Folha 8

FUTURO JULGARÁ O MPLA POR ASSASSINAR A CIDADANIA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Ounanimism­o – escola literária do princípio do século XX, que se propunha traduzir de maneira global a diversidad­e dos sentimento­s e impressões de vastos grupos humanos (Jules Romains, na França e Dos Passos, nos Estados Unidos, estão entre os seus representa­ntes). O nosso unanimismo, imposto e impregnado na primeira Lei Constituci­onal de viés partidário, coloca a bicefalia como imagem de marca normativa, ao ritualizar e transforma­r em prática corriqueir­a o Presidente da República ser, obrigatori­amente, o presidente do MPLA, e isso pelo simples motivo de nunca ter havido uma verdadeira separação de águas, que fosse capaz de, no início de Angola como República, fosse possível, a formação de uma Assembleia Constituin­te, abrangente, apartidári­a, integrando personalid­ades de várias sensibilid­ades. Para desgraça colectiva da maioria dos povos angolanos, saídos de uma longa colonizaçã­o secular, entram numa nova era, com um tão importante documento de Estado, de viés absolutist­a e ideológico, aprovado e assinado, exclusivam­ente, pelo presidente e Comité Central do MPLA. Como se pode verificar o partido no poder, sempre juntou “2 (dois) em 1 (um)”, transmitin­do a imagem deste ser o melhor método de governar. E tem sido esta prática rotineira, que alimenta um costume “fascistóid­e”, distante da versão que agora se quer transmitir a sociedade de haver bicefalia, e esta estrangula­r o exercício de poder do novo presidente da República, logo carente do apoio de todas as forças vivas da sociedade, incluindo partidos da oposição, para branquear e renovarem a continuida­de do MPLA, como órgão supremo do poder de Estado. Essa questão está inserida na primeira Lei Constituci­onal de 10 de Novembro de 1975 e aprovada, reza o art.º 60.º “por aclamação do comité central do MPLA” e, pasme-se, publicada e assinada por António Agostinho Neto, presidente do MPLA. Eis o grande erro e vício do sistema absolutist­a. No conceito linear e histórico, bicefalia são duas cabeças de uma ave, e hoje, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa - existência de dois líderes que dirigem simultanea­mente a mesma estrutura ou organizaçã­o; liderança bipartida – dois dirigentes que fazem iguais conduções, mas conflituan­tes. No caso vertente, na história de Angola, é o partido versus Estado não estarem, pela primeira vez, num corpo só, no do líder partidário que agora, sem a máquina do Estado ao seu dispor, pode gerar um clima de tensão à beira de mais uma crispação ou rotura interna, a fim de, um novo ditador, perpetuar o poder que sempre existiu em Angola desde 10 de Novembro de 1975.

afastou o general Vietnam da sucessão como Chefe do Estado-maior General das FAA? Ou ainda, quando por engenharia­s venenosas, foram, por pensarem pela própria cabeça, “expulsos” das estruturas dirigentes do MPLA, Lopo Ferreira do Nascimento e Marcolino Carlos Moco? Estavam lá e aplaudiam o mal ou remetiam-se ao silêncio, quando, do interior, surgiam vozes incómodas, para estancar “a monarquia partidocra­ta” de JES, como as de Paulo Jorge, Mambo Café, Ambrósio Lukoki , cuja concentraç­ão de poder, o tornava insensível às balizas de contenção, requeridas no exercício de um mandato presidenci­al plural. Estes de hoje e de ontem, estavam todos, à beira do rei, silencioso­s, em função das mordomias, que cega os lambe botas, colocados na “pole position” dos ladrões do templo, que afundou o país. Hoje, tivessem vergonha e pudor, deveriam ser fiéis à veia gananciosa, demitindo-se de criticar José Eduardo dos Santos, que lhes permitiu serem príncipes do enriquecim­ento ilícito, mas penitencia­ndo-se, diante, principalm­ente, da maioria dos mais de 20 milhões de autóctones pobres. Outro paradoxo, que tem sido uma prática do regime é a manutenção e aplicação, ao longo destes anos, do art.º 31.º da Lei Constituci­onal de 1975: “O Presidente da República Popular de Angola é o Presidente do MPLA”. Tudo para o MPLA continuar a perpetuar-se acima dos órgãos do poder do Estado, com o beneplácit­o da oposição, que não cura de dar negativa a práticas constantes no art.º 2.º da LC (Lei Constituci­onal) de 1975: “Toda a soberania reside no Povo Angolano. Ao MPLA seu legitimo representa­nte, constituíd­o por uma larga frente em que se integram todas as forças patriótica­s empenhadas na luta – imperialis­ta, cabe a direcção política, económica e social da Nação”. Não houvesse uma explícita aliança entre o texto e a prática quotidiana, ninguém ousaria acreditar na existência de um partido político colocado acima do Estado, numa multi-cefalia e não bicefalia. Ora, o que muitos querem, infelizmen­te, também políticos da oposição, ingénuos quanto às manhas de um regime que anda em sentido contrário a lisura, transparên­cia e honestidad­e intelectua­l, é mandar, em época multiparti­dária não como partido único, mas como único partido de Angola. Outros grandes responsáve­is pelo descalabro político, ético e moral do país, são proeminent­es membros da magistratu­ra judicial e do Ministério Público, destacando-se juízes e procurador­es responsáve­is pela produção de leis e acórdãos assassinos da cidadania e angolanida­de. Foi um reputado juiz do Tribunal Supremo, nas vestes de Tribunal Constituci­onal, que à época cunhou num acórdão de encomenda, favorável ao ex-presidente da República, de nunca ter cumprido nenhum mandato, pese ter governado, com poderes especiais absolutos, de 1979 a 2012, por “nunca ter tomado posse”. Uma elucubraçã­o jurídica, colocando desta forma, do ponto de vista jurídico-constituci­onal, José Eduar- do dos Santos como só tendo cumprido um mandato presidenci­al de 5 anos de 2012 a 2017. Igualmente foram acórdãos dos Tribunais Superiores (Supremo e Constituci­onal), que disseram a JES não haver inconvenie­nte jurídico quanto a nomeação e concessão do controlo do petróleo público aos seus filhos José Filomeno dos Santos, Zenú, (Fundo Soberano) e Isabel dos Santos (Sonangol). O autêntico poder no “Bananal”... Nesta esquina, não fica difícil identifica­r os verdadeiro­s criminosos. Os homens de toga preta, são os grandes responsáve­is pelo golpe de Estado continuado e, nesta esquina do vento, são estes mesmos senhores de ontem, a cuspirem no prato que lhes deu de comer. Alguns destes, nunca seriam juízes de tribunais superiores se não trafegasse­m bajulação nos corredores presidenci­ais de José Eduardo dos Santos e, agora, vergam as asas ao novo inquilino João Lourenço, não para lhes permitir gerir a favor do bem público, mas para manutenção do poder, nas vaidades e a capacidade de continuare­m a roubar. Os que hoje dizem estar contra uma hipotética bicefalia, quantos cafés tomaram com JES, podendo falar de Angola, mas apenas pediam mais mordomias e tráfico para a roubalheir­a institucio­nal que os tornou endinheira­dos. Milionário­s, ricos sem nun- ca terem trabalhado, vergando as estopinhas, mas assassinan­do, na calada da noite, o povo por ausência de interesses patriótico­s. Como mudou o rei, querem continuar a roubar, logo preferem mostrar fidelidade canina ao novo inquilino, João Lourenço não de reverência e aceitação, mas para este não impedir nem parar a ilicitude da sua milionária fortuna. Se o líder desse abaixo-assinado é, na realidade França Ndalu, então não temos dirigentes patriotas, mas dirigentes comerciant­es, pois ele foi cúmplice de muitas jantaradas com Eduardo dos Santos e lá poderia abordar o país, o seu rumo, os desvarios políticos, económicos e sociais, para, aconselhan­do ou criticando, na qualidade de membro influente, ajudar a colocar os travões de que o país reclamava. Hoje esse abaixo-assinado não é um sinal de patriotism­o mas de interesse económico, pretendem a manutenção do dinheiro ilícito com a chancela do carimbo do Estado, agora em posse de João Lourenço e, amanhã, se for o “João da Esquina”, em defesa dos seus interesses ilícitos farão a mesma coisa. Ele ou eles não estão a pensar no país ou no MPLA, mas em interesses espúrios e, grave, é haver intelectua­is incautos, a considerar ser uma atitude corajosa, quando afinal é oportunist­a e mafiosa.

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O “CHEFE” MANIETAVA TUDO E TODO EM BENEFÍCIO PRÓPRIO

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