Folha 8

ANGOLA AINDA CHORA MASSACRE DE CASSANJE

A 4 de Janeiro de 1961 foram assassinad­os camponeses da Baixa de Cassanje, na província de Malanje, porque se opuseram aos reduzidos preços na compra do algodão pelos fazendeiro­s e a companhia majestátic­a, Cotonang. A reivindica­ção dos camponeses foi repe

- TEXTO DE SIMÃO SOUINDOULA*

ABaixa de Cassanje compreende as aldeias de Cambo Sunginge, Zungue, Kanzage, Wholo dia Coxi, Santa Comba, Mulundo, Teca dia Kinda, Xandel, Moma, Iongo Milando e Massango (Forte República) nos municípios de Cahombo, Marimba, Cunda dia Baze e Quela. Segundo testemunha­s, a revolta começou quando, em Outubro de 1960, os camponeses recusaram receber sementes de algodão para semearem em Janeiro. Os capatazes da Cotonang perceberam que estava a começar um movimento grevista, até porque, alguns anos antes, as autoridade­s coloniais tinham subido o Imposto Geral Mínimo de 250 para 350 escudos, enquanto o quilo do algodão era comprado a um escudo. Um camponês, para pagar o Imposto Geral Mínimo, tinha que vender no mínimo dez sacos de 50 quilos de algodão, ou era obrigado a contrair dívidas para pagar na colheita seguinte. Nos primeiros dias de Janeiro, começam a ser ensaiadas várias movimentaç­ões para enfrentar a grande máquina de repressão colonial. Manuel Ndeia é um ancião com mais de 80 anos e testemunho­u o massacre na localidade de Cambo Sunginge, sua terra natal. Na tarde do dia 4 de Janeiro, mais de 50 viaturas militares entraram em Cambo Sunginge. Os militares estavam bem armados. Um oficial mandou chamar Artur Verdades, um comerciant­e que gozava da simpatia do povo. Foi utilizado como mensageiro para tentar convencer os revoltosos a renderem-se. Mas não foi ouvido. António Gonga, um dos sobreviven­tes do massacre, disse que quando os portuguese­s iniciaram os disparos, a população pensou serem balas de pólvora seca. Morreu muita gente. Foram enterradas mais de 50 pessoas na vala comum. Imaculada Dala, 75 anos, testemunho­u os massacres na localidade de Nzungue, município de Cahombo. “O que ali aconteceu foi triste, vi uma criança de meses ao colo da mãe, que foi atingida por disparos. Mesmo ferida e ensanguent­ada, estendida no chão, deu de mamar à criança. Logo de seguida o comandante mandou cessar-fogo”. Hoje é um homem de 57 anos. Chama-se Cruz Raimundo Ngunza. Vive em Luanda e trabalha na Sonangol. O soba do Nzungue foi morto pela tropa colonial, degolado e a sua cabeça pregada num pau próximo da estrada que liga a localidade à Bange Angola.

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