ESTAFETAS PARAPLÉGICOS?
Os presidentes da República, João Lourenço, e o do MPLA, José Eduardo dos Santos, querem que o país progrida e não será uma ou outra divergência pontual que irá alterar um estado de confiança que se vai vivendo em Angola nestes tempos de esperança. Quem o diz é, em Editorial, o Jornal de Angola, versão Victor Silva. No seu editorial intitulado “Testemunho”, o Jornal de Angola refere que 2018 traz um conjunto de desafios que cada um coloca a si mesmo no já tradicional balanço do ano findo e do que agora começa. Acrescenta que, mais do que os desejos individuais, há a sua soma que os torna num desafio do país, no exacto momento que o virar de página do calendário aponta para os primeiros 100 dias da actual governação, eleita democraticamente (com muita batota, importa recordar, não alinhando no seu branqueamento) em Agosto de 2017, marcando a continuação do mesmo ciclo político, se bem com novos (alguns) actores. No editorial, o Jornal de Angola sublinha que a mudança foi o facto do ano e que fez renascer a esperança do povo, que hoje encara o futuro com mais optimismo, mesmo sabendo que o que vem pela frente (em 2018) não será fácil. E, já agora, sabe que não será fácil baseado e quê? Exacto. Sabe que não basta mudar as moscas para que o resto, para que o que é importante, mude. Lembra o JA (na mesma onda, embora melhorada, do anterior director – José Ribeiro) as palavras do vice-presidente da República, ao observar que “numa prova de estafeta, quem recebe o testemunho não pode parar”, pelo que as analogias do desporto com a política não são de hoje e, por isso, vale recordar que as corridas de estafeta são, por norma, de velocidade. O diário do regime ressalta que é necessário acelerar as reformas, porque o mandato é de apenas cinco anos, que passam num instante. Certamente por estarmos numa época festiva para alguns, o editorialista ao dizer que é preciso acelerar as reformas está, mais uma vez, a confundir o corredor de fundo com o fundo do corredor. Isto porque não é possível acelerar o que ainda não começou. Mudar os atletas da equipa de estafetas não é sinónimo de que a corrida já começou. Para o Jornal de Angola, as estafetas não são como as maratonas, como alguns pensam e defendem, onde as realizações vão ficando nas gavetas do esquecimento, sem responsabilização pelos incumprimentos e pelas colossais derrapagens que originam muitos dos actuais endinheirados. Isto é verdade. Só falta saber se os endinheirados têm nome, se só são os anteriores bajuladores de Eduardo dos Santos, se no actual governo – a começar pelo Presidente da República – não estão muitos desses responsáveis pelas colossais derrapagens. Nas provas de estafeta, refere o JA, às vezes, quem entrega o testemunho vem atrasado e quem recebe tem de acelerar para recuperar os lugares perdidos. Isto se, entretanto, não deixar cair o testemunho. Ao enfatizar a importância de José Eduardo dos Santos, enquanto presidente do MPLA, Bornito de Sousa, mais não fez que dissipar dúvidas sobre as relações entre o Governo e o partido que o apoia, diz o jornal. Ou seja, as relações entre os tais incumprimentos responsáveis pelas colossais derrapagens que originam muitos dos actuais endinheirados e os que agora atiram a pedra e escondem a mão. O periódico aponta que tem havido, ao longo deste período, em alguns sectores, certa especulação em torno de uma intervenção silenciosa do presidente do MPLA sobre a forma como algumas decisões que o actual inquilino do Palácio da Cidade Alta tem tomado, e que de certa forma surpreenderam o cida- dão comum, dando a João Lourenço uma confortável almofada de popularidade. De acordo com este diário, não há lugar para o rufar de tambores nem para a contagem de espingardas, porque a “guerra” interna pode não passar de um desejo externo. Pelo menos aponta-se, embora vagamente, um inimigo interno, retirando o ónus aos tradicionais inimigos internos – a UNITA e Jonas Savimbi. De acordo com o JA, José Eduardo dos Santos e João Lourenço querem que o País progrida, e não será uma ou outra divergência pontual que irá alterar um estado de confiança que se vai vivendo em Angola nestes tempos que são de esperança.