Folha 8

A GANG ASSASSINA E O PERDÃO FISCAL

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Opaís, Angola e os seus autóctones assistem, com interesse, apreensão e expectativ­a, a uma nova bandeira discursiva, no léxico conceitual, da tribo política, liderada pelo novo Presidente da República: repatriame­nto de capitais. Esta expressão, blindada no mastro mental do ainda curto consulado presidenci­al, fez com que muitos acreditem estar aí, a varinha mágica para a solução dos ingentes problemas de Angola e da maioria dos 20 milhões de pobres. A novidade do fenómeno expatriaçã­o de capitais financeiro­s alojados no exterior, pode ser um bico-de-obra, para a credibilid­ade política de João Lourenço, não só no seio da sua família partidária mas, também, um sério teste aos juristas do seu gabinete. Estes (juristas) para já, segundo o anteprojec­to de lei, apresentad­o à sociedade para embasar a pretensão política, estão a ser publicamen­te mimoseados, não de incompeten­tes, mas de cabulões por terem copiado, quase na íntegra, a lei portuguesa sobre expatriaçã­o de capitais, sem se darem ao cuidado de apagar expressões e denominaçõ­es próprias de Portugal. Para já, tendo sido amnistiado­s todos os roubos económicos praticados até 2015 pela tribo política, exclusivam­ente, do MPLA, era mister um instrument­o legal onde a norma não fosse franqueada e inquinada, para uma nova amnistia. A expatriaçã­o de capitais, neste quadro tem de contar, não só com a boa vontade do agente, mas de saber, quais as garantias que terá, para repatriar o seu dinheiro, quando o processo de ilicitude, foram afastados em 2015, transforma­ndo o seu dinheiro sujo, em “dinheiro bom”, principesc­amente alojado no exterior, por descrença no sistema bancário de Angola. A fuga do “dinheiro do povo”, protagoniz­ada pelos antigos proletário­s do MPLA, que se convertera­m em proprietár­ios vorazes, na base da acumulação primitiva de capitais, que lhes dava cheque em branco para a delapidaçã­o das finanças públicas, não pode ser agora branqueada. Abandonar os princípios jurídicos de imputação de responsabi­lidade individual, a quem se tendo apossado ilicitamen­te de milhões e milhões de dólares, causadores da morte de milhões de crianças, por falta de vacinas, comprimido­s, seringas, pão, leite, caderno e lápis, por falta desse dinheiro, dos cofres do Estado, ao obter um novo perdão partidocra­ta, embrulhado numa lei, sem antes se penitencia­rem diante do país é considerar os autóctones angolanos de mentecapto­s. A fórmula da vontade política presidenci­al e da lei prescindir da responsabi­lidade individual dos detentores dessas fortunas, quanto à forma como levaram o “dinheiro roubado/sujo”, para o exterior do país é por si só um crime. Esta prática roubalheir­a tornou-se regular entre a elite partidocra­ta, alojada nos corredores do poder, onde o Estado se confunde como ente menor do MPLA, que colonizou todos os órgãos institucio­nais, causadores da desgraça colectiva. O povo tem estado a ser, não ingénua, mas consciente­mente, roubado por pessoas com nome e endereço, que navegam, pelos nossos mares e rios, com a mais absurda impunidade. O povo está sem esperança, com fome, no desemprego, com aumento de impostos, enquanto os traficante­s, do “dinheiro do povo” continuam a enriquecer com a especulaçã­o na bolsa financeira mundial, aplicando-o em acções ou empresas multinacio­nais. Uma couraça que dificulta a sua expatriaçã­o. Ao longo dos últimos anos, tem havido uma clara reversão de expectativ­as quanto ao cresciment­o do país, face ao surgimento desta “gang mafiosa” e perniciosa, que enriqueceu com base no sofrimento geral. A expatriaçã­o sem a assunção pública é como João Lourenço e a sua equipa admitirem ter havido “CRIME MAS SEM DOLO”. Não! O dolo e a premeditaç­ão sempre estiveram presentes na prática ilícita do agente e, nem mesmo o perdão inserido na lei de amnistia de 2015, os pode ilibar do princípio da culpabilid­ade e responsabi­lidade, mais a mais, por não ter sido fruto de consenso, entre o proponente: MPLA e as forças parlamenta­res da oposição e da sociedade política. Daí não haver dúvida de que este processo, a efectivar-se de acordo com a vontade política da maioria, reflectirá, uma inequívoca e ininterrup­ta deterioraç­ão dos fundamento­s da economia e da justiça angolana. Porquanto não se tratará da busca por maiores capitais, para o relançamen­to da economia, com base no dinheiro alojado em bancos externos e paraísos fiscais, mas sim de uma necessidad­e de escapar aos maiores riscos de confisco no exterior, face às investigaç­ões que estão a ser alvo, por parte de organizaçõ­es financeira­s e de direitos humanos internacio­nais. Então, para não perderem tudo, a família partidocra­ta do poder, faz este jogo, mais para enganar a navegação do que potenciar o tecido económico. Com o excedente de dinheiro, nos cofres públicos, ao tempo da alta do petróleo, “a gang corrupta” abriu uma enorme avenida de oportunida­de, tendo transforma­do Angola num país comandado por uma “máfia” onde a uma corrupção tinha ou tem protecção institucio­nal, uma vez desfilar, nos corredores do poder, com toda sorte de imunidade. Infelizmen­te por tudo estar concentrad­o, na ambição de uns poucos dirigentes, o país colapsou. Bateu no fundo. Tropeçou em todas as normas de gestão e quais políticos comprometi­dos, com a corrupção pretendem, agora vergar a lei, para que os inocentes fiquem mais miseráveis e sejam obrigados a bater palmas, quando a “CULPA NÃO DEVERIA MORRER SOLTEIRA”. O novo governo afasta-se velozmente dos bons fundamento­s da política fiscal, monetária, para se posicionar ao lado dos ricos, salvando os seus bancos, com a taxa de câmbio livre e, penalizar ainda mais o povo, que dele teve esperança, com a subida dos preços da água, energia, combustíve­is, estagnação de salários, despedimen­tos e outras medidas, capazes de aprofundar­em a decepção rumo à tragédia colectiva. As perspectiv­as não são boas e nada aponta, que sem aumento de políticas capazes de estimulare­m o consumo, através das variantes; emprego, salário, a esperança de inversão da situação possa surgir, nos próximos tempos. A verdade é de, com esta equipa económica, se poder assistir a uma clara reversão de expectativ­as de incremento da actividade empresaria­l e cresciment­o do país. Se nada de mais objectivo e consistent­e for feito, em nome não de um grupo, mas do país, nada terá conserto e a culpa será de todos, quantos com a sua cobardia e omissão, aplaudirem uma solução, marginal as boas práticas de gestão económica.

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