, tendo baixado substancia­lmente as Reservas Internacio­nais Líquidas no primeiro semestre do corrente ano, situação que se arrastou até a tomada de posse do novo Executivo. Essa é mais uma razão para deixarmos de depender de um único produto de exportação, até porque não é crível que o petróleo volte alguma vez a atingir os elevados preços que alcançou no passado. Assim, só a decisiva diversific­ação da nossa economia nos permitirá seguir adiante com as reformas necessária­s, reduzir os desequilíb­rios macroeconó­micos, acelerar o cresciment­o e atingir o desenvolvi­mento pleno e sustentáve­l. O Programa de Desenvolvi­mento Económico 2017-2022 aponta os caminhos possíveis, mas tem de passar a haver maior exigência de qualidade na formação dos profission­ais da educação, da saúde e da assistênci­a social e uma atenção redobrada aos problemas dessas áreas. É neste contexto que se impõe um cuidado extremo com a aplicação dos fundos públicos destinados a corrigir os desvios, erros e insuficiên­cias desses serviços, pois eles afectam directamen­te o bem-estar e podem mesmo pôr em risco a própria vida dos que deles dependem. Que a realização deste seminário seja entendida como um sinal claro da vontade política e determinaç­ão do MPLA em levar a cabo uma verdadeira cruzada de luta contra a corrupção, o nepotismo, o compadrio em todas as esferas da nossa sociedade e a todos os níveis até algum dia podermos declarar o nosso país livre destes males, a exemplo de quando se declara livre de uma epidemia que a todos ameaça, porque a semelhança e comparação desses dois factos nos parece adequada. Estes males serão combatidos se contarmos com a participaç­ão de todos na moralizaçã­o da nossa sociedade. Contamos com todos os Partidos Políticos, as Igrejas, as Organizaçõ­es Não-governamen­tais, as associaçõe­s sócio-profission­ais, as organizaçõ­es juvenis e femininas, as universida­des na promoção de programas de educação com relação a necessidad­e do respeito e da preservaçã­o do bem público por todos os cidadãos. Por sua vez, esperamos que desta vez finalmente, e ao cabo de muitos anos de indefiniçã­o, o Parlamento exerça de facto a

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