A GRANDE FARSA E A COMÉDIA
Dando como plausível (não custa entrar na farsa) o etílico cenário criado pelo regime, continuamos sem saber se “insurreição”, “desobediência colectiva”, “barricadas” e “queima de pneus” são sinónimo de atentado. Mas siga a comédia. Acrescentava a PGR que confirmados os factos constantes da denúncia pelo SIC e face à sua gravidade, foram emitidos mandados para Buscas, Revistas e Apreensões no local das reuniões, tendo sido encontrado na posse do grupo manuais de instruções e outros documentos, bem como escritos em cadernos com teores comprovativos das suas intenções criminosas. Para ter “cadernos com teores comprovativos das suas intenções criminosas” bastava aos jovens ter na sua posse, por exemplo, a profusa literatura guerrilheira do… MPLA. Acrescentava a PGR que durante as buscas e revistas, foram apreendidos na posse dos detidos, computadores portáteis, pen-drives, telemóveis, entre outros objectos “com conteúdo suspeito”.não con- seguiram, no entanto, encontrar o material bélico – mesmo que antigo – que poderiam consubstanciar um atentado, e que estava escondido nos telemóveis. A saber: 925 Kalashnikov, 423 mísseis Stinguer, 14 órgãos Staline e katyushas e oito tanques Merkava.“de realçar que entre os documentos apreendidos consta a composição de todos os Órgãos do Estado que seriam criados pelos insurrectos, desde o Presidente e o Vice-presidente da República, o Presidente da Assembleia Nacional, os Tribunais Cons- titucional, Supremo, de Contas e Supremo Militar, entre outras instituições do Estado e os governos provinciais”, lia-se no comunicado. Esta constatação revela a veia cómica dos autores da comédia e que, pelos vistos, continuam a escrever anedotas para ilustrar o Executivo de João Lourenço e companhia. Então é crime ter uma relação do que é público, como sejam os titulares dos órgão do Estado? Esta é mesmo digna. Nem o camarada Kim Jong-un se tinha lembrado disso.a nota refere ainda que os “insurrectos” pretendiam denominar os novos órgãos do Estado por “Governo de Salvação Nacional”, tendo já a indicação dos nomes de futuros titulares dos cargos públicos, constando igualmente os nomes de alguns cidadãos ora detidos.agora sim. Façam o favor de se rir. Mas tenham cuidado. É que se calhar o rir é sinónimo de tentativa de golpe de Estado, tal como estacionar perto da casa do vice-presidente Bornito de Sousa é sinónimo de tentativa de homicídio. E chorar também. E estar vivo também.