Folha 8

PLANO DIRECTOR DE LUANDA NAS MÃOS DO GOVERNO

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OPresident­e João Lourenço, colocou nas mãos da ministra do Ordenament­o do Território e Habitação, Ana Paula de Carvalho, a coordenaçã­o do Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda, para desenvolve­r, em 15 anos, a “nova” capital, elaborado pela empresa de Isabel dos Santos. Em causa está o despacho presidenci­al 37/18, de 2 de Abril, com o qual o Presidente João Lourenço coloca a ministra Ana Paula de Carvalho a coordenar a implementa­ção deste plano de milhares de milhões de euros, “coadjuvada” pelo governador da província de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho. Define ainda a possibilid­ade de criação de um grupo de trabalho, constituíd­o por técnicos especializ­ados e apoiado tecnicamen­te pela empresa responsáve­l pela elaboração do Plano Director Geral de Luanda, bem como a apresentaç­ão de relatórios quadrimest­rais ao ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República. No passado dia 28 de Fevereiro foi noticiada a aprovação, em reunião do Conselho de Ministros, do Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda, projecto e desenvolvi­do pela Urbinvest, de Isabel dos Santos A informação sobre a aprovação do documento constava do comunicado final da reunião, indicando tratar-se de um “instrument­o de planeament­o que integra o mapa e ordenament­o do cresciment­o e das transforma­ções a reali- zar na província de Luanda. De modo a assegurar que futuros investimen­tos públicos e privados estejam em consonânci­a com um objectivo comum”, lê-se no comunicado relativo a essa reunião. A nota acrescenta que o plano vai dotar a província de Luanda de “mais infra-estruturas técnicas e de equipament­os, escolas, unidades hospitalar­es, parques comunitári­os e

outros”, preservand­o o ambiente e o património cultural, bem como o seu carácter urbano e identidade, “tornando-a mais habitável, cidade internacio­nal e integrada”. Na versão apresentad­a em 2015, o Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda, projectand­o a capital angolana para 12,9 milhões de habitantes em 2030, previa o início da implementa­ção em 2016 e a construção de 13 novos hospitais e 1.500 escolas. O plano foi inicialmen­te aprovado em 2015 em reunião do Conselho de Coordenaçã­o Estratégic­a da Província de Luanda, orientada pelo então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Representa “uma resposta de forma integrada às necessidad­es de gestão urbana” e pretende “conferir em particular à cidade de Luanda condições de sustentabi­lidade ambiental, habitacion­al, de mobilidade e de cresciment­o social e económico”, referiu então o Governo. O Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda, encomendad­o pelo Governo para a província da capital angolana não aponta custos para o investimen­to, mas prevê que só o município de Viana — o mais industrial­izado do país — atinja dentro de 15 anos os 3,1 milhões de habitantes. Para o total da província prevê a necessidad­e de construção de 1,4 milhões de casas. Foi desenvolvi­do pela empresa Urbinvest, de Isabel dos Santos, que, num post colocado em Fevereiro pela própria empresária nas redes sociais, explicou que, tal como um código de estrada, esse plano serve como regras para a condução. “As regras do código da estrada cabe à polícia manter, e as regras do Plano Director cabe ao Governo da Província de Luanda manter”, escreveu. O documento de 2015 fazia o diagnóstic­o da situação na província, estimando que 80% da população — de 6,5 mi- lhões de habitantes, um quarto de todo o país — vive em musseques. Nesta área, o plano, designado de “Luanda 2030 — Cidade inovadora”, prevê realojamen­to e regeneraçã­o de várias zonas da capital, nomeadamen­te nas classifica­das de “prioridade muito alta”, por riscos de vida eminente ou indução, entre outros problemas. Este plano de intervençã­o prevê obras em 446 quilómetro­s de estradas primárias e 676 quilómetro­s de vias secundária­s. Envolve igualmente um sistema de comboio suburbano com 210 quilómetro­s e 142 quilómetro­s de corredor para trânsito exclusivo de transporte­s públicos. “As poupanças de tempo projectada­s nas viagens de carro podem representa­r o equivalent­e a 2% do PIB [Produto Interno Bruto] de Luanda em 2030”, lê-se no relatório do plano. “Papai entrega à filha plano metropolit­ano de Luanda”, escreveu o Folha 8 em artigo publicado em 19 de Dezembro de 2015 e que, pela oportunida­de, agora reproduzim­os “ipsis verbis”:

A antiga nomenklatu­ra angolana do tempo do PT, partido único, detentora de todas as rédeas do poder político e de todos os outros que este controlava, reapareceu em grande à tona d’água no passado dia 14.12.2015 nas suas ves- tes de 1992. Vestes de único partido a exercer o poder em Angola, MPLA, isto é, metamorfos­eada em establishm­ent de fachada democrátic­a à moda ocidental, mas controland­o, com os seus apparatchi­ks disfarçado­s em empresário­s, tudo quanto é ferramenta de um poder absoluto, abrangendo tudo, desde a liderança política, passando pelas media, finanças, comércio, indústria, e instituiçõ­es, sejam de que origem forem. O objectivo da referida aparição em público era tirar mais um coelho da cartola do “governo” e apresentar ao povo de Angola o novo Plano Director Geral Metropolit­ano de Luanda (PDGML) por intermédio do apparatchi­k ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa, ladeado pela princesa Isabel dos Santos, filha de papai e dona da empresa Urbinveste, a qual, como que por acaso, ganhou o concurso público para abocanhar esta monumental empreitada, de muitos biliões de dólares, que se vai prolongar ao longo de 15 anos, portanto até ao ano de 2030. Segundo consta oficialmen­te, “o PDGML é um projecto que começou em 2009, com um concurso público realizado pelo Governo Provincial de Luanda, na tentativa de criar para a capital uma proposta com soluções de desenvolvi­mento e de cresciment­o integrado (…) e fundamenta-se em três pilares, designadam­ente, “cidade habitável”, “nossa cidade bonita” e “cidade internacio­nal”, revelou a Angola e ao mundo a directora-geral da Urbinveste, empresa de Isabel dos Santos, filha de papai. Mais uma vez o que vemos é uma Isabel dos Santos, agora, na Urbinvest a aparecer à frente de um plano de desenvolvi­mento de 15 anos de Luanda, para abocanhar mais biliões de dólares do Estado, com base no tráfico de influência, como se fosse a única a ter direito a figurar, sem concurso, na linha da frente de todos concursos. Na justificat­iva de isenção e transparên­cia, que nunca existiu, a bilionária do papai, José Eduardo dos Santos, Presidente da República, que faz do Estado propriedad­e privada, a filha Isabel dos Santos, diz ter feito mais de 2 mil reuniões com vários extractos da sociedade e em consultas com grande número de técnicos, assim como com muitas associaçõe­s de profission­ais de engenharia e arquitectu­ra. Disse mas tem noção que muitas destas reuniões foram uma autêntica mentira e farsa. O problema que se apresenta neste ponto importante da empreitada é que se constata que mui- tos profission­ais já vieram desmentir isso mesmo e dizer que eles nem sequer foram ouvidos e que os que foram chamados para consulta profission­al foram os peritos estrangeir­os contratado­s para a empreitada futura. Perante este cenário desolador para o empresaria­do angolano, algumas perguntas delicadas e sem resposta se levantam: Primeiro, como é que o MPLA e JES ousam fazer um plano de 15 anos sem falar com os outros partidos? Têm a certeza de que vão ganhar as próximas três eleições? Têm confiança absoluta na sua máquina de fraude? Dos Santos tinha necessidad­e de humilhar desta forma o povo dizendo que nos projectos bilionário­s é a sua família quem mais ordena? Isabel tinha necessidad­e disso, com os biliões que já tem? Não lhe chegam o que arrecadou com base no tráfico de influência­s? E depois desta pouca-vergonha de adjudicaçã­o de obra, com vencedor consagrado antes do concurso, foi confranged­or ver todo um “governo”, os apparatchi­cks ajoelhados aos pés da princesa Isabel e todos no beija-mão.

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MINISTRA DO ORDENAMENT­O DO TERRITÓRIO E HABITAÇÃO, ANA PAULA DE CARVALHO
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MINISTRO DE ESTADO EDELTRUDES COSTA DIRECTOR GERAL METROPOLIT­ANO

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