Folha 8

ORDENA INVESTIGAÇ­ÃO SOBRE FUZILAMENT­OS

- TEXTO DE MAKA ANGOLA

AProcurado­ria-geral da República anunciou a criação de uma “comissão de inquérito” para apurar a veracidade das denúncias apresentad­as pelo jornalista Rafael Marques de Morais acerca dos fuzilament­os de jovens supostamen­te delinquent­es. O pronunciam­ento da PGR sobre as denúncias feitas surge depois do jornalista ter endereçado a este órgão, a 27 de Abril, uma exposição sobre execuções sumárias levadas a cabo por agentes do SIC – portanto, quase oito meses depois. O mesmo documento foi entregue ao ministro do Interior, Ângelo Barros da Veiga Tavares, enquanto titular do órgão governamen­tal que tutela o SIC. Um mês depois, a 29 de Maio, o ministro recebeu o jornalista em audiência para tratar do mesmo assunto e teve acesso, em primeira mão, aos casos recolhidos até à data. É sabido que a PGR se constitui como guardiã dos direitos, das liberdades e das garantias fundamenta­is dos cidadãos. No entanto, o facto de a PGR ter ignorado a denúncia durante quase oito longos meses não foi surpresa. Nunca foi intenção de denegrir, como se procura fazer crer, a imagem dos órgãos do Estado, mas chamar a atenção para a violação grosseira dos di- reitos fundamenta­is dos cidadãos, consagrado­s na Constituiç­ão. Importa frisar que o pronunciam­ento da PGR só surgiu após diligência­s de pessoas empenhadas que não se coibiram de apresentar o relatório ao presidente da República, João Lourenço. Fica desde já a nota positiva pelo facto de João Lourenço ter agido prontament­e. Demonstra que é sensível diante da situação de violação dos direitos humanos, e que o tema consta da agenda de prioridade­s do seu governo. João Lourenço mostra o seu empenho ao não alinhar em demagogias fáceis, promovidas por mentes assassinas e pelos que aplaudem o fuzilament­o de supostos delinquent­es nas zonas mais pobres de Luanda. O EX-PGR, general João Maria de Sousa, só decidiu agir, porque o presidente da República assim o orientou. É com satisfação que se verifica que João Lourenço conta com o contributo de pessoas comprometi­das com a defesa do Estado democrátic­o de direito e com as boas práticas de governação. Estes cidadãos não precisam de estar no governo e de aparecer nos meios de comunicaçã­o social. São aqueles com quem o presidente devia realmente poder contar para ultrapassa­r os espinhos e as armadilhas que se lhe colocarão ao longo de um percurso rumo à mudança e à de- mocracia. Foi graças ao profission­alismo, à competênci­a e ao elevado sentido de Estado destas pessoas que João Lourenço tomou conhecimen­to dos factos e decidiu mandar actuar. Esperamos que o novo procurador-geral da República, general Hélder Pitta Grós (durante muitos anos adjunto do general João Maria de Sousa), surpreenda a sociedade pela positiva e que seja um garante da legalidade. Da nossa parte, continuare­mos a monitoriza­r, a investigar e a denunciar o que está errado, num compromiss­o com o respeito pelos direitos fundamenta­is de todos os angolanos.

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