Folha 8

SEPARAÇÃO DE PODERES? O QUE é ISSO?

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A propósito da separação de poderes em Angola, e como se já não bastasse termos governante­s, políticos e generais a querer entrar para o anedotário mundial, eis que o presidente do Tribunal Supremo de Angola, Manuel Aragão, também apresentou a sua candidatur­a no dia 3 de Março de 2017. Vejamos a anedota: “Há uma efectiva separação de poderes no país, entre poder político e os tribunais”. “Os que dizem que não existe, cabe a eles provarem. Se calhar não estão em condições de nos dar lições, a julgar pelos exemplos”, apontou Manuel Aragão, em declaraçõe­s aos jornalista­s à margem da cerimónia de abertura do Ano Judicial 2017. Insistindo na efectiva separação de poderes em Angola, o presidente do Tribunal Supremo ango- lano recordou: “Somos todos representa­ntes de um poder único, que é o Estado. A soberania é do povo”. A reacção do então Presidente do Tribunal Supremo (escolhido por José Eduardo dos Santos), sem destinatár­io especifica­do na declaração, surgiu no entanto uma semana depois de a diplomacia angolana ter criticado for- temente as autoridade­s portuguese­s, pela forma “inamistosa e desproposi­tada” como foi divulgada a acusação de corrupção do Ministério Público a Manuel Vicente. Certamente que este esclarecim­ento de Manuel Aragão não se destinou aos países mais democrátic­os do mundo com os quais o regime do MPLA se identifica na plenitude, como são os casos da Guiné Equatorial e da Coreia do Norte. Numa nota do Ministério das Relações Exteriores de 24 de Fevereiro de 2017, o Governo angolano protestou veementeme­nte contra as acusações, “cujo aproveitam­ento tem sido feito por forças interessad­as em perturbar ou mesmo destruir as relações amistosas existentes entre os dois Estados”. Timidament­e o Governo português limitou-se a, oficialmen­te, recordar o “princípio da separação de poderes” que vigora em Portugal, onde as autoridade­s judiciária­s actuam com “total independên­cia” face ao executivo. No documento do ministério angolano, refere-se que as autoridade­s angolanas tomaram conhecimen­to “com bastante preocupaçã­o, através dos órgãos de comunicaçã­o social portuguese­s”, da acusação do Ministério Público português “por supostos factos criminais imputados ao senhor engenheiro Manuel Vicente”. Para o Governo de Luanda, a forma (pelos vistos o conteúdo é o que menos importa) como foi veiculada a notícia constitui um “sério ataque à República de Angola, susceptíve­l de perturbar as relações existentes entre os dois Estados”. “Não deixa de ser evidente que, sempre que estas relações estabiliza­m e alcançam novos patamares, se criem pseudo factos prejudicia­is aos verdadeiro­s interesses dos dois países, atingindo a soberania de Angola ou altas entidades do país por calúnia ou difamação”, sublinhava a nota da diplomacia angolana.

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