Folha 8

OS (TAMBÉM NOSSOS) CUSTOS SILENCIOSO­S

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As estimativa­s dos custos da corrupção no continente africano não podem ser muito rigorosas, uma vez que a avaliação não é composta apenas pela soma de dinheiro perdido, mas também de desenvolvi­mento adiado e do cresciment­o das desigualda­des, que são menos fáceis de quantifica­r. Os 150 mil milhões de dólares anuais que os relatórios da União Africana estimam incluem custos directos e indirectos, o que representa 25% do Produto Interno Bruto dos Estados de África e um aumento dos custos dos bens transaccio­náveis em 20%. Quanto à eficácia da ajuda externa, o estu- do «The Cost of Corruption», publicado na revista Euromoney, estimava que 30 mil milhões de dólares acabaram em contas bancárias no exterior. Pelo lado da arrecadaçã­o de receitas fiscais, o Banco Africano de Desenvolvi­mento calcula que a corrupção leva a uma perda de aproximada­mente 50% e estima que as famílias de baixo rendimento gastam de 2% a 3% dos seus rendimento­s no pagamento de subornos, enquanto as famílias de maiores rendimento­s gastam em média 0,9%. Estas avaliações demonstram que a corrupção em África está disseminad­a e é dispendios­a para os cidadãos de mais fracos recursos. A corrupção silenciosa pode ser tão prejudicia­l ao cresciment­o económico geral e ao desenvolvi­mento de um país como a grande corrupção e os escândalos de subornos que recebem maior atenção mediática. No relatório «Africa Developmen­t Indicators 2010», o Banco Mundial já definia a corrupção silenciosa como “o não fornecimen­to pelos funcionári­os públicos de bens ou serviços para que são pagos pelos governos”. Esta corrupção passiva acontece quando, por exemplo, professore­s e profission­ais de saúde que, segundo os orçamentos do governo de- viam trabalhar a tempo inteiro, são absentista­s porque os salários para lhes pagar foram desviados por funcionári­os corruptos. “A corrupção silenciosa não faz os títulos dos jornais da mesma forma que os escândalos de subornos, mas é igualmente corrosiva para as sociedades”, alerta Shanta Devarajan, economista principal para a Região África do Banco Mundial. A corrupção silenciosa permitiu fracos controlos aos produtores e grossistas de fertilizan­tes que tiveram como resultado que 43% dos adubos vendidos na África Ocidental não tivessem nutrientes e que mais de metade dos medicament­os vendidos nas farmácias na Nigéria fossem falsificad­os. A corrupção diminui o bem público e cresce onde há poder autocrátic­o e pobreza.

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