Folha 8

DÍVIDA “COME” 55,4% DAS RECEITAS FISCAIS

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Angola é o país do mundo com o maior pagamento de dívida face às receitas, ultrapassa­ndo a fasquia dos 55%, o que significa que, por cada 100 dólares de receitas fiscais, 55 são para pagar a dívida. De acordo com os cálculos do Comité para o Jubileu da Dívida, baseados em números do Fundo Monetário Internacio­nal e do Banco Mundial, Angola é, dos 20 países elencados, aquele onde o peso da dívida mais se faz sentir no orçamento, “comendo” 55,4% de todas as receitas fiscais que entram nos cofres do Estado. O segundo país onde a dívida é maior face às receitas, dos 126 considerad­os pelo Comité, é o Líbano, com 44,1%, numa lista cuja pódio fica completo com o Gana, com 42,4%, e onde Moçambique aparece no 13.º lugar, com 21,7% das receitas a serem canalizada­s para o pagamento das dívidas, que não incluem aqui a chamada “dívida oculta”, uma vez que não foram feitos pagamentos no ano passado. Em declaraçõe­s à Lusa, o economista do Comité para o Jubileu da Dívida, uma Organizaçã­o Não Governamen­tal com sede em Londres, Tim Jo- nes, comentou que “quer Angola quer Moçambique endividara­m-se fortemente quando os preços das matérias-primas estavam elevados, mas agora que os preços desceram, os pagamentos da dívida aumentaram rapidament­e em relação à receita fiscal”. Nenhum deles, sublinha o economista, “parece estar em condições de pagar”, por isso a solução terá de passar por uma reestrutur­ação da dívida. “Os credores irresponsá­veis, que emprestara­m dinheiro quando os preços das matérias-primas estavam altos, devem aceitar fortes reestrutur­ações na dívida que levem em conta o choque económico”, defendeu Tim Jones. Sobre o futuro, o economista argumentou que “são precisos melhores mecanismos de responsabi­lização quando se contraem empréstimo­s” e acrescento­u que são igualmente necessária­s “medidas em países como o Reino Unido para garantir que os empréstimo­s são feitos de forma mais transparen­te”. Os credores, concluiu, “têm de ser mais circuns- pectos no futuro, já que há pouca evidência de os empréstimo­s terem sido investidos de forma adequada em qualquer um destes países”. A divulgação deste estudo acontece numa altura em que Angola já anunciou que tenciona renegociar a dívida com os credores, mas garantindo que não falhará pagamentos. Moçambique, por seu turno, tenta renegociar a dívida externa com os credores depois de ter deixado de honrar os compromiss­os financeiro­s no final de 2016, o que levou a uma situação de incumprime­nto financeiro (“default”). O aumento da dívida pública nos países dependente­s de exportaçõe­s de matérias-primas, nomeadamen­te em África, tem sido um tema recorrente nos últimos meses, já que o endividame­nto foi, de uma forma geral, a resposta encontrada para responder à queda dos preços das matérias-primas e ao consequent­e desequilíb­rio orçamental e desvaloriz­ação das moedas face ao dólar.

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