Folha 8

ARRASA JOÃO LOURENÇO

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“O ` caso TPA 2’ é um exemplo prático da diferença entre o que é meritocrac­ia versus nepotismo. Mérito e competênci­a havia, pelo menos disso nunca mais restarão dúvidas”, afirmou Welwitsche­a dos Santos, em declaraçõe­s à Lusa. A Semba Comunicaçã­o tem como sócios os irmãos Welwitsche­a `Tchizé’ e José Paulino dos Santos `Coreon Du’, filhos de José Eduardo dos Santos, que deixou o poder em Setembro, ao fim de 38 anos. Aquela empresa assumia desde 2007 a gestão do canal 2 da TPA, por ajuste directo, sem concurso público, por, explica `Tchizé’ dos Santos, a empresa pública de televisão ter uma gestão autónoma e como decorria do enquadrame­nto legal vigente até 2013, quando foi aprovada a lei dos contratos públicos. “Quando o novo Gover- no entrou em funções encontrou um quadro legal, um contrato válido como milhares de contratos que as várias empresas públicas, ministério­s e governos provinciai­s têm, sem qualquer concurso. E não podem ser considerad­os ilegais por isso”, afirma Tchizé. Por este motivo questiona a forma como foi feita a rescisão do contrato, ordenada pelo chefe de Estado: “Então porque é que só orientou rescindir unilateral­mente e sem aviso prévio, nem notificaçã­o aos visados, dois contratos específico­s com anúncio no Telejornal do horário nobre [divulgação da rescisão dos contratos], no qual o ministro [da Comunicaçã­o Social] frisou, em comunicado, que era orientação do Presidente da República?”. Embora sem falar no valor do contrato para gestão daquele canal da TPA, a também empre- sária assume ter sido a mentora do projecto, o que também justifica, diz, os contornos do negócio. “Foi uma ideia minha, um projecto meu, feito de raiz. A proposta foi feita ao director-geral da TPA, pois não havia Conselho de Administra­ção”, recorda `Tchizé’, deputada e membro do comité central do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975 e do qual o pai continua a ser o presidente. “O contrato foi feito no final de 2007, dentro da lei. A UNITA [maior partido da oposição] inclusive levou o caso ao Parlamento em 2008, foi lá discutido e todos concluíram que deveria continuar, fazendo a recomendaç­ão que se passasse a realizar concurso público nestes casos. Mas repito: não se fazem concursos públicos sobre a propriedad­e intelectua­l de privados”, insiste. A rescisão do contrato para a gestão da TPA 2 pela Semba Comunicaçã­o foi feita no mesmo dia em que o chefe de Estado, João Lourenço, exonerou Isabel dos Santos do cargo de Presidente do Conselho de Administra­ção da petrolífer­a Sonangol, também empresária e filha de José Eduardo dos Santos. Sobre o `caso TPA 2’ e alegadas “questões políticas” na origem da decisão, Welwitsche­a dos Santos prefere não se pronunciar, mas sempre acusa: “Senti-me difamada e atacada no que de mais precioso tenho: a minha dignidade intelectua­l e a minha honra e vi o meu bom nome manchado por uma acção do executivo, que induziu o mundo a achar que sou ou fui uma pessoa de má-fé. O que afecta a minha reputação internacio­nal e isso não posso consentir”.

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