AMÉLIA DALOMBA REVISITA O INTERIOR POÉTICO
AMÉLIA DALOMBA reúne poesia publicada entre 1995 e 2005, dividida em sete capítulos. Cada capítulo corresponde a uma obra publicada, ao longo daquele período, numa sequência cronológica decrescente. “Senhor Há Poetas no Telhado, publicado em 2015. “Sinal de Mãe nas Estrelas”, publicado em 2008. “Aos Teus Pés Quando Baloiça o Vento”, publicado em 2006. “Noites Ditas à Chuva”, publicado em 2005. “Espigas de Sahel”, publicado em 2004. “Sacrossanto Refúgio”, publicado em 1996. “Ânsia”, publicado em 1995. Francisco Soares, que prefaciou e fará a apresentação da obra diz: “AMÉLIA DALOMBA tem desenvolvido uma vocação poética única no panorama literário da sua geração e, mesmo, no panorama literário angolano. O percurso não é linear (uma progressão em linha recta), nem esférico (ou repetitivo, obsessivo), mas elíptico (evoluindo sem perder identidade). A figura da elipse dá bem conta de um caminho em espiral que tanto se nota, na evolução de livro para livro, quanto na estrutura de muitos dos poemas de cada obra. De maneira que os temas, tópicos, motivos vão sendo retomados mas, de cada vez que repega num deles o seu perfil muda, o tema se relaciona com os tópicos e motivos actuais, construindo um assunto novo, ou reconvertendo, pela vivência presente, um assunto mais antigo. (…) De um para outro livro, intensificou-se a contenção, a densidade e a sugestão, para além de ter apurado o sentido de beleza. Os poemas agradam pela magia, pela metaforização, que surpreende e apraz. Ao mesmo tempo vinculam-se a uma linha crítica incisiva, onde o feminino se afirma cada vez mais e onde a ironia se apura, sem se alhear do presente nem da veemência. Continua também a provocar a sensação de naturalidade com que vive e sofre a sua África e a sua Cabinda, mas também a hu- manidade. A sua visão abre-se igualmente a paisagens externas e é muito significativa a imagem que nos dá de Madrid e do Prado. A enciclopédia cultural e poética está globalizada sem perda de autenticidade, nem do amor encantado feminino (materno até) que pulsa nesses versos”. Outros extractos de comentários à poesia de AMÉLIA DALOMBA - Capítulo “A Teus Pés, Quando Baloiça o Vento”. “Misturam-se os sentimentos, casam-se as palavras e nasce o terno e eterno poema novo de uma mulher que canta a vida, a dor, o amor e a saudade, e encanta o verso com a beleza da sua sensibilidade poética. Maestria de quem sabe estar aos pés do maior e mais belo sentimento, como também, do objecto dos eu amor, é a marca de Amélia Dalomba, que a cada feixo de poesia que nos brinda, enche-nos com a sua ternura , com a sua beleza pessoal, e pelo honesto, belo e fecundo como observa vida, faz-nos sentir e pensar mais e mais sobre como, de facto, a vida é bela e generosa.” (Rogério de Almeida Freitas); - Capítulo “Noites Ditas à Chuva”. “Numa poesia em que, a nível formal, se destaca a estética minimalista, as palavras jogam sedutoramente connosco, mostram-se e escondem-se, convidando-nos a tantas releituras quanto as necessárias para tornarmos também nossa a mensagem do eu lírico. (…) A reflexão sobre o estado da humanidade realiza-se pela palavra poética: substitui-se a palavra imediata e evidente pela palavra dissimulada e metafórica. Recorre-se à arte pictórica como motivo de eternização de uma poética Madrid sangrenta, evocam-se realidades já repre- sentadas para revelar novos males, ou antes, novas actualizações de velhos males, como a fome, a morte, a ira, as situações de injustiça e nível mundial, a incompreensão, o abatimento, a desigualdade abissal de riqueza entre os diversos mundos que constituem (ou que deveriam constituir…) a humanidade.” (Ana Lúcia Sá)
Questionada sobre traços identificadores de uma literatura angolana feminina, Amélia Dalomba considera que “Traços que versam a maternidade, por exemplo, serão um deles. Mas, noutro caso, a paternidade também. Daí considerar que a literatura estritamente feminina poderá ser vista como uma espécie de guetização pouco concordante com o mundo actual, em que a mulher se afirma cada vez mais capaz. A literatura é um espaço de liberdade (ou deveria ser), em que a criação é independente de amarras de qualquer ordem para existir. A literatura é assexuada. Ela é independente do sexo de quem a produz”