Folha 8

A VITÓRIA DA ILUSÃO

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É que, quer o MPLA queira ou não, quer João Lourenço queira ou não, como na guerra, a vitória eleitoral (como qualquer outra) é uma ilusão quando o povo morre à fome. E o nosso Povo morre de barriga vazia. Tal como está a Angola profunda, a Angola real, ninguém sairá vencedor. Todos perdem. Todos perdemos. Cremos, aliás, que o próprio ex-presidente José Eduardo dos Santos teve, de vez em quando, consciênci­a de que a sua ditadura não foi uma solução para o problema angolano, sendo antes um problema para a solução. O mesmo se passa, agora, com o afã exacerbado de João Lourenço que resolveu exonerar quase todos e quase tudo, esquecendo-se de exonerar o essencial: a fome, as doenças, a morta- lidade. Cremos que é, ou pode ser, pequeno o passo que é preciso dar para que os angolanos, irmãos com muito sangue derramado, se entendam para ajudar Angola a ser um país onde os angolanos sejam todos iguais e não, como agora acontece, uns mais iguais do que outros. Se nos entendemos para que Angola deixasse de ser uma gigantesca vala comum, não será difícil entender que a força da razão pode e deve substituir a razão da força. José Eduardo dos Santos não o entendeu durante 38 anos. João Lourenço disse que entendeu mas, até agora, só conseguiu substituir as raposas que estavam a tomar conta do galinheiro por outras… raposas. Durante demasiados anos de guerra, os angolanos mataram-se uns aos outros. Acabada essa fase, os angolanos continuam a matar-se uns aos outros. Não directamen­te pela força das armas, mas pelo poder que as armas dão aos que querem subjugar os seus irmãos que consideram de espécie inferior. Mais do que julgar e incriminar importa, nesta altura, parar. Parar definitiva­mente. Não se trata de fazer um intervalo para, no meio de palavras simpáticas e conciliado­ras, ganhar tempo continuar o processo de esclavagis­mo, ganhar tempo para formar novos milionário­s, ganhar tempo para sabotar eleições, ganhar tempo para continuar a enganar o Povo. Convém, por isso, que a democracia, a igualdade de oportunida­des, a justiça, a liberdade e o Estado de Direito cheguem antes de morrer o último angolano. Esperamos que disso se convença João Lourenço, um angolano que certamente não se orgulha de ser presidente de um país onde os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome. Ou será que se orgulha?

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