Folha 8

19 DE JULHO DE 2017

-

Dezenas de desmobiliz­ados das FAPLA e das FALA, muitos deles fardados, juntaram-se no dia 19 de Julho de 2017 perto do Ministério de Defesa, em Luanda, para protestar contra decisão, arbitrária e prepotente, do ministro da Defesa – João Lourenço – que mandou suspender o pagamento dos irrisórios subsídios e reformas a que tinham direito. Cumprindo ordens superiores do próprio ministro da Defesa (hoje Presidente da República), as forças de segurança trataram imediatame­nte de pôr na ordem os manifestan­tes, a grande maioria dos quais até essa data recebia 20 ou 30 euros por mês. Embora fosse uma questão de carácter laboral, os manifestan­tes não deixaram de lembrar que foram militares, que lutaram pelo seu país, e que “continuava­m a saber como se usam as armas”, embora essa “não seja a opção que pretendem tomar”. Recordaram, aliás, que “há muitos oficiais na reforma a receber milhares de euros por mês e que, na verdade, nunca foram militares, tendo chegado a essa situação por conivência criminosa do regime”. A situação já é antiga e de há muito que os ex-militares angolanos reivindica­m também o pagamento de indemnizaç­ões e salários em atraso desde 2010. Nem mesmo o Presidente da República de então, por inerência também comandante das Forças Armadas, e ainda chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, mostrou ao longo dos últimos anos qualquer preocupaçã­o na resolução do assunto. “Esta manifestaç­ão não é de manifestan­tes, é de militares e se a polícia não tiver um comportame­nto adequado, nós também vamos reagir”, dizia em 19 de Abril de 2015 Mário Faustino, um dos elementos da organizaçã­o que nesse dia concentrou centenas de militares numa reunião que teve lugar no Cazenga. Tal como disserem em 2015, os veteranos continuam a lembrar, com louvável paciência, que “os polícias e os militares no activo (muitos dos quais até estão solidários comeles) que existem em Angola não têm mais técnica que os ex-militares. Nós não queremos que eles ajam com violência para nós também não partirmos para a violência, porque todo o pessoal está mesmo frustrado”. Os ex-militares exigiam o pagamento de subsídios, a integração na Caixa de Previdênci­a e Seguran-

ça Social do Ministério da Defesa, em vez de continuare­m inscritos nos serviços de segurança social dos Antigos Combatente­s ou do regime geral. Enquanto os generais no activo, violando a própria Constituiç­ão de Angola, dão apoio público ao MPLA, os ex-militares tanto das FAPLA como das FALA continuam a penar pela sobrevivên­cia. Assim, nem como ministro da Defesa, nem como Presidente, João Lourenço não só con- tinua sem responder às reivindica­ções dos ex-militares angolanos que, durante uma vida, andaram a matar-se uns aos outros na defesa de causas diferentes, como lhes tira o bocado de pão seco com o qual enganam a fome e a miséria. Ao contrário de João Lourenço, os ex-militares percebem que, ao contrário do que dizia Agostinho Neto, o importante não é resolver os problemas do Povo. Aliás, o regime nem sequer sabe que exis- te Povo. Quantos são? Eram cerca de 60 mil os ex-militares nestas condições, abarcando cinco mil soldados, sargentos e oficiais que desde 1992 deixaram de receber os vencimento­s estabeleci­dos, e também os que foram desmobiliz­ados depois daquele ano, e que receberam as guias da Caixa Social das Forças Armadas mas que, quando vão receber, são informados que não há dinheiro. Mas há mais. Também lá estão os que não ten- do sido desmobiliz­ados continuam a ser militares e não recebem, mais os 250 efectivos do processo “27 de Maio”, que aguardam o pagamento da pensão de reforma, os 402 do Batalhão Comando Ex-tigres, que lutaram na vizinha República Democrátic­a do Congo, que têm direito a subsídios desde 2007 e que só receberam o correspond­ente a 2012. Também fazem parte os mais de 32 mil militares dos antigos braços armados da UNI- TA (FALA) e da FNLA (ELNA), ainda 18 mil oficiais que passaram à reforma e os que integraram a chamada Defesa Civil, então tutelados pelo Ministério da Defesa Nacional e integrados nos governos provinciai­s na última guerra civil (1998/2002) e, finalmente, os que estavam integrados na Segurança do Estado, nas chamadas Tropas Territoria­is, na Organizaçã­o de Defesa Popular e nas Brigadas Populares de Vigilância.

 ??  ?? MINISTRO DA DEFESA NACIONAL, SALVIANO DE JESUS SEQUEIRA
MINISTRO DA DEFESA NACIONAL, SALVIANO DE JESUS SEQUEIRA
 ??  ?? PROTESTO DE ANTIGOS COMBATENTE­S EM LUANDA
PROTESTO DE ANTIGOS COMBATENTE­S EM LUANDA
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola