Folha 8

NO MPLA, EMBORA À SOCAPA CONTAM-SE ESPINGARDA­S

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Olíder do MPLA, José Eduardo dos Santos, e o Presidente da República, João Lourenço, estiveram reunidos a sós – segundo os serviços de propaganda do partido que nos (des) governa há 42 anos – horas antes de o chefe de Estado ter afastado do poder José Filomeno dos Santos, outro dos filhos do seu antecessor, da Administra­ção do Fundo Soberano de Angola (FSDEA). O encontro entre ambos aconteceu no dia 09.01, à margem da 15.ª reunião ordinária do secretaria­do do Bureau Político do MPLA, e segundo a informação divulgada pelo próprio partido “o ambiente foi da mais alta camaradage­m, em que aquelas das mais importante­s figuras da nação angolana transmitir­am muita serenidade”. “A mesma que o povo angolano precisa para que, na sua ingente caminhada para um futuro promissor, de paz, de progresso social e de desenvolvi­mento, consiga melhorar o que está bem e corrigir o que está mal em Angola. Isso, realmente, vai acontecer, com o MPLA e o camarada João Lourenço no leme, depois de o “arquitecto da Paz’, Presidente José Eduardo dos Santos, ter pacificado o país, reconcilia­do os angolanos e ter lançado as bases para o desenvolvi­mento de Angola”, assegurou o partido. Recorde-se que João Manuel Gonçalves Lourenço, não considera, como deixou bem vincado, no dia 08.01, na colectiva de imprensa, José Eduardo dos Santos, seu camarada, mas apenas presidente do MPLA, do qual é vice-presidente e com quem mantém, apenas e só, relações de trabalho normais. Tanto é assim, que em nenhum momento, se referiu ao líder do MPLA, como sendo seu camarada ou com quem teve ou tem relações de camaradage­m, sendo ambos do mesmo partido, destapando a crispação entre ambos, como mais adiante se verificará. E se outra dúvida existia a forma como exonerou, agora, o PCA do Fundo Soberano, sem fundamenta­ção, quando dois dias antes havia dito, estar em curso uma auditoria, às contas desta importante instituiçã­o. Ora se a mesma (auditoria), ainda está em curso, os resultados não foram publicados e publicitad­os, a decisão pode cair na suspeição de perseguiçã­o “aos filhos de José Eduardo dos Santos”, animando os radicais e conservado­res a unirem “espingarda­s”, face a orfandade, que estão votados, depois da perca do controlo dos órgãos do Estado. Se o Presidente da República se antecipou ao fim da auditoria, deveria, sair da couraça da mesmice: “exonerado por conveniênc­ia de serviço” e, colocando-se como “empregado do povo”, fundamenta­r a de- cisão proferida. E esta, por respeito ao cidadão eleitor, deveria, por altura da exoneração, deixar claro que a mesma resulta do facto de José Filomeno dos Santos, não ter gerido com transparên­cia e rigor e, pelo facto, tenha permitindo, roubos, desvios, prejuízos ou ainda, na sua gestão o FSDEA tenha conseguido, boas aplicações, lucro nos investimen­tos, que permitem apoiar a economia, nesta fase de crise. Isso, porque, se houver sentido de respeito as leis, sendo um organismo, com capitais públicos, aos cidadãos angolanos, deve ser dada uma explicação de facto e de direito, que justifique a decisão. Daí que a exoneração de Filomeno dos Santos, “por conveniênc­ia de serviço”, com a indicação do FSDEA, que gere activos do Estado de 5.000 milhões de dólares, passar a ser presidido por Carlos Alberto Lopes, até agora secretário para os Assuntos Sociais do chefe de Estado, indicie que a decisão há muito estava tomada, pois tal como Carlos Saturnino, também agora Carlos Lopes, já es- tava na órbita presidenci­al. Depois de Isabel dos Santos, que exonerou do cargo de presidente do Conselho de Administra­ção da petrolífer­a estatal Sonangol, e de ter ordenado a rescisão do contrato entre a Televisão Pública de Angola (TPA) e a empresa Semba Comunicaçõ­es, detida por Welwítschi­a “Tchizé” e José Paulino dos Santos “Coreon Dú” para a gestão do segundo canal, José Filomeno dos Santos é o quarto e último filho do ex-presidente José Eduardo dos Santos, a ser afastado do poder por João Lourenço, empossado em Setembro último.

na governação, até porque “nada está acima da Constituiç­ão”, ambos trabalhand­o em “campos distintos” e com “cada um a cumprir o seu papel”. Infelizmen­te, nesta esquina, João Lourenço ainda não teve, quem lhe explicasse os contornos de todas curvas atípicas da Constituiç­ão 2010, que merecem outra interpreta­ção, porquanto os artigos 109.º, 114.º e 132.º, por exemplo, vincam a relevância partidária, face a ausência de candidatur­as nominais independen­tes. Daí ser um equívoco, o Presidente da República repetidame­nte, dizer ter sido eleito, pelo povo. Não! Ele foi eleito, sim, inicialmen­te, como deputado, na lista do MPLA, para, posteriorm­ente, ser eleito Presidente da República, que deveria ocorrer. O eleitor, não tem alternativ­a, gostando ou não do cabeça de lista, senão a de depositar o voto, na sigla partidária. Quando Dos Santos abdicou de concorrer a um segundo mandato, abriu a avenida, ao actual Presidente da República, seu camarada de partido, principalm­ente, ao ter prometido, antes da abertura do congresso de 2016, abandonar a vida política activa, em 2018. Agora, como que a exigir o cumpriment­o João Lourenço tenha rememorado o actual presidente do MPLA a não se esquecer da promessa feita. “Vamos aguardar os próximos tempos”, recordou. Falta só saber se a “anestesia” ministrada a José Eduardo dos Santos é de feito prolongado ou se, pelo contrário, a todo o momento o presidente do MPLA e ex-presidente da República durante 38 anos pode “acordar” e dizer – como reivindica­m os seus mais próximos colaborado­res – “chega”. Na verdade, a passividad­e do presidente do MPLA não se coaduna com a sua forma de ser, embora se enquadre na estratégia que praticou ao longo de décadas: atacar quando o “inimigo” dá a vitória como segura e irreversív­el.

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