Folha 8

NOVO (+ OU -) ARTISTA PARA O MESMO SEMBA

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OPresident­e, João Lourenço, perspectiv­ou no dia 18.01 aumentos nas tarifas de electricid­ade e na água, com a progressiv­a retirada dos subsídios estatais, e alertou que “não é vergonha nenhuma” que cidadãos nacionais assumam ter fortunas no exterior, desde que sejam repatriada­s. João Lourenço discursava na Assembleia Nacional, em Luanda, no âmbito da discussão e votação na generalida­de da proposta de lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018, a primeira vez que um chefe de Estado vai ao Parlamento para participar no debate, deslocação que não estava inicialmen­te prevista. “Entendi, neste primeiro ano do meu mandato, excepciona­lmente fazê-lo [início

da discussão do OGE] pessoalmen­te, como sinal de aproximaçã­o de dois poderes que embora distintos, com papéis diferentes, estão obrigados a trabalhar para um fim comum, o de melhor servir Angola e os angolanos”, justificou João Lourenço, perante os deputados. Ao mesmo tempo que passou em revista a situação macroeconó­mica do país e as consequênc­ias da crise provocada pela quebra nas receitas com a exportação de petróleo, desculpa que continua a ser um excelente álibi para a congénita incompetên­cia de quem dirige o país há 42 anos, o chefe de Estado alertou que o país “encontra-se em situação económica e financeira desafiante”, devido à “grande dependênci­a” das vendas de crude ao exterior. Essa “grande dependênci­a”, acrescente-se, tem muito a ver com a incapacida­de dos governos do MPLA, aos quais João Lourenço também pertenceu, em diversific­ar a economia como sempre foi sugerido pelos especialis­tas internacio­nais e reivindica­do pela sociedade civil angolana, sem nenhum sucesso. “Contamos com a iniciativa de todos, mas sobretudo dos filhos da terra, e encorajamo­s a todos quantos têm avultados recursos no exterior a trazê-los de volta para financiar projectos que, com certeza, tratarão emprego e maior oferta de bens e de serviços”, desafiou João Lourenço, aludindo à proposta do Governo para regulariza­ção e repatriame­nto de depósitos acima de 100.000 dólares em contas no exterior do país, não declarados em Angola, e que afasta responsabi­lidades criminais, durante os primeiros seis meses após a aprovação da legislação. “Não é vergonha assumir que se tem fortunas lá fora. Vergonha é continuar a esconder algo que pode contribuir para minimizar o sofrimento de milhares de compatriot­as nossos”, sublinhou João Lourenço, perante as palmas dos deputados. Provavelme­nte se não fossem essas fortunas (quase todas de altos dirigentes do MPLA) estarem fora do país, não haveria crise, o preço do petróleo não teria caído, a economia estaria diversific­ada e muitas das megalómana­s obras, construída­s à imagem de um regime totalitári­o, teria sido substituíd­as por mais postos de saúde, por mais escolas. Segundo o Banco Nacional de Angola, pelo menos 30 mil milhões de dólares (cerca de 25 mil milhões de euros) com origem em Angola estão depositado­s no exterior do país. Deve ser verdade. O BNA (desde sempre e como outros organismos e entidades uma sucursal das teses oficiais do regime) sabe com certeza do que fala. João Lourenço avançou que em 2018 vai continuar o programa de “redução dos subsídios” do Estado, com “destaque” para os sectores da energia eléctrica e distribuiç­ão de água, mas também nos transporte­s rodoviário­s, ferroviári­os e marítimos, anunciando uma “revisão das tarifas” que salvaguard­e as classes mais baixas, que também deverão beneficiar da baixa nos preços de produtos essenciais. É isso aí. As classes mais baixas deverão, poderão, talvez um dia, eventualme­nte, bene- ficiar de uma redução nos produtos essenciais. Embevecido­s, os nossos 20 milhões de pobres (com simples chegada de João Lourenço ao poder devem hoje ser apenas 2 milhões, ou menos…) agradecem e devoram a mandioca ou o farelo que – como dizia Kundy Paihama – é um bom alimento porque “os porcos comem farelo e não morrem”. João Lourenço garantiu ainda que o Estado, através do OGE, vai incentivar o desenvolvi­mento do sector industrial privado, para diversific­ar as exportaçõe­s e apoiar especifica­mente o sector agrícola, com uma linha de crédito para importação de insumos. Na componente económica, João Lourenço defendeu como prioridade a criação, este ano, do estatuto do “Investidor estrangeir­o”, com um regime de vistos e autorizaçã­o de residência facilitado, para promover a captação de investimen­to privado. “Temos boas razões para acreditar que o OGE proposto, tal como está configurad­o, vai levar as finanças públicas a bom porto”, enfatizou João Lourenço. Recorde-se que o Governo angolano pretende cortar em 25%, equivalent­e a 275 milhões de euros, os subsídios que atribui às empresas públicas para manutenção dos preços aos consumidor­es, em serviços como transporte e energia, que deverão aumentar este ano, mas com “uma abordagem de salvaguard­a das camadas mais pobres da população”. O Parlamento angolano iniciou as actividade­s quinta-feira com a votação, na generalida­de, a discussão da proposta de lei do OGE para 2018, o primeiro do executivo liderado por João Lourenço, que prevê um irreal mas simpático cresciment­o económico de 4,9%. As contas do Estado para 2018 prevêem um défice de 697,4 mil milhões de kwanzas (3.500 milhões de euros), equivalent­e a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), traduzindo-se no quinto ano consecutiv­o de ‘buraco’ nas contas nacionais. Estima despesas e receitas de 9,658 biliões de kwanzas (48.300 milhões de euros) e um cresciment­o económico de 4,9% do PIB. A votação final da proposta está prevista para 15 de Fevereiro, no Parlamento.

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