EXONERAÇÃO DE ISABEL DOS SANTOS
O Presidente escusou-se a explicar os motivos que o levaram a exonerar Isabel dos Santos do cargo de presidente de PCA da petrolífera Sonangol, limitando-se a citar o habitual enquadramento da “conveniência de serviço”. Questionado sobre se a exoneração de Isabel dos Santos, empresária e filha do ex-presidente da República e actual Presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, teria alguma motivação política, o chefe de Estado negou esse cenário: “A pessoa exonerada não era da oposição. Não estou a ver por que razão exoneraria por falta de confiança política”. Contudo, acrescentou: “As exonerações, regra geral, não são justificadas. O nosso país está independente há 42 anos, não me recordo nunca de nenhum Presidente ter vindo a público justificar-se porque é que exonerou A, B ou C”. Pois. Também não seria despiciendo lembrar que, nesses 42 anos, Angola só teve três presidentes, um dos quais esteve no cargo 38 anos, e que nenhum foi nominalmente eleito. Desde que tomou posse, a 26 de Setembro, João Lourenço nomeou por dia, em média, mais de três de administradores, para cerca de 30 empresas públicas, órgãos da administração do Estado, Justiça, comunicação social estatal, Banco Nacional de Angola e outros organismos. Em 100 dias como Presidente da República, as mais de 300 nomeações feitas por João Lourenço, que corresponderam a várias dezenas de exonerações, incluindo da empresária Isabel dos Santos da Sonangol, e de mais de 30 oficiais generais em posições de topo na hierarquia militar, valeram-lhe a alcunha nas redes sociais: “O exonerador implacável”. “Nesse período, foram exonerados, portanto em 42 anos, não sei se milhares mas pelo menos centenas de membros do Governo, de ministros, porque é que eu tenho de me justificar pelo facto de ter exonerado o PCA de uma empresa pública. Portanto, isso, eu não faço”, disse. No entanto, João Lourenço acabaria por citar a habitual informação constante dos despachos de exoneração: “Não é por mero acaso que, regra geral, quando as exonerações são feitas, a razão da exoneração, a que vem a público, é por conveniência de serviço é exonerado fulano de tal. Então, se quer mesmo uma resposta, foi por conveniência de serviço”. João Lourenço foi eleito Presidente da República nas eleições gerais angolanas de 23 de Agosto, numas eleições fraudulentas e viciadas pelo MPLA, com a conivência das suas sucursais Comissão Nacional Eleitoral, PGR e Tribunal Constitucional, tendo sucedido à liderança de 38 anos de José Eduardo dos Santos. As medidas tomadas nos primeiros 100 dias de governação, as várias e sonantes exonerações fizeram disparar o apoio popular a João Lourenço. Contudo, o Presidente nunca esclareceu (mes- mo desafiado por Isabel dos Santos e pela sociedade civil) os motivos do afastamento de Isabel dos Santos, anunciado a 15 de Novembro, ou da nomeação de Carlos Saturnino para liderar a Sonangol, curiosamente um quadro da petrolífera que em Dezembro de 2016 tinha sido exonerado pela filha de José Eduardo dos Santos, considerada a mulher mais rica de África. Já a 1 de Dezembro, a em- presa pública angolana Sodiam, responsável pela comercialização de diamantes do país, anunciou a saída da sociedade que controla a holding do grupo `de Grisogono’, a joalharia de luxo suíça detida por Isabel dos Santos e pelo marido, alegando “razões de interesse público e de legalidade”. “A participação da Sodiam EP na Victoria Holding Limited, e indirectamente no grupo ` de Grisogono’, gerou, desde a sua constituição, em 2011, exclusivamente custos para a Sodiam, em virtude quer dos financiamentos bancários que contraiu, quer dos resultados negativos que têm sido sistematicamente apresentados pelo grupo, decorrentes de um modelo de gestão adoptado a que a Sodiam EP é e sempre foi alheia”, referia então um comunicado da empresa.