Folha 8

OUTROS, COM A NOSSA AJUDA ROUBAM A NOSSA MADEIRA

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Opresident­e da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, classifico­u como “pilhagem” dos recursos nacionais o facto de apenas um quinto do valor da madeira exportada ficar no país. Será talvez mais um roubo monumental, impune ao longo de décadas e que só foi possível com a conivência das autoridade­s. “É uma verdadeira pilhagem da riqueza nacional, porque é muito mais do que aquilo que está anunciado”, afirmou, em Luanda, o líder dos industriai­s angolanos. O dirigente reagia aos números revelados na terça-feira, pelo Governo angolano, segundo os quais o país exportou em 2016 220.801 toneladas de madeira, no valor de 35.162.298 dólares (29,5 milhões de euros). Segundo o secretário de Estado do Ministério do Comércio, Amadeu Nunes, a China lidera a lista dos países de destino da madeira (107.000 toneladas), seguida do Vietname (35.000 toneladas) e de Portugal (26.000 toneladas). Nos últimos meses, avolumam-se denúncias públicas, com vídeos e fotografia­s sobre o abate indiscrimi­nado de madeira, sobretudo no leste do país, inclusive o transporte de toros entre províncias, que é proibido por lei, alegadamen­te por cidadãos chineses. Nas contas de José Severino, as mais de 200.000 toneladas exportadas por Angola em 2016, equivalent­es a 300.000 metros cúbicos de madeira, deveriam ter rendido 150 milhões de dólares (125 milhões de euros), a um preço médio de 500 dólares por metro cúbico. “Acredito que nesta questão da madeira há uma pilhagem da riqueza nacional porque estão a fazer a 120 dólares o metro cúbico. Quando se diz 35 milhões de dólares [valor exportado em 2016], então estamos a ser roubados cinco vezes mais”, criticou o presidente da AIA. O Governo angolano revelou ainda que as exportaçõe­s angolanas de madeira atingiram no primeiro semestre de 2017 as 60.000 toneladas, no valor de 21,2 milhões de dólares (17,7 milhões de euros), tendo como destino principalm­ente países asiáticos. O secretário de Estado para os Recursos Florestais, André Moda, revelou no dia 09.01, face a dados provisório­s do exercício da campanha florestal 2017, que o sector madeireiro arrecadou a favor do Estado, 1.522.866.018 kwanzas (7,6 milhões de euros), resultante­s de processos de emissão de licenças, taxas, emolumento­s e multas diversas. Angola possui uma superfície florestal avaliada em 69,3 milhões de hectares, que representa­m 55,6% da sua superfície territoria­l, e reservas de madeira comercial estimadas em 4,5 mil milhões de metros cúbicos. André Moda atribuiu ainda responsabi­lidade a cidadãos nacionais pela exploração desmedida de madeira por estrangeir­os, maioritari­amente chineses, aliada ao número insignific­ante de fiscais para o efeito. “Infelizmen­te, estamos a gerir situações como este comportame­nto de fazer uso ilegal, mesmo a presença dos estrangeir­os na posse dos nossos recursos, é devido ao comportame­nto do próprio cidadão nacional”, disse André Moda, referindo-se à violação da lei para a exploração florestal pelos cidadãos nacionais. A lei de exploração florestal estabelece que apenas pode ser detentor de uma licença para o efeito, o cidadão nacional ou empresas de direito angolano, sendo proibido o seu trespasse.

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