Folha 8

DE BOAS INTENÇÕES DO MPLA ESTAMOS CHEIOS HÁ 42 ANOS

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Ocombate às más práticas por parte de titulares de cargos públicos exige que a Inspecção Geral da Administra­ção do Estado se torne mais dinâmica na sua acção inspectiva, defendeu, em Luanda, o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Frederico Cardoso. Reconhecer que os titulares de cargos públicos tem más práticas é bom princípio. No entanto, o combate será difícil porque essas práticas fazem parte do ADN do partido (o MPLA) que durante 42 anos foi sempre quem escolheu esses titulares. A isso acresce uma dúvida. Estarão os que agora exigem um combate a esse problema acima de suspeitas? Ou, mais uma vez, vamos assistir à tese: olhai para o que dizemos e não para o que fizemos? O governante falava em representa­ção do Chefe de Estado angolano, João Lourenço, na abertura da jornada comemorati­va do 26º aniversári­o da Inspecção Geral da Administra­ção do Estado (IGAE). Frederico Cardoso referiu que o país vive um momento crucial da sua história e que por isso, da Inspecção Geral do Estado exige-se acção na auditoria, no inquérito e na fiscalizaç­ão da actividade dos órgãos, organismos e serviços da administra­ção directa e indirecta do Estado. Frederico Cardoso defende que a IGAE deve coordenar o sistema de controlo interno da administra­ção pública, contribuin­do metodologi­camente para o aperfeiçoa­mento constante da organizaçã­o, do desempenho e da disciplina dos serviços públicos. Segundo o ministro de Estado essa iniciativa constitui um exercício oportuno, porquanto chama a atenção para necessidad­e dos agentes públicos ajustarem os seus actos, as suas práticas, as suas atitudes às exigências das novas circunstân­cias, em que se procura consolidar os pilares do Estado democrátic­o e de direito no país. Referiu também que a legalidade dos actos de gestão, a transparên­cia dos procedimen­tos, a justiça das decisões e o rigor no tratamento dos assuntos públicos constituem princípios dos quais não se deve abdicar. O Chefe da Casa Civil manifestou ainda a sua satisfação pelo facto da organizaçã­o do evento ter promovido uma sessão no seminário de formação para representa­ntes da comunicaçã­o social. Neste quadro, considerou acertada esta medida, já que quanto melhor instruída estiver a classe jornalista sobre o âmbito da actuação da IGAE e dos demais organismos do Estado, menos espaço haverá para a letargia no combate aos fenómenos negativos que afectam a administra­ção pública. A presença dos representa­ntes dos Órgãos de Comunicaçã­o Social deve traduzir-se, diz o ministro, na participaç­ão interessad­a no debate e, sobretudo, permita a construção de uma estratégia dinâmica e inclusiva que se articule o papel e a acção da sociedade, do governo e das demais instâncias chamadas a intervir no desafio que a todos deve unir. A Jornada comemorati­va da IGAE vai decorrer durante três dias com a realização de um seminário com a discussão de temas que vão permitir os participan­tes enquanto integrante­s do sistema de controlo interno, aprimorar conhecimen­tos, de maneira a que estejam a altura dos desafios no futuro. Temas como organizaçã­o do sistema de controlo interno, crimes cometidos por titulares de cargos públicos, abuso de autoridade e excesso de zelo cometidos por titulares de cargos públicos, serão dissertado­s por prelectore­s angolanos durante o seminário. A Inspecção-geral da Administra­ção do Estado (IGAE) é o órgão auxiliar do Titular do Poder Executivo para a inspecção, auditoria, controlo e fiscalizaç­ão da actividade dos órgãos, organismos e serviços da administra­ção directa e indirecta do Estado. A instituiçã­o deve contribuir para o aperfeiçoa­mento constante da organizaçã­o, desempenho e disciplina dos serviços públicos. Exerce igualmente um papel imprescind­ível na disciplina e conscienci­alização dos funcionári­os públicos e agentes administra­tivos do Estado, através da acção preventiva e pedagógica, que desenvolve e transmite conhecimen­tos, orientaçõe­s e boas práticas de gestão ou administra­ção da coisa pública. Recorde-se que um despacho assinado pelo ex-Inspector-geral da IGAE, Joaquim Mande, publicado a 15 de Setembro de 2017, gerou forte polémica e não chegou a ser esclarecid­o publicamen­te. O documento, publicado 11 dias antes da tomada de posse de João Lourenço como Presidente da República, determinav­a que ficavam “arquivados todos os processos da actividade inspectiva desenvolvi­da pela Inspecção Geral da Administra­ção do Estado de 1 de Janeiro de 2013 a 30 de Agosto de 2017”. Em Janeiro de do ano passado, Joaquim Mande garantia que o trabalho da IGAE era desenvolvi­do nos parâmetros legalmente estabeleci­dos e aceite junto dos destinatár­ios. Ao falar à margem de uma palestra alusiva ao 25º aniversári­o da instituiçã­o, as- sinalado no dia 17 de Janeiro, declarou que o trabalho da IGAE era desenvolvi­do sobretudo na perspectiv­a da prevenção e correcção de erros cometidos na actividade administra­tiva dos serviços do Estado. “A instituiçã­o consolidou-se e acumulou experiênci­a de trabalho, que lhe serve de capital. As respostas que temos recebido dão-nos um sinal de que o nosso trabalho tem sido desenvolvi­do nos parâmetros legalmente estabeleci­dos e tem tido aceitação junto dos destinatár­ios”, disse, consideran­do salutar a relação da IGAE com os departamen­tos ministeria­is, para quem as próprias normas de trabalho legalmente estabeleci­das prevêem uma intervençã­o quase repartida. “Nós fazemos a inspecção e depois eles têm um momento em que se pronunciam. Mas aquilo que está bem feito e objectivam­ente espelhado nos nossos relatórios é aceite sem grandes relutância­s”, vincou na altura Joaquim Mande. Nessa altura, Joaquim Mande fez saber que a instituiçã­o tinha grandes desafios, nomeadamen­te a construção de uma sede própria, aperfeiçoa­r o seu estatuto orgânico, aprovação do código de conduta ética dos inspectore­s, a par do recrutamen­to de jovens competente­s para completar o quadro orgânico deste organismo do Estado.

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