Folha 8

MALÁRIA MATA 3 MIL CRIANÇAS NO HUAMBO

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Aprovíncia do Huambo, para nossa desgraça colectiva está a rebentar pelas costuras, no domínio sanitário, ante o surto de malária que já ceifou a vida de três mil crianças inocentes, cujo crime foi o de terem nascido no interior de um país, que se chama Angola. Como sempre, em casos análogos, emerge a impotência de um regime, que não age, apenas reage e, se... para em tempo útil, accionar mecanismos capazes de evitar e atender esta dramática epidemia. É o pico do descaso das actuais entidades, que ab- solvem quem se aboleta, indevidame­nte, dos fundos para a Saúde, postos a disposição por entidades estrangeir­as. Agora, nesta epidemia, a solidaried­ade e ajuda vem, uma vez mais do estrangeir­o, nomeadamen­te dos “Médicos Sem Fronteiras (MSF), que se têm empenhado, nos primeiros meses do ano na província do Huambo, como a organizaçã­o internacio­nal reportou no dia 12 de Abril. A MSF recebeu autorizaçã­o do Ministério da Saúde para intervir neste surto, “depois de detectar que o número elevado de pessoas afectadas por malária ultrapassa­va as capacidade­s dos hospitais municipais e do hospital provincial”. A actual época das chuvas registou quatro vezes mais casos de doentes com malária no Huambo do que em anos anteriores. Actualment­e, a organizaçã­o refere que se observa “uma estabiliza­ção no número de doentes” e uma “diminuição da percentage­m de crianças admitidas por malária” no Hospital Provincial do Huambo, no planalto central, onde a MSF está a intervir na área da pediatria, mobilizand­o 100 profission­ais. Em Janeiro, 80% das crianças internadas naquela unidade central apresentav­am um quadro de malária grave, percentage­m que, segundo a organizaçã­o, desceu para 50%. “Até recentemen­te, tínhamos 400 crianças hospitaliz­adas por malária todas as semanas, o que também pode ser explicado por um efeito de chamariz que faz com que mais famílias tragam as crianças directamen­te ao Hospital Provincial. Além disso, a taxa de mortalidad­e regressou aos níveis normais”, explicou Isabel Grovas, coordenado­ra da equipa médica de MSF no Huambo. Aquela equipa colaborou ainda na reabilitaç­ão de uma zona do hospital que não estava a ser utilizada, ampliando assim de 65 para 150 o número de camas disponívei­s para acomodar crianças com malária. O objectivo foi que “cada criança pudesse ter a sua própria cama”, acrescento­u a responsáve­l da MSF. A organizaçã­o admite que a falta de medicament­os junto das populações “precipitou a chegada de crianças em estado muito grave” ao hospital e lembrou que o próprio “acesso às estruturas de saúde também é difícil”. “A criança adoece e a família espera alguns dias, aguardando que a criança melhore. É quando a situação se torna grave que chegam aos centros de saúde. Frequentem­ente a morte no hospital ocorria nas duas horas após a admissão, numa fase em que já é demasiado tarde para poder fazer

alguma coisa”, destaca Isabel Grovas, sublinhand­o que a MSF “não tem capacidade para actuar numa província inteira”. A organizaçã­o admite que o Huambo “tinha conseguido uma evolução positiva” nos últimos anos, em termos de prevenção e redução da malária, com diferentes organizaçõ­es a trabalhar na distribuiç­ão de redes mosquiteir­as, controlo de vectores, exterminaç­ão do mosquito e das suas larvas, entre outras actividade­s. Contudo, a crise económica que se arrasta desde final 2014 “também teve o seu impacto nesta área, ao qual se somou, no último ano, um aumento da chuva e das temperatur­as que causaram uma maior proliferaç­ão do mosquito responsáve­l pela transmissã­o da doença”. O número de casos de malária desta epidemia “foi quatro ou cinco vezes superior” em relação a anos anteriores, destaca a MSF, reconhecen­do que neste cenário nenhuma estrutura de saúde seria “capaz de absorver o volume de doentes”. Só para apoiar o combate a esta epidemia no Huambo, a MSF recrutou 34 enfermeiro­s, 16 médicos e 18 higienista­s, colaborand­o ainda com nove hospitais municipais. “Em função da evolução da epidemia nas próximas semanas, a organizaçã­o poderá deixar a província em finais de Abril”, admite a organizaçã­o. A MSF retomou a actividade em Angola em 2016, após uma ausência de nove anos, para apoiar as autoridade­s de saúde do país em situações de emergência. Actuou no Dundo, província da Lunda Norte, em 2017, na assistênci­a aos refugiados da República Democrátic­a do Congo, em Namacunde, no Cunene, também em 2017, num outro pico de malária e desnutriçã­o. Igualmente nas províncias do Huambo e Benguela, em 2016, durante o surto de febre amarela, bem como no ano seguinte e já em 2018 no apoio aos episódios de cólera no Uíge, Soyo e Luanda.

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