ÚLTIMO KO A DOS SANTOS?
OPresidente, João Lourenço (como noticiado nas páginas 04, 05), está numa verdadeira cruzada de “oxigenar” a sua base de apoio, quer afastando os filhos do ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos, que o indicou para a sucessão, exonerando-os das funções que exerciam nos órgãos públicos do Estado, num descarado nepotismo, bem como atraindo para junto de si, todos quantos a nível do MPLA e do Estado, José Eduardo dos Santos tenha afastado, com certa humilhação. Quando no dia 09.01, JLO exonerou o último filho de JES, da administração do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), José Filomeno dos Santos “expulsava”, também, completamente, a linhagem “Dos Santos”, dos órgãos públicos. Não estando em causa, no actual consulado, o instituto de nepotismo, por ausência de laços de parentesco, terá imperado a lógica do fim do favorecimento, do tráfico de influência, do enriquecimento ilícito, por parte de uns poucos cidadãos, que se aboletaram e aboletam de milhões e milhões de dólares, dos milhões de cidadãos, que passam, vivem e morrem à fome, por falta de Kwz:200.00 (duzentos Kwanzas)/dia. No entanto, em substituição, do primeiro filho varão de José Eduardo dos Santos, por ironia do destino, numa clara demonstração de escassez de quadros, de robusta competência, o recurso foi a indicação de Carlos Alberto Lopes, ex-ministro das Finanças e anterior secretário para os Assuntos Sociais da Presidência da República, por sinal, com laços de parentesco com a ex-primeira dama, Ana Paula dos Santos, para liderar esta importante e decisiva instituição. Tudo normal. Mas será normal que a verba destinada, no OGE, à (sua) Guarda Presidencial seja três vezes maior do que a atribuída a Educação, aos tribunais e à saúde? O que teme João Lourenço? O fantasma do 27 de Maio ainda anda pela Cidade Alta? A informação sobre a exoneração, “por conveniência de serviço”, à boa maneira das arrogantes ditaduras, não fundamenta a decisão, mesmo estando em causa a gestão de activos do Estado, na ordem dos 5.000 milhões de dó- lares, cujas contas deveriam ser, não só auditadas, por empresa de reputada idoneidade e competência, como publicadas, para todo cidadão contribuinte, ter ciência da forma como o seu dinheiro foi gerido, pela administração que cessa funções. Num regime, onde existe respeito pelo património público, a gestão de um fundo de tamanha dimensão, não pode deixar de interessar a todos, para se aferir das boas práticas, ética, responsabilidade e transparência, por parte de quem, à dado momento, teve a responsabilidade de estar no leme. Isso porque a culpa não pode, não deve, nem devia, morrer solteira, para o bem ou para o mal. E, tudo por o país não poder continuar a ser visto como pertença da família da mamã Joana, onde uns são considerados “filhos da mãe” e outros “filhos da coisa”. Recorde-se que, em Novembro de 2017, surgiram denúncias sobre a gestão do FSDEA, relativamente ao suposto recurso desta instituição a paraísos fiscais, divulgado em documentos revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), no âmbito da investigação `Paradise Papers’. Em reacção, o FSDEA garantiu que todas as operações que realiza são feitas de “forma legítima”, ao abrigo dos “mais altos padrões regulatórios”, estando, a informação, carente da apresentação de dados e gráficos, para se aferir da sua seriedade. Não tendo procedido da forma, economicamente, aceitável, impera a suspeição incriminadora.