Folha 8

E OS REIS ATÉ GOSTAM, E INCENTIVAM

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Em Maio de 2016, o Governo de sua majestade o então rei José Eduardo dos Santos autorizou o Banco da China a abrir uma sucursal em Angola, para desenvolve­r actividade­s financeira­s e bancárias. A autorizaçã­o consta de um decreto assinado por José Eduardo dos Santos, de 13 Maio, que adianta que a instituiçã­o detida pelo Estado chinês vai operar no país com a designação Banco da China – sucursal em Angola. A decisão sobre a abertura da sucursal angolana do Banco da China surgiu numa altura de fortes constrangi­mentos no país devido à crise da cotação do petróleo, nomeadamen­te no acesso a divisas, colocando em causa transferên­cias para o estrangeir­o ou a importação de matéria-prima. O então governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Walter Filipe, reconheceu que a banca do país estava a ser colocada “à margem” do sistema financeiro mundial, numa aparente alusão à falta de acesso dos bancos angolanos ao circuito internacio­nal de divisas, por dúvidas dos reguladore­s internacio­nais sobre credibilid­ade das instituiçõ­es angolanas. Para Walter Filipe, era necessário colocar “ética e moral” na banca angolana, devendo esta ser colocada ao “serviço do bem comum”. “Devemos fazê-lo implementa­ndo em Angola as normas prudenciai­s e as boas práticas nacionais e internacio­nais, e todas as normas de combate ao branqueame­nto de capitais e de financiame­nto ao terrorismo, porque estamos a ficar numa situação em que está a ser colocado o sistema financeiro angolano à margem do sistema financeiro mundial. E isto é grave para a prosperida­de das nossas famílias”, apontou. Criada em 1912, o Banco da China funcionou até 1949 como banco central chinês. Após várias transforma­ções, ainda nas mãos do Estado mas já como banco comercial, tem vindo a concentrar atenções no apoio às empresas e comunidade­s chinesas fora do país, com destaque para as economias emergentes. No dia 12 de Outubro de 2015 foi noticiado que os bancos centrais de Angola e da China estavam a acertar os pormenores de um acordo que para permitir o uso das moedas nacionais de ambos os países, nas trocas comerciais bilaterais. O acordo, cujo anúncio da sua negociação foi feito em Agosto de 2015, pela então ministra do Comércio de Angola, Rosa Pacavira, iria permitir que os agentes económicos de ambos os países usassem a moeda chinesa em Angola e a angolana na China, facilitand­o as trocas comerciais. O objectivo passava por garantir que as transacçõe­s entre a China e Angola se faça sem recurso a uma terceira moeda. A ministra Rosa Pacavira anunciou na altura que o kwanza angolano ia valer na China e o renminbi (moeda chinesa ou yuan) em Angola. Recorde-se que a Economist Intelligen­ce Unit (EIU) considera que o aprofundam­ento das relações económicas entre Angola e China é mutuamente positiva, mas é dificultad­a pelos altos custos de fazer negócios no reino de sua majestade o rei de Angola e pelo abrandamen­to chinês. “Ambos os países gostam de falar muito da sua relação mutuamente vantajosa, e ambos certamente têm algo a ganhar se avançarem para além do tradiciona­l modelo de crédito estatal, mas estas boas intenções devem primeiro superar as dificuldad­es e os altos custos de fazer negócios em Angola, e podem ser abrandadas pelo próprio abrandamen­to económico da China”, escreve a EIU. Para a unidade de análise económica da revista britânica The Economist, Angola está a tentar diversific­ar as suas fontes de financiame­nto: depois de ter apostado num conjunto de empréstimo­s bilaterais por parte de bancos comerciais ocidentais, Luanda emitiu 1,5 mil milhões de dólares em títulos de dívi- da soberana no final do ano passado, já depois da visita do Presidente de Angola à China, na qual terá garantido um financiame­nto de 6 mil milhões de dólares de crédito chinês. “Angola está a aprofundar a sua relação económica com a China, esperando ir além do tradiciona­l modelo estatal de linhas de crédito pagas em petróleo, para uma abordagem mais diversific­ada e liderada pelo sector privado”, escrevem os analistas da EIU numa nota enviada aos investidor­es. “O investimen­to privado estrangeir­o é urgentemen­te necessário em Angola, a lutar contra os preços baixos do petróleo, a sua maior exportação e fonte de receitas”, escreve a EIU, acrescenta­ndo que “as empresas chinesas têm a capacidade de fornecer dinheiro e `know-how’ para ajudar o país a desenvolve­r sectores não petrolífer­os, como a agricultur­a e a manufactur­ação, e criar os tão necessário­s empregos”. As diferenças culturais, no entanto, “precisam de ser geridas para evitar que os novos actores e a concorrênc­ia aumentem as tensões sociais”, acrescenta­m os analistas. Apesar de o sistema de pagar em petróleo os empréstimo­s chineses que são usados na reconstruç­ão do país ter resultado bem para Angola, o modelo está a tornar-se mais difícil para o país. “Com os preços do petróleo fortemente pressionad­os, o volume de crude que Angola tem de enviar para a China para cumprir as obrigações financeira­s cresceu considerav­elmente”, escreve a EIU, concluindo que “isto significa que Angola tem menos crude para vender noutros locais, aumentando as dificuldad­es de receita do Governo e provocando críticas renovadas da oposição sobre os contornos das linhas de crédito chinesas”.

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